Já falamos nesta coluna das séries novas que vão chegar na TV americana nos próximos meses, e não podemos deixar de notar a profusão de refilmagens, reboots, revivals, continuações, prelúdios e adições a “universos compartilhados” que a fall season desse ano nos ofereceu.
Parece que as emissoras não pegaram a dica das vidas curtas de Minority Report, Rush Hour e Limitless (que ainda não foi cancelada, mas é provável que seja) – a julgar pelos trailers, poucas das novas apostas devem durar por muito tempo tampouco.
A Fox aposta em Máquina Mortífera e O Exorcista, duas marcas que estão dormentes em Hollywood há um bom tempo. O quarto Máquina Mortífera saiu em 1998, e nada se fala de O Exorcista desde o fracasso absoluto do filme-prelúdio de 2004. Se fôssemos arriscar o nosso dinheiro em uma aposta sobre quais novas séries sobreviverão mais de uma temporada, definitivamente não apostaríamos em nenhuma das duas.
Máquina Mortífera chega com um clima de comédia de ação ultrapassado, um protagonista antipático, e não muito fôlego para tramas futuras – dificilmente Damon Wayans (Eu, a Patroa e as Crianças) pode salvar essa.
Enquanto isso, O Exorcista ganha em star power com a presença da veterana Geena Davis, sempre afiada na interpretação, e pode até funcionar em sua adaptação do livro original que inspirou o filme, mas será que há histórias aqui para sustentar mais de uma temporada? Normalmente, quando os roteiristas tentam esticar uma trama que não tem maleabilidade ficamos com coisas como The Following e Hostages, duas das piores séries dos últimos anos – talvez O Exorcista tivesse funcionado melhor como minissérie.
Enquanto isso, a ABC tem duas apostas um pouco mais interessantes no campo dos remakes: Still Star-Crossed, da produtora Shonda Rhimes (Grey’s Anatomy, Scandal); e Time After Time, baseado em uma aventura cult para o cinema de 1979. A primeira ganha pontos por contar com o nome de Shonda, que revitalizou quase sozinha a programação da ABC na última década – o elenco diverso e o senso acertado de dramatização nessa espécie de “sequência” para Romeu e Julieta em que os Montéquio e os Capuleto tentam fazer às pazes também são pontos positivos. É provável que Still Star-Crossed capture a imaginação do público com sucesso.
Já Time After Time chega com a sua premissa curiosa, embora pouquíssima gente vá se sentir atraído a série graças ao filme, uma pequena gema obscura da ficção científica: na trama, o escritor H.G. Wells, do clássico A Máquina do Tempo, de fato constrói a engenhoca, mas é surpreendido quando seu melhor amigo revela ser o assassino Jack, o Estripador e foge com a máquina para o futuro. O trailer é cheio de reviravoltas e tem dois protagonistas interessantes – embora provavelmente não vá ser uma obra-prima, Time After Time pode muito bem divertir, mas vai ter dificuldade de encontrar muito público.
https://www.youtube.com/watch?v=VN4C4Ar5BLo
Enquanto isso, na CBS, eles resolveram ressuscitar a lenda dos anos 80 Angus MacGyver. O personagem, que virou piada graças a seus planos mirabolantes usando objetos do cotidiano para criar e desativar bombas e afins, ganhará reboot (ou prelúdio?) na pele de Lucas Till (X-Men: Primeira Classe), que interpretará uma versão mais jovem do personagem, ainda em treinamento. O trailer pode desagradar os puristas, mas dá conta de que o novo MacGyver não vai se levar muito a sério, o que é ótimo – mas nós duvidamos que a onda de nostalgia dos anos 80, que parece nunca passar, leve a nova versão do agente muito longe.
https://www.youtube.com/watch?v=Gt8E6X6-744
Por outro lado, Dia de Treinamento foi transformado em um thriller sonolento na TV, esticando de forma ridícula a premissa do filme de 2001 para colocar um policial mais jovem na missão de “salvar” o seu parceiro, o cínico e corrupto detetive feito no piloto automático por Bill Paxton. Passe (muito) longe.
Enquanto isso, a NBC aposta em Busca Implacável, e a CW em Alta Frequência. O canal do pavão ganha o prêmio de um dos piores trailers da próxima fall season com Taken, que pega a premissa já rasa dos filmes estrelados por Liam Neeson e a transforma em uma paródia de si mesma, com o protagonista perdendo a filha ao invés de salvá-la, e sendo contratado por uma agência governamental para vingar sua morte. Com essa trama que está a quilômetros da original, é absolutamente improvável que o público considerável dos filmes goste da versão televisiva, e Taken deve ter uma morte tão rápida quanto Rush Hour.
Frequency parece bem mais bacana, mas é outro daqueles casos (como Time After Time) em que a audiência do filme não vai se transferir para a TV. Lançado em 2000, o ótimo thriller dramático Alta Frequência era estrelado por Dennis Quaid e recebeu ótimas críticas, mas não marcou época. Talvez por isso as mudanças consideráveis na trama da série não soem tão ultrajantes aqui, e talvez justamente por isso Frequency ganhe um público inesperado – afinal, a CW está em uma ótima fase.
https://www.youtube.com/watch?v=BL8Rl2n2C6Y
Além de tudo isso, vale lembrar que a CBS está produzindo uma nova Star Trek; que a NBC desenvolveu um spin-off de The Blacklist subtitulado Redemption; que a TNT produziu tanto uma série sobre a juventude de William Shakespeare quanto uma baseada no filme de 2010 Reino Animal; e que a NBC adicionou uma inusitada comédia da DC Comics, Powerless, à sua agenda.
https://www.youtube.com/watch?v=xXpPweAooeE
Os seus níveis de animação para esses projetos devem variar enormemente conforme a sua relação com os materiais originais, mas nós apostamos que a maioria delas deve sobreviver por um tempo baseado nos fãs e em outros detalhes de suas produções.