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Olhar Geek #12 | Comic-Con 2016 foi pouca conversa e muita ação

Bem-vindos de volta à Olhar Geek. A Comic-Con 2016 acabou, e foi quase injustamente divertida para todo mundo. Isso inclui o pessoal que foi até San Diego ver os painéis, os pobres mortais que ficaram em casa acompanhando as novidades e até a gente, jornalistas, que teve o prazer de noticiar cada uma delas para vocês. Mas sim, acabou. Comic-Con de novo, só em de julho de 2017, conforme anunciado ontem (25) pela organizadora do evento.

Na semana passada (como você pode ver aqui), colocamos na coluna alguns pontos que achamos serem fundamentais para entender a Comic-Con 2016 em termos de preparação. Agora que tudo passou, vale refletir de que formas essas nossas expectativas foram cumpridas ou frustradas, e qual é o saldo completo dessa loucura toda. A maior orgia de prazeres da cultura pop mundial, para nós, pode ser resumida em dois “confrontos” muito claros, mas queremos esclarecer algumas coisas sobre eles antes de mergulharmos em cada um de verdade.

Confira tudo o que rolou na Comic-Con 2016

A organização das nossas reflexões sobre o assunto em dois “confrontos” não significa que vemos a Comic-Con como um campo de batalha entre marcas – é um evento para fãs que naturalmente inflama as paixões de todos eles, e o dispositivo de dividir os numerosos acontecimentos da convenção nessas duas categorias básicas é apenas uma forma de refletir as relações entre franquias, marcas e lançamentos, e o que eles significaram para a cultura pop.

A missão expressa da Olhar Geek é a de refletir sobre o mundo que encontra seu momento de maior êxtase do ano na Comic-Con. A intenção nunca é, nunca foi, nem nunca será, dividir fãs e nerds entre “facções” que se confrontam – há espaço, como a própria Comic-Con mostrou, para todos brilharem, e fazerem a diferença (para o melhor, como esperamos) na vida do fã. É uma época maravilhosa para ser nerd quando Hollywood começa a reconhecer suas demandas de forma generalizada e proliferada, então não vamos estragar esse momento com briguinhas de editoras, séries ou filmes – nem aqui no texto e, se possível, nem nos comentários.

Vamos aproveitar esse espaço para parar, pensar, e aumentar ainda mais a ansiedade para todas as possibilidades maravilhosas que se estendem a nossa frente.

Marvel vs DC
Marvel vs DC

Marvel vs DC?

Nós já falamos um pouco do que cada uma das editoras trouxe à Comic-Con 2016 em um artigo separado (leia aqui), mas vale abordar de novo a forma como ambas largamente dominaram a convenção, seja nos sites de notícias ou na quantidade de cosplayers presentes no evento. O Hall H lotadíssimo assistiu à apresentação da Warner Bros, que começou desfilando novidades da DC Filmes com Mulher-Maravilha, Esquadrão Suicida e, a grande surpresa, Liga da Justiça.

Muito se disse sobre o fato da DC lançar seus trailers e clipes on-line imediatamente depois de sua exibição, enquanto a Marvel guardou para si vários deles. O diretor James Gunn, de Guardiões da Galáxia Vol. 2, respondeu que a Marvel não quis lançar on-line, para o mundo todo, clipes não-finalizados, com efeitos especiais ainda pouco sofisticados; nem mesmo no caso do seu próprio filme, que terminou de filmar recentemente (em contraste, Liga da Justiça segue em produção e já teve prévia liberada).

O caso dos teasers liberados ou guardados é uma questão interessante para pensar o significado da Comic-Con em pleno 2016, quando filmes são dissecados antes de seu lançamento no nível em que Esquadrão Suicida está sendo. Com tantos clipes, comerciais, artes promocionais, informações, teasers e trailers, será que vai ter muito filme sobrando para ver no dia 4 de agosto, quando ele chegar no cinema? Já sabemos muito sobre Esquadrão Suicida antes de sua estreia, em contraste com o que sabemos de Doutor Estranho, que chega apenas alguns meses depois.

Nova foto da Liga da Justiça
Nova foto da Liga da Justiça

A ideia aqui não é defender a estratégia da Marvel, mas sim pensar o que significa para as produtoras (e para os fãs!) viver em uma era na qual o material promocional está disponível para todo mundo instantaneamente. Para quê um evento como a Comic-Con conta nessa era? A experiência dos fãs que estavam presentes sem dúvida foi mais especial, com a presença do elenco e o senso de comunidade que existe em compartilhar aquele momento e aquela paixão. É claro que tudo isso não se diminui pelo fato das imagens estarem disponíveis minutos depois on-line – estar lá ainda é melhor que ver, em todos os sentidos, e a experiência em uma tela nunca vai ser como a experiência presencial.

