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Crítica | UglyDolls

Assim como o recente Parque dos Sonhos, a animação UglyDolls encontra em sua simplicidade uma via de duas mãos. De um lado, a falta de complicações permite uma entrega objetiva da mensagem – admirável – que pretende passar ao público infantil. De outro, torna-se uma tarefa ainda mais hercúlea sustentar sua metragem toda, neste caso de pouco mais de oitenta minutos, apenas sobre a força de uma mensagem. O trabalho roteirizado por Alison Peck e dirigido por Kelly Asbury faz o bastante para provar que possui, de fato, boas ideias, mas prova também não ser o melhor filme para elas.

A introdução ao mundo das UglyDolls não poderia ser mais charmosa. Numa barragem de números musicais, somos apresentados a UglyVille, cidade onde vivem felizes os bonecos do título. A ideia é simples: são todos bichos imperfeitos, cada um à sua maneira, e são felizes do jeito que são. Porém, quando conhecem a existência de um mundo de bonecos “perfeitos” e são denominados como feios por seu arrogante mas deslumbrante líder Lou, seu mundo inteiro cai. UglyVille torna-se um lugar depressivo e menos funcional do que era antes. Apenas a aceitação das imperfeições poderá salvá-los.

É interessante como numa trama de contornos tão simples, a roteirista Peck é ao menos capaz de encaixar uma série de temáticas pertinentes e até um pouco de ironia. Começando pela ironia, ela surge do fato de que, talvez inconscientemente às personagens, seu status quo já é o que sempre quiseram alcançar no fundo. Estão em total paz consigo mesmos, e mesmo quando se deparam com bonecos perfeitos, sua reação inicial não é a de inferioridade – já se veem iguais aos outros. Não há melhor maneira de reforçar às crianças que as noções de beleza padrão são construídas e impostas quando os bonecos são julgados por Lou.

O malvado líder dos perfeitos, inclusive, sintetiza outro ponto importante: não é saudável admirar pessoas tóxicas, independente de seu carisma ou beleza. Tipos como Lou se validam tanto pelo amor quanto pelo ódio, na verdade, já que estas duas coisas já representam a tamanha importância que lhe atribuem. É uma graça reparar que, apesar do status possuído pelo personagem, trata-se de um boneco genérico, com nenhum atributo em especial além de um topete. Sua “superioridade” está em atender os requisitos máximos da beleza imposta: é loiro, magro, tem olhos claros. Diante disso, os menos estimados romantizam sua toxicidade.

Como se trata de uma animação sobre auto-aceitação, é importante que haja uma fase em que as personagens tentam se adequar, apenas para virar essa adequação de cabeça para baixo. Uma das canções, entregue de forma quase totalmente irônica, consiste em celebrar o “embonecamento” das UglyDolls para que sejam aprovadas pelo Instituto da Perfeição, órgão que define se serão ou não enviados para o consumo de crianças. O apagamento de suas características, como dentes faltando e a falta de traços humanos mais reconhecíveis, é evocado com estranhamento. As UglyDolls incomodam apenas quando não são mais elas mesmas.

O que fere a jornada, no fim, é a falta de um maior estofo que sustente a duração já bastante curta. O longa então procura justificar sua metragem com um grande número de canções que permeiam sua narrativa. Talvez haja tanta música quanto diálogos em UglyDolls. Isso se deve, além da simplicidade, à presença de diversos nomes da música pop americana e internacional em seu elenco: Kelly Clarkson, Blake Shelton, Janelle Monae e Pitbull são alguns deles. Mas com o puro objetivo de passar refrões inspiradores, esqueceram-se de criar melodias memoráveis, e os números acabam soando como pop genérico na maior parte do tempo – o que se prova cansativo.

No entanto, o elenco de voz nacional merece elogios, tanto por interpretarem as canções na íntegra como também usarem suas próprias vozes características, sem exagerar em ferramentas de correção vocal. Aline Wirley, João Côrtes, Rincon Sapiência e Paulo Lima são alguns dos nomes principais do elenco, e embora parte da equipe tenha boa experiência musical, abraçam uma idiossincrasia em suas vozes que acaba condizendo com o espírito do longa. Em uma animação sobre personagens imperfeitos, seria contraditório buscar a perfeição, e a equipe brasileira de dublagem compreende isso e faz do trabalho algo mais charmoso.

Se comparada visualmente com outras obras mais robustas do tipo, UglyDolls deve perder em comparação por sua opção pela simplicidade extrema. Fora as texturas dos coloridos bichos e de UglyVille, onde tudo é composto de peças de tecido, a animação de resto um pouco genérica, especialmente quando chegam à vila dos perfeitos. Até isso, contudo, tem um propósito. Afinal, eles querem viver imperfeitos em um lugar encantador ou perfeitos em uma cidade sem vida? Apesar da simplicidade geral prejudicar a obra na manutenção de seu ritmo, dando abertura a uma sequência cansativa de canções, a animação cumpre o que propõe, ao menos em níveis básicos: inspirar a aceitação, seja das nossas ou das suas imperfeições.

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