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Penny Dreadful | Final-surpresa da série irrita fãs; mas será que foi tão ruim?

ATENÇÃO PARA SPOILERS DA SÉRIE A SEGUIR!

Geralmente, quando uma série está prestes a chegar a seus momentos finais, as emissoras dão um aviso prévio. Recentemente, a FX anunciou que The Americans vai terminar em 2018, e a HBO fez o mesmo com Game of Thrones (e Girls, aliás, que termina em 2017) – não foi o caso de Penny Dreadful, que colocou no ar o seu derradeiro episódio ontem (19), sem aviso prévio, com uma mensagem fria de “The End” no final do capítulo “The Blessed Dark”, que viu mortes e trevas para todo o lado na Londres vitoriana.

O destino mais polêmico de todos agora que a série finalizou foi o de Vanessa Ives, a protagonista interpretada por Eva Green. Em um ato final de sacrifício, ela se entregou à Ethan Chandler (Josh Hartnett) e pediu a ele para matá-la a fim de que as forças do mal, lideradas por Dracula (Christian Camargo), não consigam o que querem dela. A Vanessa que se entregou à Drácula no episódio da semana passada de Penny Dreadful faz o sacrifício de suas própria vida para impedir que as trevas dominem o mundo.

“Vou sentir falta de Vanessa Ives”, diz atriz sobre fim da série

Durante o episódio, o lobisomem Chandler, ao lado dos aliados Sir Malcolm (Timothy Dalton), Kaetenay (Wes Studi), Catriona Hartdegen (Perdita Weeks) e Dr. Seward (Patti LuPone), combateu os vampiros e outras criaturas da noite que dominaram Londres após a união de Vanessa e Dracula. No outro extremo da trama, o Dr. Frankenstein (Harry Treadaway) desistiu de “domar” sua amada Lily (Billie Piper) quando ela lhe contou que seu desejo de vingança e violência vinha dos mau-tratos que sofreu na vida anterior. Lily em seguida confronta Dorian (Reeve Carney), que com sua imortalidade parece entediado demais com o mundo em decadência para se importar.

Para finalizar a conta das perdas e ganhos do finale de Penny Dreadful, John Clare (Rory Kinnear), a criatura de Frankenstein, perdeu o filho que mal conheceu para a doença que já o afligia, cujo estado piorou após Londres ser infestada por criaturas do mal. Outro final trágico para acrescentar à lista de Penny Dreadful.

Terminou mesmo?

“Alguns poemas são feitos para serem curtos, outros para serem sonetos, e outros ainda para serem épicos enormes. Esse sempre foi feito para ser um soneto”, confirmou John Logan, criador da série, em entrevista à Deadline. “Para mim, foi algo de graça e beleza. Eu acho que fui capaz de trabalhar em junção com os incríveis artistas que fizeram parte da série. Eu acho que é um final com o qual eu estou satisfeito, e revisitar esse mundo não faria sentido para mim”.

É realmente o fim para Penny Dreadful. Assinado em sangue e entregue direto à morada das trevas, o soneto gótico da Showtime terminou com a audácia de uma narrativa que sempre se permitiu ser trágica e bela ao mesmo tempo, uma carta de amor a seus personagens e uma homenagem sentida, agridoce, a uma época de preceitos e conceitos diferentes. Durante seus 27 episódios, Penny Dreadful encarnou com gosto um espírito de narrativa que andava morto em Hollywood, e seu final, por mais trágico que seja, faz muito sentido com o que a série sempre quis dizer.

O sacrifício de Vanessa é um que vem logo após a personagem ter se entregue às trevas dentro de si, aparentemente desistido de sua fé e encontrado uma espécie de paz ao se tornar a rainha do mal ao lado de Dracula. Se seguisse reinando assim, o final de Vanessa seria ainda mais terrível – há algo de nobre em seu sacrifício, em sua entrega às mãos de Ethan, cujo destino no final das contas sempre foi matar a mulher que amava. Uma vida de violência que termina com um ato nobre e iluminado de mais violência – as duas faces da moeda que Penny Dreadful sempre quis retratar.

No nosso review do primeiro episódio da terceira temporada (leia aqui), dissemos que Penny Dreadful era uma série sobre personagens tão corajosamente falhos, únicos e humanos que eram considerados monstros. Em frente a monstros de verdade, Vanessa Ives escolheu morrer como uma mulher, não como a rainha das trevas. Como um retrato das sombras que existem dentro de cada um de nós, e dos caminhos violentos e assustadores para os quais podemos ser empurrados por uma sociedade que nos rejeita por sermos diferentes, Penny Dreadful terminou dando aos seus personagens um destino terrível, mas também terrivelmente belo. Nada mais apropriado.

O legado

Garantidamente, o final de Prenny Dreadful não agradou todo mundo. Manifestações de revolta no Twitter e nas redes sociais da série não faltaram – uma parte disso é a surpresa, o choque, e outra parte é um desagrado com a morte de Ives, que sempre foi a personagem favorita do público (com toda a razão). E tudo bem, é claro que você tem o direito de discordar da minha defesa do final de Penny Dreadful – o que é difícil de negar, no entanto, é o legado imensamente positivo que a série deixa para o cenário televisivo.

Penny Dreadful nos mostrou que versões revisionistas de obras clássicas não precisam ser todas Van Helsing (2004) ou Victor Frankenstein (2015); é possível fazê-las mais profundas e interessantes, contar uma história nova com coisas novas para dizer através dos mesmos personagens, e se apoiar ao mesmo tempo naquilo tudo que os tornou clássicos. Penny Dreadful também nos mostrou que mergulhar fundo na psique dos personagens ainda vale a pena, e que acreditar neles o bastante para passar episódios inteiros destrinchando seus passados é um movimento fascinante que só é permitido pela mídia da TV, e os criadores deveriam aproveitar isso.

Penny Dreadful trouxe poesia para a nossa grade semanal de séries. Trouxe um senso de trágico, de kitsch e de horror que inexistia no cenário televisivo antes dela, e que aos poucos começa a mostrar a cara em títulos diferentes por aí. Acima de tudo, no entanto, Penny Dreadful é um exemplo de televisão orientada por um respeito ao autor e às suas ideias de como e quando uma história precisa terminar. É quase revolucionário, porque se permitiu ser inteiramente a visão de um só artista, mesmo que seja também o resultado da colaboração dele com tantos outros.

Goste ou não da visão de John Logan para o final de Penny Dreadful e de Vanessa Ives, é preciso celebrá-lo pela coragem de ser, como seus personagens, inteiramente autêntico, estranho, complexo, sombrio e idealista. Foi um prazer, por três anos, testemunhar um pedaço de televisão tão audacioso episódio após episódio.

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