Atenção para spoilers da série!
Em seu melhor, Arrow é uma máquina louca de contar histórias, equilibrando vários plots, parcerias sempre em constante mutação, e segredos em cima de segredos. É uma série que funciona dentro de sua lógica particular, se sustentando mais pela propulsão de soltar um episódio por semana do que por qualquer outra coisa – se você pausa um pouco para refletir, a coisa toda pode começar a desmoronar.
Talvez por confiar tanto em mostrar para o público o desfecho do cliffhanger do seu último episódio de 2015, quando Felicity levou um tiro, esse novo episódio não tem muito tempo para simplesmente nos reintroduzir ao universo de Arrow, e isso significa que há um número considerável de sotrylines para o espectador não só se lembrar, mas também com as quais ele precisa voltar a se envolver. O destino de Felicity precisa ser a história principal aqui, obviamente, e há duas formas básicas através das quais a série poderia ter lidado com o atentado contra ela: a primeira seria passar a maior quantidade de tempo possível no hospital, com Oliver e companhia colocando sua cruzada em modo de espera para estar com sua companheira caída; a segunda, escolhida pelos roteiristas, seria injetar um pouco mais de ação no episódio de retorno da série ao colocar nossos heróis numa caça à Damien Darhk.
O problema com “Blood Debts” – o episódio de retorno da série – é que, como os Ghosts sempre se recusam a falar qualquer coisa, a série tem que arranjar algum outro jeito para Oliver encontrar Darhk. Isso significa trazer Lonnie Machin de volta, um personagem complexo e intrigante cujos relacionamentos mais complexos e intrigantes não são com Oliver, e sim com Thea, e até com Darhk. Isso também significa ter Thea falando aos cotovelos sobre seus problemas para Laurel, e Laurel chamando a polícia para prender Machin, porque ela tem algum tipo de objeção ética com a iniciativa de Oliver de mantê-lo aprisionado por conta própria.
A inconsistência está no fato de que Laurel não parece ver problema em manter Andy Diggle em cativeiro, por exemplo? Os roteiristas de Arrow muitas vezes dão à personagem um ponto de vista contrário ao de Oliver apenas para mover a trama adiante, sem considerar o que isso significa dentro da lógica interna da série. Tirando isso, há sinais de boas histórias no episódio. Thea tendo que lidar com seus problemas de controle da raiva, e Diggle aceitando o conselho dela e se reconectando com Andy são, ambos, pedaços sólidos de história. Oliver perdendo o controle não é mais novidade para a série, mas o episódio se diferencia pela forma como Diggle e Felicity reagem – e a cena à beira da cama com Oliver e Felicity nos informa novamente porque eles funcionam fundamentalmente como um casal. As ações e o comportamento de Oliver é compreensivo porque ele vive sob um código moral rígido, que faz com que fique mais difícil proteger aquelas mesmas pessoas que lhe dão força para ser o Green Arrow.
A justificativa para a decisão de matar Damien Darhk é suportada pelo código moral particular de Arrow não da mesma forma que em outras adaptações de quadrinhos (lembram-se do famoso “eu não vou matá-lo, mas não preciso salvá-lo” de Batman Begins?), mas pela realização de Diggle de que Oliver lutou tanto para recuperar sua humanidade e agora é confrontado por inimigos – Malcolm Merlyn, Slade Wilson, Ra’s Al Ghul, Damien Drahk – que querem privá-lo dessa humanidade. Não é muito convencionalmente heroico para Oliver declarar sua intenção de matar o inimigo, mas faz sentido na lógica da série que ele acabe com essa ameaça a sua humanidade, a sua cidade e, provavelmente, ao mundo todo.
No meio de tudo isso, descobrimos que Felicity está paralisada e não vai mais poder andar. Como essa é Arrow, não dá para dizer que sua nova condição é definitiva (afinal, muitos personagens já até voltaram dos mortos!), mas a impressão que ficou com o episódio é que ele tinha muitas coisas para resolver, e a revelação foi deixada como uma nota de rodapé. Esperemos que Arrow lide com a nova realidade de Felicity nos futuros episódios.
Isso não quer dizer que “Blood Debts” é um episódio ruim – pelo contrário, a forma como ele nos joga direto no contexto das histórias que a série estava contando antes do hiato de fim de ano provavelmente vai fazê-lo funcionar muito bem para quem maratonar Arrow no futuro. Da forma como está, talvez ele não seja a melhor forma para uma série começar 2016, mas arruma as coisas para que Arrow siga com sua narrativa. Se esse episódio é um indício, o resto da temporada será feito com velocidade narrativa estonteante, e isso pode ser algo muito, muito bom.