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Mostra SP | Crítica: A Madeline de Madeline

Chega também à Mostra SP, outra produção americana independente, A Madeline de Madeline, da cineasta Josephine Decker. Apesar da obra, mesmo com seus experimentalismos visuais, não se encontrar à altura do que o conteúdo, o material tem de melhor, existe algo revigorante na produção deste longa. Praticamente, elenco e equipe de produção são em sua maioria mulheres. Filmes com elenco feminino maior que masculino, não é uma novidade, apesar de ainda ser algo mais raro. Porém, equipe de trabalho em sua predominância feminina, já é algo digno ser exaltado, ainda mais hoje, com tantas transformações acontecendo na vida social rotineira em diferentes classes.

O abilolado A Madeline de Madeline faz jus ao adjetivo para mostrar, pois o nível de experimentalismo é alto demais para encapsularmos na ideia de contar, quem ou o que é a adolescente Madeline, que as vezes é um gato, em outras, uma tartaruga marinha, ou até mesmo se Madeline é ela própria, ou apenas está interpretando a si mesma. Mas, aos olhos de Regina, sua ansiosa mãe, a jovem é uma pessoa frágil que precisa de cuidados contínuos e tratamento médico psicológico devido sua condição de ter distúrbios bipolares. Todavia, quando está no palco, sendo instruída por Evangeline, as vezes até de maneira imprudente, a garota se libera de suas amarras e transforma-se em uma força da natureza, selvagem e incontrolável.

Exibido também nos festivais de Sundance e Berlim no começo do ano, o trabalho de Decker é o terceiro dirigindo longas-metragens, sendo que o próximo chamado Shirley, de maior porte, contará com atores hollywoodianos, como Elisabeth Moss, Michael Stuhlbarg e Logan Lerman. Com alguns curtas na carreira, além de um documentário que fala sobre a bissexualidade nos Estados Unidos, a também atriz Josephine Decker é indubitavelmente uma artista carregada de expressão prestes a explodir via manifestações corporais, não muito diferente de sua protagonista em A Madeline de Madeline.

Em 2010, a cineasta atendendo a retrospectiva de Marina Abramovic, renomada artista sérvia conhecida como a avó da arte performática, no MoMA, o Museu da Arte Moderna em Nova York, tirou o robe e ficou nua em frente a artista para mostrar a vulnerabilidade que a mesma mostrou por toda a carreira.

Esse instinto, se faz presente, de uma maneira própria, em Madeline. O longa de Decker trata de dois assuntos: o primeiro, fala sobre saúde mental e os surtos que acontecem nas pessoas diagnosticadas nessa condição; já o segundo, de melhor elaboração, expressa as dificuldades na maternidade, os desafios inesperados de mães que têm filhos com tais problemas relacionados à distúrbios mentais. Se no primeiro, a cineasta discorre sobre o assunto mirando Madeline, no outro, o peso narrativo recai sobre sua mãe, interpretada por Miranda July, e sua professora de teatro, papel de Molly Parker.

A jovem atriz Helena Howard que dá vida a Madeline, realmente impressiona pelo vigor em sua performance, ainda mais sendo tão jovem. Um dos poucos, mas bom acerto de Josephine Decker foi não estigmatizar sua protagonista como apenas uma moça doente. Pois, desta maneira é possível apreciar os momentos mais solares da garota, em atuação natural, tornando sua catarse final, um evento à parte no filme dentro da programação da Mostra SP. É, nesta cena que podemos compreender o porquê do título da obra.

Suas duas mães também se saem bem, especialmente Molly Parker, onde perto do final, podemos ver e sentir seu medo e confusão diante da animalidade que havia dentro da garota, que a surpreende e assusta ao mesmo tempo.

Apesar de boas performances orientadas pela diretora, a obra acaba se perdendo, e confundindo o espectador por seus exageros, todos estes nos quesitos técnicos como fotografia desfocada em boa parte do longa ou edição de som ininterrupta, tornando complicado permanecer dentro deste ciclone que é a mente de Madeline por muito tempo, além de não ser acessível pegar os temas que a cineasta trata. É inegável que o filme de Josephine Decker tem grande personalidade, mas tão importante quanto a essência, é a transposição deste argumento central.

Muito mais do que extrema atenção, ou sensibilidade, primeiro o público deve sobreviver a esse fenômeno da natureza que é A Madeline de Madeline, para só assim, tentar se aproximar emocionalmente de tudo.

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