Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, mudou radicalmente a forma como as adaptações de quadrinhos com super-heróis eram vistas, mas esse espírito nunca foi levado à frente – até o lançamento de Coringa. Depois de muita publicidade discreta e uma campanha cheia de controvérsias, Coringa estreou no início do mês com reações dos mais variados tipos.
Certamente, Coringa está longe de ser uma adaptação tradicional de quadrinhos. Mas também não é exatamente inédito nesse sentido: em 2005, Batman Begins, de Christopher Nolan, provou ser uma produção completamente diferente do que o público estava acostumado quando se tratava de super-heróis. Essa mudança resultou em sequências aclamadas como Batman: O Cavaleiro das Trevas e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.
Enquanto alguns esperavam que a reinvenção de Nolan mudasse o subgênero para sempre, isto nunca exatamente aconteceu. A trilogia O Cavaleiro das Trevas parece isolada com sua filosofia. Mas Coringa reacende esse espírito.
O Cavaleiro das Trevas deveria reinventar o cinema de super-heróis
O Cavaleiro das Trevas foi a trilogia de super-heróis que os fãs mereciam e precisavam no início dos anos 2000. Depois que a Marvel vendeu suas propriedades mais populares para os estúdios mais famosos de Hollywood, as adaptações de quadrinhos voltaram a ficar populares, com Homem-Aranha e X-Men fazendo sucesso nas bilheterias. Foram sagas elogiadas, mas não foram muito revolucionárias – apenas atualizavam as fórmulas de Tim Burton e Richard Donner nas década passadas.
Com Batman Begins, Nolan deu início à história de super-heróis da era moderna – algo que parecia mais original e ousado. Cada capítulo da saga de Nolan foi épico em escala, se levando mais a sério. Todos os personagens e enredos estavam enraizados no realismo. Nolan decidiu provar que, além de uma adaptação de quadrinhos, seu Batman era visualmente artístico e conceitualmente instigante.
Assim como Batman começou a se levar a sério, o mesmo aconteceu com o público. Claramente, a trilogia O Cavaleiro das Trevas fez sucesso nas bilheterias, mas também se destacou nas premiações. Batman: O Cavaleiro das Trevas foi indicado para 8 estatuetas do Oscar, sendo que Heath Ledger levou a de Melhor Ator Coadjuvante por sua impressionante atuação como Coringa.
Além disso, a ausência de Batman: O Cavaleiro das Trevas das principais categorias da cerimônia (Melhor Filme, Melhor Diretor) provocou tanta polêmica que as regras do Oscar foram alteradas no próximo ano, aumentando a quantidade de indicações para dez. Finalmente, as adaptações de quadrinhos estavam sendo levadas a sério e nada mais seria o mesmo novamente.
As adaptações de quadrinhos falharam em acompanhar O Cavaleiro das Trevas
Dadas as realizações críticas e comerciais de Batman: O Cavaleiro das Trevas, muitos esperavam que Nolan iniciasse uma nova era para as adaptações de quadrinhos. Mais histórias maduras teriam espaço. Mas esse não foi o caso. Hoje em dia, a trilogia de Nolan mais parece um ponto fora da curva em vez de uma catalizadora de mudanças.
Tanto X-Men: O Confronto Final quanto Homem-Aranha 3 não se saíram tão bem com crítica, levando a reformulações por parte de Fox e Sony. Enquanto isto, outra adaptação de quadrinhos de 2008 provou inspirar mais tendências – Homem de Ferro. Apesar de suas origens mais humildes, o MCU transformou o cinema de super-heróis, movendo o subgênero para um sistema de universo compartilhado que muitos outros estúdios tentariam acompanhar.
Mas estilisticamente, o MCU nunca foi tão revolucionário. O universo compartilhado acompanha o mesmo formato de sucesso que existia muito antes de Batman: O Cavaleiro das Trevas, e que voltou com todas as forças.
Isto não quer dizer que a abordagem mais sombria de Nolan foi completamente abandonada. O diretor produziu O Homem de Aço, de Zack Snyder, que seguia um estilo mais maduro, mas não possuía a mesma substância de histórias e personagens de O Cavaleiro das Trevas. Outros longas do DCEU repetiram o mesmo, mas foram mais controversos.
Por fora, Hugh Jackman convenceu a Fox a produzir Logan, uma espécie de produção independente focada no Wolverine. Também tivemos Pantera Negra, menos irreverente e mais focado em uma mensagem que outros longas da Marvel. Ambos disputaram em algumas categorias do Oscar, mas não foram diretamente influenciados por Nolan.
Coringa termina o que O Cavaleiro das Trevas começou
Apropriadamente, a adaptação de quadrinhos que realmente capta o legado e espírito de O Cavaleiro das Trevas é outra produção focada no universo do Batman. Assim como a trilogia de Christopher Nolan, Coringa procura romper a tradição dos super-heróis e se inclinar para um estilo mais autoral de cinema.
Todd Phillips também traz mais realismo à trama. Não há muito comprometimento com conexões com sagas mais amplas. É uma interpretação livre do material de origem.
De muitas maneiras, Coringa pode ser considerado uma evolução nessa lógica de adaptação de quadrinhos. Batman: O Cavaleiro das Trevas foi uma produção focada num lado artístico, mas também era focada em ação. Já Coringa não se importa em aderir a esta convenção, sendo essencialmente uma exploração íntima e violenta da psique do personagem-título.
Se a trilogia O Cavaleiro das Trevas tivesse desencadeado uma mudança generalizada nas adaptações de quadrinhos em 2008, talvez Coringa tivesse acontecido muito antes. De qualquer maneira, Coringa é um sucessor digno. Será fascinante descobrir o que vem a seguir, com o longa fazendo tanto sucesso nas bilheterias.
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