Críticas

Crítica | Ponte dos Espiões

Os valores morais e éticos são importantes para uma sociedade. Já quais valores são esses, cada tipo de sociedade estabelece os seus, porém, todas elas precisam de pessoas que acreditem nestes valores e que os façam serem respeitados. O filme Pontes dos Espiões deixa isto muito bem claro já na primeira cena.

James B. Donovan (Tom Hanks, de Capitão Philips), um advogado especializado em seguro, recebe a missão de defender um suposto espião russo, de origem britânica, chamado Rudolf Abel (Mark Rylance, de Anônimo). Mesmo sendo um possível espião, Rudolf deveria ter o melhor advogado de defesa para, desta forma, os Estados Unidos mostrarem à União Soviética e ao mundo que naquele país todos têm direito a defesa.

Porém, em um mundo no qual as coisas certas nem sempre são as coisas desejadas por todos, a esposa de James, Mary (Amy Ryan, da série The Office) e o chefe e colega de escritório de advocacia de James, Thomas Watters Jr. (Alan Alda, de Uma Longa Jornada), percebem que defender aquele homem pode ter um preço muito grande para a família, para o trabalho, enfim, para a vida de Donovan.

Algum tempo depois dasse episódio, porém, Francis Gary Powers (Austin Stowell, de Whisplash: Em Busca da Perfeição), piloto norte-americano que sobrevoava a Rússia à bordo de um avião de espionagem denominado U2 – daí o nome da banda irlandesa – acaba sendo abatido pela artilharia antiaérea do país comunista. Ele consegue se salvar, mas é capturado e condenado a prisão. James é convocado novamente pela CIA para intermediar a troca de Rudolf por Francis.

Ponte dos Espiões é, sim, inspirado em fatos reais que aconteceram entre os anos de 1957 e 1962. A história, por si só, já é bastante interessante e emocionante. Porém, roteirizada pelos irmãos Coen – Ethan e Joel – cuja direção de filmes, como Bravura Indômita e Onde Os Fracos Não Tem Vez, os consagraram entre os maiores diretores de Hollywood, se tornou épica. Também contribuiu para o roteiro Matt Charman.

O filme conta uma história de uma forma agradabilíssima e tocante. Contribuiu para provocar este efeito, com certeza, a direção do experiente e nada bobo, Steven Spielberg. Um dos grandes mestres na condução do público no contar uma história por imagens, sons e silêncios. Spielberg sabe como ninguém harmonizar diferentes aspectos de um filme. Além de diretor, ele também é um dos produtores. A direção de Spielberg faz sobressair a interpretação dos atores.

Tom Hanks – que parece que está se especializando em fazer pessoas que existiram – faz bem o papel do advogado que de uma hora para outra se vê envolvido na disputa mais perigosa que existiu no século XX: os países capitalistas liderados pelos Estados Unidos contra os países comunistas liderados pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Como disse o personagem de Hanks em um momento do filme: “um dos problemas do seu país é que o nome é muito longo”.

Mark Rylance faz Rudolf Abel de uma maneira discretamente elegante. A simplicidade, a esperteza, a inteligência do personagem salta da tela e captura o espectador que não consegue deixa-lo até o final do filme. E até bem depois de encerrada a sessão. A sua atuação é o destaque do filme. Mark é um forte candidato ao Oscar de melhor ator coadjuvante no ano que vem.

Amy Ryan, apesar de não aparecer tanto no filme, quando surge preenche a tela. Você percebe facilmente a força da mulher de Donovan. Ora brava, ora preocupada, ora as duas coisas, Amy sabia dar o tom exato para que a sua personagem fosse importante em cena. Dakin Matthews (Bravura Indômita), que faz o juiz do caso de Rudolf, também tem a mesma força em cena que Amy. Como o personagem dela, o dele também aparece pouco.
Um último ator que tem esta mesma presença em cena e deixa claro que a escolha de atores foi muito bem feita é Sebastian Kock (Desconhecido), no papel de um advogado da Alemanha Oriental.

A produção deste filme é maravilhosa. A reconstituição do fim dos anos 50 e inicio dos anos 60 nos Estados Unidos e na Alemanha Oriental – um cenário importante na história – é realizada nos mínimos detalhes. Seja no figurino de Kasia Walicka-Maimone (Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo), seja nos efeitos visuais sob a coordenação de Kimberly Aller (Planeta dos Macacos: O Confronto).

Tudo isto tem como pano de fundo, como cenário, a fotografia de Janucz Kaminski (Cavalo de Guerra). Ele é um diretor de fotografia que trabalhou em muitos filmes de Spielberg. Outro deslumbre é a trilha sonora feita por Thomas Newman (007 – Operação Skyfall). E a montagem de Michael Kahn (Lincoln) possibilitou o longa rodar em um compasso tranquilo, com transições suaves de cenas e de momentos da história.

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