Pancadaria

Crítica – O Último Mercenário

Longa de ação da Netflix estrelando Jean-Claude Van Damme mistura humor e ação em narrativa nostálgica

Talvez algumas gerações mais novas não saibam o significado da sigla JCVD, ou o quê raios são “Os Músculos de Bruxelas”?

Contudo, para aqueles que cresceram no final da década de 80 e início dos anos 90, tais denominações se resumem no ator especializado nas artes marciais Jean-Claude Van Damme.

Sim, este homem belga, nascido em Bruxelas, capital do país, que porta 1,77cm de altura, já foi o sinônimo de ‘bom de briga’ para algumas gerações passadas.

Van Damme que foi um protegido de Chuck Norris, outra lenda das artes marciais no cinema, começou a carreira como segurança de bar; depois Norris colocou a jovem estrela da luta como parte de sua equipe de dublês no longa de ação Braddock – O Super Comando (1984); em seguida, gravou seu primeiro projeto em um papel de destaque, como o antagonista de Retroceder Nunca, Render-se Jamais (1986).

Mas, foi no ano de 1988, que o astro belga deixou sua primeira grande marca em Hollywood, como o protagonista do vibrante O Grande Dragão Branco. Pelo filme dirigido por Newt Arnold, tivemos a oportunidade de notar o vigor atlético, além das habilidades coreográficas de Van Damme, especialmente com as pernas.

Pouco depois, estrelou Kickboxer – O Desafio do Dragão (1989), e mais uma porrada de produções pela década seguinte, que incluem alguns sucessos marcantes e uma obra muito acima da média, a ficção científica Timecop – O Guardião do Tempo (1994) de Peter Hyams.

Chegando em 2021, obviamente, basta observar para perceber que Jean-Claude Van Damme não é mais alguém de destaque, ou mesmo um ator que apareça fazendo pequenas participações em grandes filmes de Hollywood. Mas, quem disse que a Netflix vai deixar seus assinantes sem saber quem foi JCVD?!

Deste modo, temos a chance de conhecer um pouco do astro da luta pelo longa-metragem O Último Mercenário, já disponível na plataforma de streaming. Richard Brumère (Jean-Claude Van Damme), também conhecido como “La Brume” (“The Mist”), é um ex-agente especial do serviço secreto francês que se tornou mercenário, que está de volta à sela quando a imunidade concedida 25 anos antes para seu filho Archibald (Samir Decazza) é suspensa. Uma operação da máfia ameaça a vida de Archibald. Para salvá-lo, Richard terá que buscar seus antigos contatos, unir forças com um bando de jovens imprudentes e um burocrata excêntrico – mas principalmente encontrar a coragem de deixar Archibald saber que ele é seu pai.

“Greatest Hits”

Para começo de conversa, deixemos quem está lendo até aqui, saber que a estrela principal de O Último Mercenário tem 60 anos de idade. Sim, JCVD é um homem sexagenário!

Assim, quando tomamos conhecimento de um profissional, que passou toda a vida distribuindo sopapos e chutões estilizados, está de volta à ativa, fica aquela interrogação de saber se o próprio tem físico e potência para repetir tamanhas acrobacias de luta.

A resposta é: sim!

No entanto, não vão imaginando que esta recente produção original da Netflix é, exclusivamente, um robusto petardo do cinema de ação. Para se ter uma ideia, ao longo dos 112 minutos de duração, teremos apenas duas grandes sequências de luta corpo a corpo.

O Último Mercenário não almeja se levar tão a sério, desta maneira, testemunharemos uma considerável dose de humor dentro desta história entre pai e filho. Mais: um humor quase farsesco, do tipo pastelão mesmo, que fica entre acertos e erros pela narrativa.

No meio destas inúmeras situações cômicas, rola boa ação nas competentes cenas de perseguição de carro pelas ruas de Paris, na França, além de alguns momentos favoritos para os fãs do astro, que incluem o bom e velho espacate, e o gancho nos “países baixos” em um dos caras malvados da trama.

Até uma dancinha à la Kickboxer – O Desafio do Dragão rolou!

Legado

Lamentavelmente, virou fato costumeiro questionar atores/atrizes de idade mais avançada, por algumas escolhas de carreira que alguns julgam serem humilhantes, ou mesmo até manchas no legado destes mesmos.

Exemplo: Robert De Niro tem ganhado muitas críticas de uma porção do público em tempos recentes, por escolher atuar em comédias consideradas abobalhadas por uma grande maioria, como Tirando o Atraso (2016) e Em Guerra com o Vovô (2020), por exemplo.

Todavia, tais argumentos mostram-se como algo um tanto imaturo, por duas vias: primeiro, por não compreendermos que mesmo profissionais do cinema renomados por toda uma vida, também têm contas para pagar, e na maioria dos casos, faturas de valores astronômicos, que incluem dívidas, acordos em divórcios, pensões,  e afins; segundo, não se mostram capazes de assimilar o real conceito do que é um legado.

Geralmente, a herança de um artista, seja este qual for, se dá em um específico período no tempo onde seu trabalho foi mais visto ou admirado pelas razões determinadas pela época. Sabendo que em Hollywood nada dura para sempre, tudo parece um tanto mais efêmero.

No caso de Robert De Niro, foram as últimas três décadas do século passado; agora, para Jean-Claude Van Damme, entre os finais das décadas de 80 e 90.

Está lá, não pode ser apagado! O impacto cultural aconteceu como foi. Assim, JCVD se encontra no direito de no momento não se levar tão a sério, como é o caso de O Último Mercenário da Netflix.

Certamente, no dia em que ele não estiver mais entre nós (bater três vezes na madeira), as manchetes dirão: “Morre Jean-Claude Van Damme, astro dos filmes “O Grande Dragão Branco” e “Kickboxer – O Desafio do Dragão.”

Isso que é legado!

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