Críticas

Crítica 2 | Horas Decisivas

Histórias vividas no mar sempre são propícias para fazer filmes. Quando não se tem uma história, se inventa ou se mistura realidade com ficção, como, respectivamente, na franquia Piratas do Caribe e em Titanic (1997). Um dos mais recentes filmes cuja história se passa em alto-mar a chegar ao Brasil é No Coração do Mar, com o ator australiano Chris Hemsworth. Passado na década 1820, conta o episódio de um navio baleeiro atacado por uma baleia que deu origem ao famoso livro Moby Dick, do escritor norte-americano Herman Melvil.
Pode ser que se tenha começado uma nova safra de longas com esse tema.

A última produção que estreará no Brasil sobre fatos ocorridos no mar é a da Disney: Horas Decisivas. O filme é baseado no livro de mesmo título que conta um episódio de resgate pela Guarda Costeira norte-americana da tripulação de um petroleiro rompido ao meio durante uma forte tempestade de inverno.

Em 1952, o militar da Guarda Costeira, Bernie Webber (Chris Pine, da franquia Star Trek) cumpre as ordens e as normas a que ele é submetido e está prestes a se casar com a sua namorada, Miriam (Holliday Grainger, de Cinderela). Mesmo sem precisar, ele pedirá permissão ao seu superior, Daniel Cluff (Eric Bana, de Livrai-nos do Mal), para se casar com ela.

É inverno na Nova Inglaterra e uma forte tempestade se aproxima. No mesmo dia em que Bernie iria conversar com o oficial Daniel, um petroleiro se parte ao meio em alto-mar e quase todos os barcos disponíveis da guarda costeira daquela região partem para salvar a tripulação. Com problemas no radar, um ponto na tela indicando algo mais próximo a costa foi entendido como mais um defeito até os tripulantes do petroleiro informarem que se tratava de outro, o SS Pendleton, que também teria também se partido e estava à deriva.

O SS Pendleton tem 32 tripulantes, entre eles o chefe das máquinas, Ray Sybert (Casey Affleck, de Interestelar). Ray e outros precisam controlar o medo e tentar ao máximo se manterem à tona para serem salvos. Ao saber do segundo petroleiro, o oficial Daniel pede que Bernie reúna um grupo e que vá com o barco que sobrou – o menor – resgatar os tripulantes do Pendleton.

E aí a história realmente fica emocionante. Ao longo do primeiro ato, além de conhecer as características dos personagens, o público também fica sabendo de eventos passados que trazem mais tensão a história e explicam certas preocupações de alguns personagens. A adaptação do livro para a tela grande foi escrito por um grupo que combina pessoas com pouca e muita experiência de trabalho. Mas, Eric Johnson, Paul Tamasy e Scott Silver já tinham trabalhado juntos em O Vencedor (2010).

Os três criaram uma história em que mais uma vez o dever supera tudo: tanto o amor, quanto o medo. O respeito ao dever, mais do que ser uma característica da Guarda Costeira, faz parte da personalidade da maior parte da população dos Estados Unidos. E muitas histórias de filmes de Hollywood têm como pano de fundo este ideial. Horas Decisivas é mais um exemplo disso.

Eric, Paul e Scott demonstram como a vida da população costeira daquela região do país é afetada pelos eventos que acontecem no mar, seja com os pescadores, seja com os militares. Os três mostram como esse episódio afetou a vida não apenas dos envolvidos diretamente no acontecimento, mas, também, dos que estavam em terra.

A direção de Craig Gillespie (Arremesso de Ouro, 2014) deixa bem clara as características de cada personagem da trama, com destaque aos interpretados por Chris Pine e Casey Affleck. Gillespie realiza um bom trabalho em seu sexto filme. Além de saber lidar com os atores, ele, também, conseguiu realizar a mistura de drama e aventura na medida certa.

A escolha do elenco foi acertada, com apenas uma ressalva: o personagem de Chris Pine poderia ter sido interpretado por um ator um pouco mais novo. É super compreensivo a escolha de Pine para esse papel por causa da sua fama e ele faz uma boa interpretação, mas Bernie teria ficado mais crível se tivesse sido interpretado por um ator um pouco mais novo.

Merece destaque também o ator Casey Affleck. Ao interpretar o chefe das máquinas Ray Sybert, Affleck lembra muito o ator Humphrey Bogart. Ele atuou como se é o personagem fosse o ator falecido. Cada vez que ele surgia em cena, parecia que estava presente o ator morto em 1957. Outro destaque também é a atriz Holliday Grainger. Ao interpretar uma jovem que não ligava para as normas sociais, ela passa a determinação do personagem dela e, também, o medo pelo qual ele está passando com o namorado tentando fazer um resgate de alto risco.

O diretor de fotografia, Javier Aguirresarobe, que trabalhou em filmes como Goosebumps (2015) e Blue Jasmine (2013), teve muitos desafios a enfrentar neste longa. Muitos momentos do filme se passam em alto mar, durante uma forte tempestade de neve, à noite. Ele teve uma grande ajuda da equipe de efeitos especiais e visuais, mas realizou um ótimo trabalho. Algumas cenas são um ponto alto no filme, principalmente, quando o barco pilotado por Bernie está atravessando a parte mais rasa do litoral, portanto, com ondas maiores e mais perigosas que podem virar o barco.

Ao conseguir conciliar os momentos passados SS Pendleton, no barco pilotado por Bernie e nos diversos locais no litoral, como a base da Guarda Costeira, a editora Tatiane S. Riegel, que trabalhou também em Arremesso de Ouro e e outros filmes com o Craig Gillespie, não errou a mão e conseguiu dar o ritmo certo ao filme sem que ele ficasse ou lento ou dinâmico demais.

A trilha sonora é outro aspecto que está na medida certa e ajuda dar a tensão certa. O compositor Carter Burwell fez com que os momentos mais dramáticos do filme tivessem mais destaque e conseguissem prender a atenção do público.

Horas Decisivas, apesar de ser mais um filme de exaltação à determinação do povo norte-americanos, principalmente, dos seus militares, flui muito bem. A história do resgate dos tripulantes do petroleiro SS Pendleton é bem contada e consegue mostrar o que pessoas conseguem fazer quando enfrentam situações extremas.

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