Zoom tem diversas particularidades um filme praticamente brasileiro falado em inglês – o projeto é uma co-produção Brasil-Canadá, modo de produção ainda pouco utilizado no país – que mistura animação e live-action, com protagonistas internacionais, como Gael Garcia Bernal, e nacionais, como Mariana Ximenes e até um final que aposta num clássico de David Bowie. Mas uma lista inteira de curiosidades não é suficiente para garantir o sucesso de um filme.
Partindo de um pressuposto bastante inventivo. Zoom tem como base o conceito da ‘Escadaria de Escher’, na qual o fim de uma narrativa é o começo da outra, e assim por diante. Dessa forma, Zoom constrói uma trama em que três histórias estão intrinsecamente ligadas, representando diversos níveis de ficção.
Uma modelo que sonha em ser escritora e realiza uma novela sobre uma garota que faz de tudo para conseguir suas próteses nos seios, mas nunca está satisfeita com sua própria imagem, e que por sua vez desenha uma HQ sobre um prepotente cineasta com problemas sexuais, cujo próximo filme é sobre uma modelo tentando ser escritora. Essa trama mirabolante é sem dúvida nenhuma o ponto mais alto de Zoom, embora tenha seus furos de roteiro, como o momento em que o cineasta não consegue filmar mais os momentos da escritora, mas a história da garota da prótese mamária continua, evidenciando certo equívoco narrativo, mas que não compromete a trama, que prende muito bem seu espectador, mas que revela certa prepotência que não chega ao brilhantismo que o projeto julga ter.
E talvez este seja o grande equívoco de Zoom, o filme vem sendo vendido como um projeto super experimental, que só pode ser realizado pelo seu caráter inovador. No entanto o longa de Pedro Moreli não traz nada de realmente novo, uma das tramas utiliza a rotoscopia, um processo de animação que ocorre após a captação de imagem, gerando efeito parecidíssimo com os excelentes trabalhos de Richard Linklater, Waking Life (2001) e O Homem Duplo (2006) e até mesmo o estrutura dramática do longa é um apanhado da carreira do roteirista Charlie Kaufman.
Dessa maneira, pensar que Zoom traz realmente algo de inovador é certa ingenuidade, tanto de seus realizadores e de quem comprar essa ideia, a experimentação de Pedro Morelli parece apenas um rótulo em sua obra, utilizar todos os recursos pouco utilizados em outros filmes para alcançar um público específico nos cinemas. E isso revela certa falta de amadurecimento em Moreli em relação a sua direção ao cair na tentação de utilizar todas as artimanhas possíveis para legitimar seu caráter experimental, como sua câmera invertida em certo momento que não diz nada em relação à narrativa e muito menos provoca algum questionamento. Muitas vezes parece que Moreli não sabe lidar com sua liberdade criativa.
E não é só em sua direção que Moreli demonstra certa imaturidade, mas também na criação e desenvolvimento dos seus temas. Zoom é sobre como os problemas da vida real afetam a criatividade e consequentemente as obras geradas por elas, em Zoom esses problemas são apenas de ordem sexuais, o que de fato está inteiramente ligado ao psicológico humano, até mesmo sua parte criativa. No entanto, a visão de Zoom sobre o assunto é um tanto quanto juvenil, o modo como o sexo é tratado como se o realizador tivesse acabado de sair da puberdade, o fragmento sobre o cineasta chega a ser cômico nesse sentido, na qual o personagem perde toda suas habilidades, inspiração e confiança após uma diminuição do tamanho de seu pênis e não há nenhuma mudança do pensamento do personagem (e do filme) em relação à definição de sua masculinidade e confiança com o tamanho de seu órgão fálico.
Além disso, muitas vezes o longa busca fazer uma crítica à objetificação do corpo – a personagem da prótese trabalha numa fábrica de bonecas de borracha e após sua cirurgia fica parecendo com uma de suas peças. Porém, parece não perceber que muitas vezes seu próprio filme objetifica o corpo, principalmente o feminino, quantas vezes em Zoom não há uma cena de nudez totalmente gratuita, como o mergulho de Mariana Ximenez que tira a parte de cima de seu biquíni para entrar no mar. Fatos como esse transformam as críticas e metáforas de Zoom numa superficialidade incrível, que deixa o longa com poucas camadas de significados.
Assim, Zoom é uma grande decepção, sendo um filme que propõe ser inovador, inventivo e questionador, mas demonstra uma grande superficialidade, tanto em suas críticas, quanto na sua experimentação. Talvez tenha sido uma quantidade imensa de liberdade criativa para seus realizadores, o que só gerou um filme cheio de pretensões, mas que entrega muito pouco.