Com uma proposta incomum à televisão, a mais nova série da Hulu, Into The Dark, carrega o nome de Jason Blum em sua produção executiva, e traz todos os aspectos que tornaram o produtor, uma figura relevante na Hollywood atual.
Uma série antológica (tal qual a aclamada Black Mirror), Into the Dark lançará cada um de seus episódios com um mês de intervalo, sempre com a extensa duração girando em torno de uma hora e meia, trazendo histórias que sejam relacionadas ao feriado principal de cada mês. Sendo assim, este primeiro episódio, intitulado “The Body”, apresenta uma estrutura narrativa tipicamente cinematográfica, e serve como um ótimo exemplo do que a série pode vir a oferecer para o cenário televisivo atual.
A história em questão traz o assassino profissional Wilkes (Tom Bateman) em meio à um de seus “serviços”, onde precisa se desfazer de um corpo durante a noite de Halloween. Fiel à sua estrutura cinematográfica, porém contando com uma duração menor do que se esperaria no cinema, o episódio não perde tempo ao apresentar as principais características do protagonista, e já o coloca na situação conflitante que ditará o resto da trama. Um grupo de jovens o encontra carregando o corpo embalado, e acreditando ser tudo uma fantasia de halloween muito bem elaborada, acabam forçando-o a ir para uma festa.
Uma proposta simples, porém instigante. Foi com abordagens como esta, que a produtora Blumhouse (chefiada por Jason Blum, e premiada pelo filme Corra!), conseguiu estabelecer a sua relevância dentro do cinema atual. Filmes com ideias inventivas e execuções contidas, porém distintas.
Tal qual neste primeiro ato, o poder da síntese torna-se o grande objetivo desta história, que consegue ir expondo a relevância e a dinâmica de seus personagens com boa organicidade, em cenas contidas, porém eficazes. Dada tamanha dinamicidade, o espectador não encontra muito tempo para desviar sua atenção em meio a narrativa, e se depara com reviravoltas engajantes, que elevam a trama para novos riscos e interpretações. Essencialmente, tudo que poderia se pedir de um breve filme deste gênero.
Outro grande atrativo deste primeiro episódio de Into the Dark, a dinâmica entre o protagonista e a personagem Maggie (Rebecca Rittenhouse), que desenvolve uma certa admiração doentia por sua psicopatia sofisticada. A relação entre os dois progride de maneira cativante, traçando paralelos interessantes entre ambas as personalidades e produzindo alguns dos momentos mais memoráveis deste episódio.
Ajudando no engajamento, o senso de urgência da trama é constantemente relembrado pela presença onisciente do chefe de WIlkes, que fica lhe cobrando a entrega do corpo (além de um relógio que aparece ocasionalmente no canto da tela). Conforme o episódio caminha para o seu terceiro ato, a história e a direção adotam ares semelhantes aos filmes de terror mais violentos e chocantes, com boas cenas de horror gráfico que devem agradar entusiastas do gênero. Ao final, já chega a abraçar o absurdo, e procura quebrar expectativas sem muito apego a realidade.
Embora a direção nem sempre consiga utilizar o orçamento televisivo do jeito ideal, há diversas sequências onde a ação é bem familiar ao espectador comum de filmes de terror, pegando inspiração em horrores do subgênero “slasher” dos anos 80 e 90. Outro grande aspecto comum ao gênero, o episódio procura mesclar alívios cômicos em meio aos seus choques, principalmente com o segundo núcleo de personagens, formado por três jovens da festa que acabam precisando se livrar do corpo.
Todas estas qualidades indicam que a grande força de Into the Dark virá de seus roteiros criativos, que consigam quebrar expectativas. Os roteiros que irão compor esta coletânea provavelmente já devem ter sido considerados para o cinema em algum momento pela produtora, mas podem acabar encontrando o espaço perfeito no contexto mais livre que existe na televisão de hoje em dia. E, ainda por cima, é possível rever personagens e interligar tramas de episódios distintos, tal qual o público tanto gosta de fazer, nem que seja por mera especulação (O dono da voz misteriosa que comanda WIlker já é um ótimo candidato para retornar).
Este primeiro episódio entrega a audácia e o entusiasmo que as produções da Blumhouse costumam trazer, e pode cativar o público que já prefere o formato antológico de Black Mirror, mas gostaria de vê-lo sendo aplicado em produções mais voltadas ao terror propriamente dito.Se os próximos episódios estiverem tão divertidos e excitantes quanto este, a série não passará despercebida por muito tempo.