ATENÇÃO PARA SPOILERS DA SÉRIE A SEGUIR!
Quem acompanhou The Night Of do começo ao fim sabe que a série da HBO nunca nos prometeu um final feliz, ou alguma certeza. Amargamente realista como sempre foi, a trama criminal nos mostrou as opressões do sistema carcerário, policial e judicial com maestria tremenda, mergulhando seus personagens em universos que os levavam a assumir identidades e práticas que não estão em sua natureza.
O veredito de Naz pode ter sido “inocente” graças ao júri, mas The Night Of sabe que a sociedade nunca vai deixar de vê-lo como culpado.
Isso mesmo: no final do último episódio do primeiro ano de The Night Of, intitulado “The Call of the Wild” (1×08), Naz foi inocentado baseado nos muitos outros suspeitos apresentados por seus advogados de defesa, na sombra de dúvida que Chandra e John Stone colocaram sobre a investigação liderada pelo Detetive Box, e na força do argumento de Stone em suas considerações finais – em uma cena que, em um mundo justo, renderia imediatamente o Emmy 2017 para John Turturro.
O veredito não aconteceu antes de alguns eventos finais, no entanto: após dividirem um fatídico beijo, Chandra e Naz também não acabaram em boas águas – temendo sua condenação, Naz aceitou o conselho de John Stone e contou sobre o beijo para o juiz, a fim de que o julgamento fosse cancelado. Não funcionou, mas a reputação de Chandra ficou manchada para sempre, com a chefe Allison demitindo-a e a jovem advogada provavelmente enfrentando uma agoniante auditoria do conselho de ética da ordem dos advogados americana.
Box e Weiss
Também com sua parcela de culpa pela forma como conduziu a investigação, o Detetive Box resolveu adiar sua aposentadoria e continuar trabalhando no caso, perseguindo pistas que havia deixado para trás na primeira vez. O que ele encontra é um novo suspeito: Raymond Halle, o conselheiro financeiro que deu à John Stone todas as pistas das quais ele precisava para ir atrás do padrasto trapaceiro de Andrea – o que Halle não mencionou foi que ele e Andrea tinham um relacionamento, e ela tinha acabado de discutir com ele em um bar antes de entrar no táxi de Naz no dia de sua morte.
Quem não ficou tão feliz com o novo suspeito foi a promotora Weiss, que decidiu manter a informação escondida do juiz e seguir com julgamento independentemente, ainda tentando condenar Naz. O cinismo no qual a decisão está envolvida (Weiss prefere continuar um julgamento em que acredita ter “tudo para vencer” do que buscar um novo suspeito) é típico de The Night Of e chocante ao mesmo tempo – é só quando perde o julgamento de Naz, e o jovem sai livre, que Weiss aceita ajudar Box a juntar provas contra Raymond Halle.
Com Naz fora da cadeia, mas nossas dúvidas sobre sua culpa ou inocência tão praticamente vivas quanto sempre estiveram, ele ainda precisa enfrentar um mundo que o considerará culpado pelo resto da vida. Embora tente dizê-lo que nunca duvidou de sua inocência, sabemos que a própria mãe de Naz continua se perguntando se criou um monstro – os únicos amigos de Naz agora são John Stone, seu pai e, ironia das ironias, Freddy. Assim como as tatuagens (e o vício em drogas) que conseguiu durante sua época na prisão, as marcas desse julgamento em praça pública continuarão com Naz para a vida toda – como bem disse John Stone: é melhor adotar um gato e aceitar, porque o sistema não vai mudar por você.