Críticas

Crítica | Pai em Dose Dupla 2

Está aberta a temporada de filmes natalinos, dezembro chega e não é só os shoppings que se enchem de luzinhas e árvores de Natal, o cinema também é tomado por uma série de filmes com a temática, utilizando-se o famoso feriado como premissa cômica das mais variadas formas. É justamente isso que faz Pai em Dose Dupla 2, colocando os seus personagens nessa situação natalina.

Nesse sentido, o longa lembra muito um daqueles especiais de natais de alguma série televisiva, utilizando todo esse clima para colocar seus personagens numa cômica situação. Na televisão, esses episódios serviam para dar uma arejada naquilo que se via diariamente, se as desventuras de shows humorísticos já eram interessante, no natal elas ganhavam esse tom de uma narrativa especial, muitas vezes mais longa tendo a necessidade até mesmo do episódio ser dividido em dois. Pai em Dose Dupla 2 utiliza a data para enxertar aquela narrativa, dando espaço para um segundo filme.

Diferente de uma série de televisão, em que a relação do espectador com os personagens numa situação dessa é imaginar aquelas figuras num momento que todo mundo passa, aqui esse aspecto natalino vem antes de tudo, como se o espectador fosse conectado em primeiro lugar por essa data especial. Se por um lado isso faz com que qualquer um possa acompanhar aquela desventura – sem necessariamente ter assistido ao primeiro filme, há, por outro lado, uma conexão menor com os personagens.

Pai em Dose Dupla 2 mostra tanto Brad (Will Ferrel), quanto Dusty (Mark Whalberg), compartilhando harmoniosamente a atenção de seus respectivos filhos e enteados, agora Dusty além de seus filhos, que vivem com Brad e sua ex-esposa, também tem sua própria enteada, assim como o outro homem, que além de padrasto também torna-se pai. Nessa aparente estabilidade familiar, numa configuração diferente, dois eventos marcam uma profunda alteração na ordem das coisas, a aproximação do natal e a também a chegada dos pais de Brad e de Dusty. Esses são fatores que obrigam todos esses personagens a passarem o natal junto numa distante casa de campo.

O quarteto de pais é o fator fundamental do longa, Mel Gibson interpreta o pai de Whalberg, enquanto John Lithgow é progenitor de Ferrel. Enquanto Brad e seu pai se dão extremamente bem, ainda que algo pareça totalmente estranho, Dusty nunca se deu bem com o homem que o criou. O que avança o filme adiante realmente, é Mel Gibson como Kurt tentando mostrar que aquele bem estar familiar entre homens tão diferentes é apenas uma fachada. Assim, aos poucos cada situação é alimentada por esse homem, tentando provar o quanto aqueles pais são diferentes o suficiente para não serem tão parceiros.

O que se sente em Pai em Dose Dupla 2 é um amontoado de situação para provar esse ponto, algo que a todo momento coloca Brad e Dusty em conflito, apenas repetindo a dinâmica do primeiro longa, a diferença é que aqui parece ser um jogo de duplas. A questão é que ao longo dos 100 minutos de produção as piadas vão se repetindo, e as situações vão ficando sempre mais exageradas para tirar de qualquer maneira algum riso de seu público. Pai em Dose Dupla 2 é uma constante narrativa cômica que coloca em oposição uma masculinidade com um jeito mais sensível de cuidar das coisas, marcado por Dusty e Brad respectivamente. Como um meme reproduzido infinitamente essa relação vai perdendo graça, cabe aos atores fazerem humor caindo no chão, brigando entre si, fazendo piadas um pouco mais sujas e assim por diante.

Se Pai em Dose Dupla 2 contasse com um elenco alinhado, afinado e bastante inspirado, todas as adversidades poderiam ser supridas por essa encenação, até porque a comédia é um gênero extremamente dependente da atuação de seu elenco. Todavia, o que se vê aqui são quatro atores centrais que já há algum tempo apenas reproduzem características próprias, não se modificando em papel algum. Nessa condição, Pai em Dose Dupla 2 fica ainda apático, nessa auto reprodução de Gibson, Walberg, Ferrel e Lightgow, não fazendo nenhuma daquelas situações cômicas ganharem vida, mas sim uma simples caricatura.

A atuação no longa é uma das questões mais problemáticas e se a participação do quarteto principal não é nem um pouco inspirada, o elenco de apoio é ainda pior. Linda Cardellini até tenta mostrar alguma coisa, mas o destaque negativo vai para brasileira Alessandra Ambrosio e John Cena que claramente não demonstram nenhuma intimidade com a câmera, fazendo a película ganhar até mesmo um tom amador. Talvez, nesse aspecto, os que mais sobressaiam seja o elenco infantil, que consegue mostrar uma habilidade, realizando até mesmo as piadas mais divertidas do longa, como a aula de tiro da filha mais nova.

Como num episódio especial de Natal, Pai em Dose Dupla 2 passa rápido, com momentos divertidos, mas aqui sem nenhum interesse tão grande como a de quem acompanha uma série regular. A sensação que fica é que até o natal será difícil de lembrar de Pai em Dose Dupla 2, e sem ter a possibilidade de mais um episódio em curto prazo, a chance de se esquecer para sempre Dusty e Brad é grande, melhor ficar com um especial de natal televisivo.

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