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Como Vender Drogas Online (Rápido) | Crítica - 1ª Temporada

Como Vender Drogas Online (Rápido) é uma série que consegue propor uma discussão relevante para os tempos atuais, apesar de sua curta duração, e consolida o potencial das produções alemãs que vem chamando a atenção do público internacional da Netflix.

A comédia de apenas seis episódios conta a história de Moritz (Maximilian Mundt), um jovem alemão que leva uma vida normal em sua pequena cidade, sempre visto como inocente e pouco aventuresco. Quando sua namorada retorna dos EUA com uma nova mentalidade, aberta à novas experiências, ela decide que suas personalidades não são mais tão compatíveis e termina o relacionamento, deixando Moritz desolado.

No melhor estilo Breaking Bad, então, o jovem decide se arriscar e comprar uma grande quantidade de drogas para tentar impressionar a garota. Depois que a estratégia não tem o efeito esperado, Moritz se vê com um estoque de drogas caras, e resolve construir um negócio virtual para vendê-las anonimamente. O nome da série, Como Vender Drogas Online (Rápido) não só indica esta jornada do personagem, como também evidencia o principal tema desta produção, a dessensibilização das gerações atuais, ao apontar uma atitude ilegal e polêmica como uma mera busca casual em sites de pesquisa.

Como Vender Drogas Online (Rápido) se desenrola através dos relatos de Moritz, aproveitando o didatismo de seu formato para ilustrar as principais características da Geração Z, e da maneira como esta geração interage entre si. O primeiro episódio conta com uma divertida sequência onde a mãe de um dos personagens ilustra os efeitos do MDMA nos usuários (que em uma brincadeira metalinguística, pode ser pulada pelo espectador tal qual as aberturas de séries na Netflix), enquanto o segundo episódio traz uma explicação sobre como funciona a temida “Deep Web”, a parte anônima da internet onde drogas, armas e serviços condenáveis acabam sendo abertamente comercializados.

As drogas, então, servem como um tópico representativo para se discutir a artificialidade dessas relações sociais e a falta de sensibilidade deste grupo de jovens. É uma geração que possui todo o poder da tecnologia na palma da mão, e utiliza este poder para trocar rostos e compartilhar fotos íntimas em aplicativos virtuais. Do mesmo jeito, também possuem acesso a ambientes como a “Deep Web”, e o tratam com muito mais naturalidade do que as gerações passadas. Por conta dessa “liberdade”, a série acaba encontrando um espaço produtivo para retratar a banalização que inevitavelmente se instaura em meio aos jovens. O que poderia ser considerado “tabu” não possui o mesmo impacto em mundo onde bastam dois cliques para se ter acesso ao que quiser.

Moritz segue sua narrativa tal qual um jovem e moderno Walter White, encontrando relevância e propósito em sua capacidade de explorar um mercado com ampla procura, apesar da ilegalidade. Ao lado de seu amigo, Lenny (Danilo Kamperidis), os dois jovens expandem seus negócios com muita mais facilidade do que a polícia gostaria que tivessem, e se tornam cada vez mais audaciosos com sua empreitada. Esta dinâmica, por si só, já é capaz de cativar o espectador, por conta da tensão e das atitudes impulsivas destes personagens. A diferença entre a produção alemã e Breaking Bad, no entanto, está no seu tom sarcástico, claramente muito mais confortável

A metalinguagem de Como Vender Drogas Online (Rápido) torna a série mais divertida de acompanhar, mas também possui um certo desequilíbrio em sua execução. Momentos como Moritz andando pela rua como se estivesse em um videogame nem sempre parecem tão relevantes quanto representações visuais dos efeitos causados pelas drogas em diferentes personagens. As imagens com textos retirados do WIkipedia também são um elemento interessante para a proposta da série, reforçando o fácil acesso à qualquer informação. Mas o aspecto que mais merecia ser melhor explorado, é o formato documental onde Moritz explica sua empreitada para a Netflix.

É um potencial inexplorado que talvez tenha sido mais ignorado do que poderia por conta da duração da temporada, mas considerando o gancho final deixado pelo último episódio, parece que a série está disposta a brincar um pouco mais com este aspecto em temporadas futuras, e se American Vandal serve de exemplo, há muito o que se explorar por aqui, ainda mais com os paralelos apontados entre Moritz e grandes empreendedores como Steve Jobs e Mark Zuckerberg.

Como Vender Drogas Online (Rápido) não está necessariamente propondo uma transgressão ao tratar a venda de drogas como se fosse apenas mais uma das ideias de negócios destes dois amigos. Em certos momentos, questiona, sim, a hipocrisia de uma sociedade que parece definir suas legalidades de forma arbitrária ou pouco condizente com as reais dinâmicas das situações. Mas, ao mesmo tempo, a série se mostra plenamente ciente de que este comércio ilegal, sob as condições atuais, irá inevitavelmente levar à violência, não importa como ou de onde ela venha.

Estes aspectos são estabelecidos como parte da tensão que acompanha a narrativa, mantendo a série engajante para o espectador, mas não são o principal foco dos discursos que o roteiro propõe. A real indagação por aqui, é se a nova geração estaria se distanciando cada vez mais de uma compreensão da realidade, enevoada pela artificialidade dos compartilhamentos no Facebook, Instagram ou no Twitter. No entanto, a série também aponta que esta mentalidade não está associada exclusivamente ao ambiente das redes sociais, e que a nova geração está apenas perpetuando a vontade intrínseca das pessoas de exibir aquilo que querem ser, ao invés de quem realmente são, a única diferença sendo que agora temos ferramentas melhores para tanto.

A maneira banal com que estes personagem enxergam o mundo a sua volta, e a dificuldade de lidarem com seus relacionamentos e seus sentimentos é retratada com uma progressão envolvente em Como Vender Drogas Online (Rápido), ainda que a curta série tenha nos dado apenas um vislumbre das principais consequências que ainda terão que ser enfrentadas por conta dessa mentalidade.

Depois de um ínicio competente, a produção alemã apresenta um potencial empolgante para onde pretende levar suas tramas, e ainda parece ter muito o que dizer sobre esta geração jovem que tem tudo nas mãos, mas não consegue fazer sentido de nada, e só quer descobrir seu lugar no mundo. Infelizmente, uma rápida pesquisa no Google não é capaz de responder tal pergunta. Que frustrante.

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