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Crítica | Star Wars: A Ascensão Skywalker

Star Wars: A Ascensão Skywalker encontrava-se em uma posição difícil mesmo antes de sua produção ter início, novamente nas mãos de J.J. Abrams. Os descompassos entre a abordagem que Abrams trouxe ao sétimo episódio da franquia e aquela que Rian Johnson apresentou para o oitavo capítulo não eram poucos, e a falta de um encerramento pré-estabelecido para este nono filme o tornaram uma incógnita não muito encorajadora a nenhum dos dois lados de sua fandom dividida.

Deve-se ressaltar que a trilogia original de filmes Star Wars também havia formado grande parte de sua narrativa e arcos conforme avançava, assim concebendo momentos emblemáticos e histórias de fundo marcantes, porém o fazia com o advento de ser o ponto de partida para um horizonte repleto de possibilidades. A Ascensão Skywalker, por sua vez, chega aos cinemas após mais de quatro décadas de reverência à franquia e seu cânone expansivo, sem a mesma margem de erro generosa para completar a missão.

Portanto há muito o que amarrar e ainda apresentar em suas duas horas e vinte de projeção, cuja passagem é sentida nas situações que se acumulam uma sobre a outra. Há também o compromisso tardio de reformular diversos elementos narrativos, na tentativa de reconquistar parte da base de fãs, o que soma a uma agenda lotada. Já desde a introdução, A Ascensão Skywalker deixa novas perguntas, mesmo quando está apresentando respostas aos mistérios dos episódios anteriores, sem se certificar de que há tempo suficiente para esclarecimentos – não há.

Da mesma forma, a progressão do longa se revela bastante estranha e artificial, como num esqueleto simplificado de um filme da série, encontrando motivações fraquíssimas para que as personagens se desloquem de um lugar ao outro – não há um, mas dois objetos que devem ser recuperados para avançar a missão. Os diversos obstáculos apresentados também se mostram supérfluos, sendo facilmente superados ou anulados assim que surgem em cena. Para fornecer um exemplo: imaginem que toda a estadia de Luke em Dagobah tomasse apenas 5 minutos de tela em O Império Contra-Ataca.

No entanto, como sempre, o esmero visual encontrado aqui, além do respeito pela construção de atmosfera, são capazes de sustentar o interesse de momento a momento, vez ou outra culminando em um instante belíssimo de magia cinematográfica – o “duelo” de Rey (Daisy Ridley) e Kylo (Adam Driver) no deserto é de tirar o fôlego. Em outras ocasiões, A Ascensão Skywalker ainda é capaz de minerar algumas das melhores ideias de seu predecessor para complementar a ação, como a conexão da força entre Rey e Kylo, resultando num jogo elegante de montagem e coreografia que faz jus aos melhores embates da saga.

Por falar em Rey e Kylo, estes dois continuam donos dos arcos mais interessantes da atual trilogia, mas é uma pena que ganhem, desta vez, um tempo de desenvolvimento menos equilibrado. As descobertas da heroína sobre seu passado e identidade são expandidas de forma mais instigante aqui – já era hora! -, porém o excelente antagonista possui tempo de tela limitado para que a conclusão de seu arco, o mais emotivo e promissor da nova safra, seja suficientemente bem amarrado. Ao menos, há duas grandes cenas dramáticas que aproveitam a potência do ator Adam Driver e fixam Kylo como uma das personagens mais trágicas e fascinantes da série.

É uma pena que as demais personagens, como Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac), aqui sejam muito pouco além de alívios cômicos, ainda ganhando – ambos – contrapartes femininas para dizer que não deixaram de receber conclusões satisfatórias. Por outro lado, é surpreendente notar como Leia fica bem posicionada na trama apesar do inesperado falecimento de Carrie Fisher, com aparições curtas mas presença não menos que monumental, que é incorporada a um dos mais climáticos momentos do longa. De resto, outros rostos – e vozes – familiares retornam com bons resultados, mas caso tenha evitado spoilers até agora, não ousaria entregá-los aqui.

Caso o espectador procure em Star Wars: A Ascensão Skywalker uma aventura espacial repleta de caprichos estéticos, que corra em um ritmo constantemente acelerado e forneça algumas possibilidades de vínculo emocional, sua vontade será muito provavelmente satisfeita, isto é, desde que não guarde um grande apreço por desfechos catárticos a suas franquias favoritas. Como o ponto final à saga Skywalker, contudo, A Ascensão Skywalker parece não reconhecer todo o peso do legado que o precede, ao mesmo tempo que joga demais no seguro, criando suspense sem de fato surpreender ninguém.

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