Paródias sempre costumam ser apostas um tanto extremas. Ou o humor da obra é criativo o suficiente para complementar aquilo que procura referenciar, ou ficamos com uma tentativa meramente empolgada de se tentar emular os mesmos elementos, porém com menos riscos. Patrulha Médica, infelizmente, se encaixa na segunda opção.
A nova série de comédia da Netflix é, na verdade, uma continuação da série do Comedy Central “Children´s Hospital”, onde a proposta inicial era parodiar séries médicas dramáticas como Greys Anatomy e ER. Com o tempo, a série foi descobrindo a liberdade de seu formato e expandiu sua comédia para muito além da mera satirização de elementos comuns às suas referências, e alguns anos depois de seu cancelamento, os produtores encontram ainda mais liberdade em uma nova proposta, que pega os personagens e o tom da série anterior, mas que agora aborda os típicos clichês e a atmosfera de filmes de ação atuais.
A graça da paródia, por aqui, vem de momentos onde abraça-se o clichê de outras produções de forma descarada. Logo no primeiro episódio, os dois protagonistas comentam de forma bem objetiva, o fato de estarem trabalhando em um hospital de São Paulo para médicos do exterior. A declaração é feita repetidamente, tentando tirar sarro das tentativas de exposição em filmes de ação onde os personagens precisam contextualizar o universo à sua volta.
O maior problema de Patrulha Médica no entanto, é que a escrita da série não parece possuir qualquer traço de originalidade para subverter ou aprofundar os elementos que referencia. Na verdade, o roteiro parece perfeitamente satisfeito consigo mesmo por meramente apontar que estes clichês existem, ao invés de tentar explorá-los. Se você não está acostumado às produções de ação e espionagem, tais “piadas” passam longe da sua compreensão, e mesmo para aqueles que sabem do que a série está falando, é um tanto desanimador perceber que não há muita graça por aqui além de “olha, filmes deste tipo sempre fazer isso”…
A série adentra um território que, por si só, já não é nem um pouco exótico para comédias, com dois exemplos servindo para comparar a abordagem em produções como esta. Primeiro, temos as comédias de Leslie Nielsen que tiravam sarro de filmes de ação, e da fórmula da franquia 007 em “Corra que Polícia Vem Ai”. Este é o exemplo que melhor exibe os resultados almejados por Patrulha Médica, onde as piadas são propositalmente rasas, e onde a graça está em justamente identificá-las como subversões de clichês do gênero. Sem o peso do ator e sem a mesma irreverência criativa, no entanto, a comparação acaba deixando a nova série mais irrelevante.
Por um outro lado, também poderia-se lembrar de Archer, que diferente de filmes, também precisa encontrar uma maneira de estender sua paródia em um formato episódico. Archer, no entanto, constrói um universo próprio que sustenta o engajamento do espectador por si só, e assume as suas referências com bem mais apropriamento do que este estilo de comédia costuma se dispor a fazer. Patrulha Médica, por sua vez, está contente em apenas apontar suas referências, e esperar o riso automático.
Filmes como “Todo Mundo em Pânico” e “Deu a Louca em Hollywood” sempre tiveram seu sucesso por conta da audácia de tirar sarro de outras obras conhecidas do público. Estas paródias geram entusiasmo por falarem de algo que já reconhecemos, e trazem aquela sensação de “piada interna” para o espectador. Mas mesmo estes filmes também poderiam ser acusados da mesma superficialidade que existe na maior parte de Patrulha Médica, com a grande maioria das piadas sendo extremamente “fáceis”, óbvias e sem qualquer relevância.
O mais irritante desta comédia rasa, é a maneira como os protagonistas (que não estão sozinhos nessa, na verdade) são tratados como estúpidos e incapazes de compreender qualquer diálogo. E uma vez abraçada esta estupidez, surgem piadas como “Faça tal coisa agora” “Ok. Quando?” “Agora!”, e espera-se que o público dê risada dessa falta de compreensão. Essa fórmula, inclusive, se repete pela temporada inteira, tentando apontar falas comuns em filmes de ação, e gerar humor por apenas repeti-las ao espectador.
É claro que humor é sempre subjetivo, e uma piada que não funciona para mim pode funcionar perfeitamente para um público diferente. No entanto, é preciso considerar que a comédia de Patrulha Médica é imperdoavelmente fácil, e se apoia constantemente em sua atmosfera de filme de ação para justificar seus métodos de satirização. A estética da série segue o que se espera do gênero, nos dias atuais, com a proposta se estendendo para a metalinguagem, e fazendo piada com, por exemplo, as típicas poses de personagens em cenas conclusivas. Mas, novamente, não há muito por aqui, além do apontamento de que “isso é um clichê em filmes em ação”.
Onde talvez pese mais a subjetividade, é na construção da trama de Patrulha Médica. Quem sabe que isto é uma paródia, com certeza não vai ligar para o que se chama de “furos de roteiro”, afinal, a própria série deixa bem claro que não está ligando para qualquer inconsistência do tipo (O fato da médica ter criado o Vírus, mas não ter lembrado disso desde o começo é talvez o maior exemplo). Assumem-se estas inconsistências de forma irreverente e escrachada, mas muitas vezes, também esquece-se de fazer alguma piada com elas, ao invés de apenas colocá-las em evidência.
Em comparação, a liberdade deste formato acabava sendo melhor aproveitada em Childrens Hospital, por conta do cenário limitado da série anterior, que precisava se esforçar para ir além do que tinha à sua disposição como referências. O humor ainda podia ser fácil, mas possuia um limite claro, e cedo ou tarde, era preciso ir mais longe para alcançar novas piadas.
Mas em Patrulha Médica, a enorme disponibilidade de elementos para se referenciar parece ter sobrecarregado os produtores, e o resultado acaba sendo pouco relevante para o que se propõe a fazer. Em sua curta temporada com episódios de vinte minutos, a série da Netflix dificilmente deixará espectadores entediados. Mas se conseguirá gerar riso constantemente, aí já é outra história…