Atenção para spoilers da série!
“A.W.O.L.”, o 11º episódio da quarta temporada de Arrow, foi um ótimo episódio para John Diggle. Apesar da revelação de Andy estar vivo não ter trazido possibilidades empolgantes para a história logo de cara, isso muda aqui, visto que John e Andy se juntam para salvar Lyla (ou pelo menos ajuda-la a se salvar, visto que a personagem provavelmente se viraria bem sozinha).
“A.W.O.L.” se apoia na ideia do episódio passado, que dizia-nos que John precisava começar a olhar para Andy não como soldado ou criminoso, mas como um irmão – o que fica mais difícil conforme desvendamos o passado dos dois. David Ramsay e Eugene Byrd constroem uma bela química entre irmãos conforme o relacionamento entre os dois vai se reparando, com Andy provando que pode ser confiável, pelo menos até sua repentina (e previsível) traição.
A outra storyline principal da semana também envolve um personagem tendo que lidar com o passado, mas Felicity o faz de maneira bem mais literal do que os irmãos Diggle. Trazer de volta a versão morena e hacker de Felicity como uma alucinação prova ser um bom recurso para nos mostrar como ela lida com sua nova condição física. A série faz um bom trabalho em nos levar a crer que Felicity pode facilmente recair a seu passado criminoso, mesmo que só tenhamos visto essa versão maldosa da personagem em um episódio de flashback – a Felicity que conhecemos hoje não é tão radicalmente diferente da que conhecemos na primeira temporada. Arrow não usa o recurso da “Felicity-do-passado demais”, de modo que a trama segue crível e tocante para o espectador, mostrando com habilidade o conflito da personagem. Isso sem contar que a série finalmente revelou o codinome que Felicity vai usar a partir de agora: a moça passará a ser conhecida, para todos os efeitos, como Overwatch – e não Oracle (Oráculo), como alguns fãs apostaram.
Esses são exemplos sólidos de arco narrativo para Arrow, parte do processo de retorno à boa forma que vimos acontecer nessa temporada. E já que vemos tanta coisa boa aqui, não custa nada apontar alguns defeitos, uma vez que eles estão enraizados no DNA de Arrow tanto quanto nos outros programas de super-herói no ar hoje em dia. Para o bem ou para o mal, Arrow agora precisa conviver com uma série de outras produções, no cinema e na TV, que expandem e participam do seu universo de uma forma que os criadores não previram inicialmente.
Não resta dúvidas, portanto, que a morte de Amanda Waller em Arrow acontece por razão do cada vez mais próximo filme do Esquadrão Suicida, visto que tanto a DC quanto a Marvel já mostraram que os filmes são prioridade em se tratando de retrato de personagens dos quadrinhos. Um espectador cínico da série provavelmente já sacou que o episódio de hoje existiu para fechar a história da ARGUS e matar Waller, de maneira chocante o bastante para não parecer gratuita. Mesmo assim, é um final repentino demais para uma personagem relativamente importante, especialmente porque os personagens logo se esquecem desse acontecimento enquanto o episódio caminha para o clímax.
Mas não dá para fingir, também, que a morte de Waller é algo tão ruim assim. Cynthia Addai-Robinson esteve bem no papel, mas a personagem em Arrow tem servido muito mais como uma catalisadora de tramas paralelas do que uma personagem desenvolvida por si mesma – se nós não soubéssemos que Waller foi morta para abrir caminho para sua versão em Esquadrão Suicida, talvez a morte dela registrasse da forma como a série quer que registre. O problema é que, em um mundo de adaptações de super-heróis a torto e a direito, e “universos expandidos” pipocando por aí, essas séries e filmes não podem mais ser julgadas sem a interferência de fatores externos.
Às vezes, até reconhecer a existência dessas influências externas prejudica Arrow. Em uma cena de treinamento entre Laurel e Oliver, o protagonista elabora seus sentimentos para a parceira e ex-namorada e ela, como sempre, lhe dispensa conselhos valiosos. Faz sentido, funciona para os personagens, e Katie Cassidy está ótima na cena – mas então, porque Arrow precisa reconhecer que o universo de The Flash existe, Oliver diz que sua preocupação não é só centrada em seus próprios desafios e na expectativa de enfrentar Damien Darhk novamente, mas também com o fato de que a viagem no tempo de Barry pode ter criado os eventos que desencadearam a paralização de Felicity.
Apesar de “A.W.O.L.” algumas vezes sair dos trilhos por esses problemas, também existem momentos em que o contexto maior do “universo expandido” da DC ajuda a série. Na cena final do episódio, por exemplo, a série faz um movimento muito esperto ao reconhecer que seus personagens vivem, no final das contas, em um universo de quadrinhos. Não há razão para Felicity continuar paraplégica a não ser que os roteiristas queiram, e a declaração de Oliver de que “existe mágica o suficiente no mundo para que podemos esperar por um milagre” é reconhecimento claro disso.
É possível que a nova condição de Felicity se mantenha por um tempo (até o final da temporada, talvez), mas a colocação de Arrow em um universo que se expande e é reconhecível pelo público a permite essa consciência de que, em uma narrativa de quadrinhos, tudo sempre pode mudar.