Críticas

Crítica | Tudo Vai Ficar Bem

Após mergulhar no mundo dos documentários por alguns anos, Wim Wenders volta ao drama com o filme Tudo Vai Ficar Bem (Every Thing Will Be Fine, no original). O longa-metragem gira em torno de Tomas Eldan, interpretado por James Franco (127 horas). Escritor atormentado por um bloqueio criativo e um relacionamento que anda mal das pernas, ele sai para espairecer e acaba se envolvendo em um acidente.

Para o bem ou para o mal, o longa de Wenders entrega neste primeiro ato o momento mais marcante dos 118 minutos da película. É muito interessante como a direção trabalha a visão do personagem de James Franco. Passamos do alívio ao desespero junto com ele, ao descobrirmos a tragédia que mudará para sempre as vidas dele e de Kate (Charlotte Gainsbourg, de Ninfomaníaca).

Filmado em Montreal, no Canadá, a obra explora as belas paisagens congeladas, que traduzem a frieza do protagonista. Essa, talvez, a sua grande característica. Agora, imerso na depressão causada pela culpa, Tomas acaba se isolando ainda mais de sua namorada Sara (Rachel McAdams, de Sherlock Holmes). Depois de chegar ao fundo do poço em um ato extremo, a tragédia parece retirar a trava criativa de Tomas, que consegue terminar seu terceiro livro e emplaca no caminho da fama. Em saltos temporais, somos apresentados a acontecimentos e personagens que o cercam e ajudam a apresentar as mudanças no caráter do romancista.

O belga Benoît Debie (Love, 2015) assina a direção de fotografia. Sempre bem focada, a câmera apresenta os cenários com uma movimentação suave. Os tons de amarelo e azul se destacam nos quadros, pintando a evolução da melancolia a cada fase. Para os olhos, cada cena é um verdadeiro espetáculo bem construído, seja naturalmente ou pelas hábeis mãos dos diretores de arte Emmanuel Frechette e Sebastian Soukup. O público acostumado com o vai e vem de cortes pode estranhar a calma da edição. A montagem de Toni Froschhammer dá tempo ao espectador para devorar os detalhes apresentados.

Uma curiosidade interessante é que, de acordo com o IMDB, a trilha foi executada pela Orquestra Sinfônica de Gotemburgo (Suécia), apenas uma semana antes da estreia do longa no festival de Berlim, na Alemanha. A música é boa e combina com a proposta, mas não chega a emocionar ou destacar-se dentro do conjunto.

A obra é um espetáculo visual, mas não se faz cinema apenas com lindas imagens. Infelizmente, o roteiro de Bjorn Olaf Johannessen, assim como o protagonista, não evolui tanto quanto poderia e deveria. Os personagens de apoio também não ganham profundidade. Os pequenos acontecimentos que serviriam de alicerce para a mudança em Tomas são fracos ou mal explorados quando apresentados. No fim, a transformação do personagem parece fácil demais.

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