Algo se passa com as duas principais séries da DC. No episódio de estreia da atual temporada de The Flash, foi contabilizada uma audiência, nos Estados Unidos, de 3,1 milhões de pessoas. O número fica abaixo dos 3,6 milhões que assistiram ao retorno da temporada anterior. Mais do que isso, Arrow, a primeira produção da DC neste formato, marcou, na última semana de janeiro, um público de 1,68 milhões de pessoas no episódio de retorno da quinta temporada, tonando-se assim o segundo episódio menos assistido da produção.
A queda de audiência pode ser considerada, sim, algo preocupante, ainda que em longo prazo. Não estamos falando de quaisquer séries. Estamos falando dos carros chefe do Universo Compartilhado da DC Comics na CW, um dos pilares da DC fora dos quadrinhos físicos.
É difícil, mesmo assim, apontar o dedo categoricamente para a DC. Há erros, sim, como em quaisquer outras produtoras ou séries, mas não há como dizer que tais consequências nas audiências são frutos de descaso ou falta de esmero e atenção. É quase como se a DC estivesse aprendendo com erros passados, e isso é louvável.
Precisamos considerar, portanto, os anos de experiência. O Universo Compartilhado da DC Comics na CW – ou o Universo Arrow – é, em questão de tempo, um ano mais velho do que o tempo que a Marvel, sua principal “concorrente”, iniciou os trabalhos com seriados. Enquanto o Universo Arrow é estreado em 2012 com a série de mesmo nome, a Marvel lança Agentes da SHIELD 12 meses depois. Era de se esperar, portanto, que seguisse sendo um modelo e como se fazer séries de super-heróis.
E, de fato, foi. Mas, ainda assim, o tempo de dedicação da DC nos seus Universos Estendidos, somando séries e filmes, é visivelmente menor que os anos em que a Marvel se dedicou fazendo o mesmo – e (sem querer entrar no mérito da briga sem causa entre Marvel vs DC), por mais que esta segunda tenha iniciado suas séries um ano depois, acabou adquirindo conhecimento, prática e aprendendo com os erros do cinema.
A DC sempre teve o mau costume de se perder em seus enredos. Nos tempos de hoje, é muito ais fácil causar deslumbramento com os recursos de pós-produção, como os efeitos especiais, do que com a narrativa em si. Esse foi o erro de Esquadrão Suicida, por exemplo: um filme visualmente lindo, digno ao Oscar de Melhor Maquiagem, mas confuso e mal construído. E é exatamente isso o que começou a acontecer com Arrow e The Flash.
Com duas grandes temporadas iniciais, Arrow começou a se perder em algum ponto entre a terceira e quarta temporadas, só para notamos agora uma visível tentativa de melhora. As lutas estão mais bem coreografadas, sem aquele tom de “luta de brincadeirinha”. Também foi deixada de lado a busca incessante e cansativa de um único vilão através de todos os episódios da temporada.
Esse formato falho foi tomado por dois longos anos. É difícil provar, agora, que a séries está novamente entrando nos prumos, fazendo as pessoas voltarem a assistir. E, de fato, alguns erros ainda permanecem, como os diálogos fracos de Thea, Diggle e Felicity com Oliver – além de não conseguirmos sentir nenhum interesse realmente genuíno por esses três personagens.
Arrow | Oliver e Talia al Ghul se encontram em fotos do novo episódio
Já The Flash falha pela escassez. O tão aguardado Flashpoint, que nos fez esperar ansiosamente desde a segunda temporada, se mostrou um fenômeno rápido e superficial, levemente decepcionante. Sem a grandiosidade que merecia. E, por isso mesmo, The Flash acaba caindo no dilema de Arrow: uma série boa, que perde o rumo e, juntamente com ele, a audiência.
Arrow e The Flash, bem como Supergirl e Legends of Tomorrow já foram confirmados para mais uma temporada. Assim, a queda de audiência, hoje, talvez não faça tanta diferença tendo em vista tal confirmação. Ainda assim, é um aviso e tanto. A DC está aprendendo lições, como todos no mundo da TV (todos: produtoras, produtores, diretores, etc), e deve, desde já, repensar diversas atitudes.
Desenvolver Universos Estendidos são tarefas complicadas e que demandam tempo. E tudo bem se a DC agora não for “tudo isso”. Basta apenas focar nos roteiros, nos diálogos mais bem construídos. Numa história que não se perca dos trilhos e que não nos obrigue a perseguir um único vilão por vinte e poucos capítulos. E, talvez a missão mais importante da empresa nesse momento, seja descobrir uma maneira de mostrar ao espectador que sim, Arrow está muito melhor do que as temporadas três e quatro, e que The Flash está caminhando para a mesma estabilidade – porque, depois desses erros, fica difícil pedir para a audiência subir como em um passe de mágica. Afinal de contas, tudo o que queremos é que tudo volte à normalidade, para que essas séries sejam renovadas para muito mais tempo além de só mais um ano.