Críticas

Crítica 2 | Um Homem Entre Gigantes

Trazer a tona um problema “isolado” foi de uma criatividade imensurável do diretor Peter Landesman (JFK – A História Não Contada; 2013) – uma vez que a National Football League (NFL), em português Liga Nacional de Futebol Americano, tenta, de alguma maneira, maquiar esses números que atormentam a opinião pública norte-americana a cerca das doenças recorrentes de um dos esportes mais prestigiados nos Estados Unidos: o futebol americano.

O longa Um Homem Entre Gigantes, que foi baseado em fatos reais, narra uma série de doenças causadas por pancadas na cabeça – e que são descobertas que o patologista forense Dr. Bennet Omalu (Will Smith) faz – um problema que ganha uma proporção muito grande, que a liga profissional do esporte dos Estados Unidos (NFL), não assume a responsabilidade. Dando, portanto, invisibilidade a doença.

Bennet (Smith), então, observa que este é um problema que permeia a saúde dos jogadores profissionais do esporte e, ao levantar uma série de diagnósticos, por meio de ex-jogadores de futebol americano, resolve levar aos cidadãos norte-americanos a grave situação dos esportistas, travando uma guerra política contra a multibilionária NFL.

Com uma trajetória acadêmica invejável, o médico nigeriano chega aos Estados Unidos para fazer carreira médica. Com uma personalidade profissional única, o Dr. Omalu, ao realizar autópsias em seus pacientes, conversa com eles – o que deixa os demais profissionais curiosos com essa postura peculiar. Além de conversar com os cadáveres, ele se recusa a usar as mesmas facas em vários outros pacientes. Mas a instituição em que trabalha é uma agência pública que é mantida pelo Estado de Pittsburgh e não recebem tantos recursos para tal luxo de descartarem as ferramentas de trabalho como faz o Dr. Omalu.

Além desse comportamento do médico nigeriano, ele acredita que não são apenas pacientes que foram a óbito, mas, sim, pacientes que merecem respeito. Por esta razão, ele os trata dessa forma: conversa com eles enquanto abre os seus corpos.

E com o seu paciente Mike (Daniel Sullivan) não foi diferente. “Mike, as pessoas estão dizendo coisas horríveis sobre você. Eu posso dizer que tem algo errado. Mas eu não posso fazer isso sozinho. Eu preciso da sua ajuda, para contar ao mundo o que aconteceu com você”, diz o Dr. Bennet ao corpo sem vida.

Após fazer a análise, para tentar identificar a causa da morte do ex-jogador de futebol americano, o médico Omalu resolve ir a fundo para desvendar o que de fato aconteceu com o cérebro do paciente.

“Encefalopatia Traumática Crônica” (ETC), esse é o nome da doença que ele diagnosticou durante a sua pesquisa. É importante ressaltar que, junto com a descoberta, a comunidade esportiva não havia se contentando com a publicação da sua pesquisa. Então é aí que a trama começa.

Vale lembrar que o jornalista e documentarista americano Michael Kirk, em 2013, produziu um documentário sobre a descoberta do então médico Bennet Omalu. O Dr. Omalu foi quem fez a autópsia do ex-jogador da equipe Pittsburgh Steelers, Mike Webster, que veio a óbito em 2002, vítima de uma doença degenerativa decorrente da pratica do esporte. Portanto, o diretor Peter só bebeu um pouco da fonte para dirigir a trama e roteirizar de maneira plausível e fidedigna o longa.

Will Smith foi a melhor escolha da trama de Peter. O ator possui uma versatilidade profissional muito grande, e é capaz de incorporar qualquer roteiro que lhe é proposto. Uma grande injustiça ele não ter concorrido ao Oscar como melhor ator e, sem dúvidas, o longa não ter concorrido como o melhor do ano. Afinal, o filme trás uma pauta para o centro da discussão às lesões causadas pelo futebol americano, sobretudo a invisibilidade desse problema, o preconceito racial e o ponto mais crucial da trama: a máfia que há por trás da indústria esportiva mundial.

Aqui no Brasil, Um Homem Entre Gigantes estreia no dia 3 de março. Claro que a nossa cultura não está perto de ter grandes apresentações esportivas de futebol americano, mas é uma excelente discussão para percebemos que talvez outros esportes que coloquem os profissionais em situação de vulnerabilidade física, como ex-jogadores de futebol americano, em risco.

O público e a crítica serão preenchidos de um roteiro muito rico e, principalmente, de um problema social que ascende a opinião pública sobre alguns aspectos da indústria do esporte mundial.

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