Desde 1994, ano do lançamento de Toy Story, o nível da animação vêm alcançando outro patamar. Muito disso deve-se ao incrível trabalho da Pixar nesse meio, que em termos técnicos e narrativos, propôs mudanças no curso desse tipo de filme, que colocam qualquer longa animado de igual para igual com qualquer drama de live action – não subestimando a capacidade de seu público e realizando obras com qualidades técnicas incríveis.
Diante disso há dois caminhos para quem realiza animação fora da Pixar ou alcançar o mesmo nível daqueles filmes, fazendo obras tão parecidas quanto, como Meu Malvado Favorito, ou propor algo completamente diferente, que não seja nem passível de comparações, caso do brasileiro O Menino e o Mundo, essa lógica deixa até os menores espectadores muito mais exigentes. E dentro dessas exigências é difícil acreditar que um filme como Norm e os Invencíveis se torne um sucesso.
O longa acompanha Norm, um urso polar com a habilidade de falar com humanos, que descobre um plano de construção de casas de luxo no ártico, assim Norm viaja até Nova York para impedir que destruam sua terra natal. Com essa trama, Norm e os Invencíveis parece querer seguir uma cartilha pré-estabelecida e encaixar toda sua narrativa dentro desse padrão: Norm precisa ter a figura do mentor, a figura da garota dos sonhos, o filme precisa passar uma moral, precisa de uma música de sucesso e parece que os realizadores acreditam que só a existência desses elementos é capaz de dar sucesso a Norm e os Invencíveis.
Assim, no longa dirigido pelo estreante Trevor Wall, tudo parece meio jogado na tela numa busca desenfreada para que o filme dê certo, personagens e mais personagens vão surgindo, cada um com seus problemas a ser resolvidos e se isso é uma tentativa de povoar o filme isso apenas vai deixando lacunas incríveis; e nisso não há tempo hábil para desenvolver e resolver os conflitos colocados no filme, o que gera resoluções que surgem do nada sem uma explicação narrativa, as coisas apenas se resolvem, o que de certo modo subestima e muito o público que não ver sua trama se desenvolvendo apenas se resolvendo sem preocupações.
E é bastante preocupante como Norm e os Invencíveis parece não acreditar na inteligência de seu espectador, talvez pela velha falácia de que a animação é para um público infantil e por isso não se deve atenção à aspectos narrativos/dramáticos. Dessa maneira, em seu conteúdo, Norm passa uma mensagem mastigada em uma trama que pouco funciona e por isso aposta todas suas fichas em seu lado cômico, mas nesse quesito também mostra-se incrivelmente subestimador.
Entregando-se a piadas apelativas para forçar a comédia entre os pequenos, indo para os hábitos nojentos de seus personagens, e se isso não funciona Norm e os Invencíveis coloca seus personagens para dançar literalmente, e a desajeitada coreografia do urso polar é a última aposta do filme, que tenta ser interessante, engraçado e moralizador, mas que consegue pouquíssima coisa.
Assim, se os grandes softwares e os incríveis equipamentos elevaram de maneira incrível o nível técnico da animação, o que vêm sendo notado é que mais importante de toda sua tecnologia é conseguir e confiar no diálogo de igual para igual com seu público alvo, o que torna qualquer longa de animação um prato cheio não só para as crianças, mas para o próprio cinema.