Tudo isso, no entanto, é para os fãs. E para os estúdios? Trata-se apenas de um momento concentrado em que as câmeras estão viradas para eles, irrevogavelmente, e portanto é a melhor hora para se promover? O ambiente on-line é parte tão integral da estratégia de publicidade dos estúdios hoje em dia que a abordagem mais paciente da Marvel começou a parecer irritante para alguns – mas essa sempre foi a forma como a Marvel tocou o barco. Seus personagens são introduzidos aos poucos, seu universo construído, tematizado e elaborado com cuidado e gradação impecáveis.

A Marvel anunciou pequenas coisas que se transformarão em grandes momentos da cultura pop no futuro, enquanto a DC gritou para o mundo o quão enormes são as coisas que estão por vir nos filmes de sua autoria. Nenhuma das abordagens é errada, no cinema ou na TV (vale notar que a Marvel televisiva soltou mais prévias on-line, e fez mais barulho, do que a própria DC), mas é interessante ver como esse conflito reflete de maneira exemplar o momento que estamos vivendo na história do cinema e da tecnologia.

TV vs Cinema?

No vídeo aí em cima, você vê os principais trailers lançados na Comic-Con 2016. Com algumas notáveis exceções (leia-se: The Flash, Arrow, séries de TV da Marvel), esse é um bom resumo do conteúdo inédito lançado pelos estúdios por lá. Quando falamos da Comic-Con na terça feira passada, notamos como os painéis de TV assumiram o protagonismo dos de cinema, com as emissoras aparecendo em maior número e em eventos mais aguardados (com a exceção dos painéis da Marvel Studios e da WB, que discutimos ali em cima). Anúncios de séries abundaram nessa Comic-Con, tanto nas marcas mais festejadas pelos fãs quanto nos lugares mais improváveis.

Orphan Black tomou o protagonismo por ser seu último ano presente no evento, assim como The Vampire Diaries, que anunciou o final durante o painel. Game of Thrones causou o furor de sempre, com um belíssimo teaser de antecipação à ainda longínqua sétima temporada e um hilário vídeo de erros de gravação da sexta. The Walking Dead e sua “filiada”, Fear the Walking Dead, brilharam tanto quanto a outra série do autor Robert Kirkman, Outcast. Preacher, a estreante Dirk Gently’s Holistic Detective Agency e a veterana Supernatural tomaram fatias grandes da atenção da imprensa.

Além disso, é claro, a Marvel e a DC também arrasaram no campo da TV, com trailers de The Flash, Arrow e anúncios empolgantes de Legends of Tomorrow e Gotham da parte da DC; e trailers de Legion, Luke Cage, Punho de Ferro e Os Defensores na parte da Marvel, além do anúncio da chegada do Motoqueiro Fantasma no universo da emissora.

https://www.youtube.com/watch?v=5LGQRbPERaU

Greg Berlanti e Jeph Loeb certamente tiveram bons momentos na Comic-Con 2016, mostrando que a força da cultura pop hoje em dia vive na tela pequena tanto quanto (senão mais que) na tela grande.

Enquanto isso, fora do eixo dos super-heróis, poucos filmes fizeram barulho no evento. Valerian, de Luc Besson, e Snowden, de Oliver Stone, tiveram seus momentos; a Warner ainda impressionou com Kong: Skull Island, Animais Fantásticos e Onde Habitam e Rei Arthur: A Lenda da Espada; a Disney trouxe rarefeitas novidades de Moana; e as conversas em torno da franquia Alien foram mornas, no máximo. Como que reconhecendo a dominação dos gigantes da cultura nerd, a maioria dos estúdios ficou de fora ou apareceu timidamente na Comic-Con 2016.

É inegável que a era da “televisão demais” trouxe uma Comic-Con concentrada nas produções dessa mídia, e a Warner talvez tenha sido a única que achou uma forma de levantar a voz acima dessa balbúrdia, mostrando que a produção cinematográfica ainda tem o poder de fascinar e enfeitiçar as pessoas. Um novo Rei Arthur, um novo King Kong, um novo Harry Potter – a Comic-Con 2016 foi largamente sobre ideias recicladas e adaptadas, como é a Hollywood de hoje, mas isso não significa que ela foi monótona. Ao contrário disso, mostrou a força e o valor que essas histórias trazem para tanta gente. Ano que vem tem mais.

https://www.youtube.com/watch?v=Ymw5uvViqPU

A Olhar Geek retorna na próxima terça-feira, 2 de agosto.

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