Quando disseram que iriam adaptar os quadrinhos de Joe Hill, que levam o mesmo nome da série Netflix, houve muita empolgação. Já que o material original, conquistou o coração de considerável parte dos fãs de quadrinhos, em especial aqueles que são amantes da fantasia e terror.
Lançada a primeira temporada no começo de 2020, concluímos que apesar de agradável e visualmente atraente, Locke & Key não foi capaz de aproveitar o melhor do material escrito por Joe Hill, que é filho da lenda Stephen King.
Agora, encontra-se disponível no catálogo da plataforma, a segunda parte da série fantasiosa que evoluiu em comparação com a anterior, mas que ainda demonstra certa frouxidão no fio narrativo. Deixando a maior parte da temporada cozinhando em temperatura morna.
Em Locke & Key, depois que Rendell Locke (Bill Heck) é assassinado nas mãos do ex-aluno Sam Lesser (Thomas Mitchell Barnet), sua esposa Nina (Darby Stanchfield) decide se mudar com seus três filhos, Tyler (Connor Jessup), Kinsey (Emilia Jones) e Bode (Jackson Robert Scott), de Seattle para Matheson, no estado de Massachusetts, e passam a morar na casa da família de Rendell, batizada como Keyhouse. As crianças logo descobrem uma série de chaves misteriosas pela casa que podem ser usadas para destrancar várias portas de maneiras mágicas. Porém, também tomam conhecimento de uma entidade demoníaca que está procurando as mesmas chaves para seus próprios propósitos malévolos.
Material promissor, resultados (um pouco) frustrantes
Se tem uma coisa que deixou boa impressão ao fim da primeira temporada de Locke & Key, esta foi a direção de arte da série desenvolvida pelo trio Carlton Cuse, Meredith Averill, e Aron Eli Coleite. Seja pelo grande casarão, cenário principal da produção original Netflix, até os diferentes designs das chaves mágicas que estão espalhadas pela residência da família Locke. Junto dos efeitos visuais cirúrgicos que não exprimem grandiosidade, mas criam uma atmosfera identificável para este tipo de material, formam o que de melhor tivemos até o momento.
Isto se repete na atual temporada. Eis o problema!
Quando se eleva o cenário e outros adereços ao nível do protagonismo de uma história, naturalmente suas personagens são rebaixadas a elementos coadjuvantes desta. Consequentemente, o elenco deverá demonstrar maior presença em cena para que não sirva apenas como pretextos para as ações do enredo.
Este fenômeno é muito comum nos filmes do visionário Tim Burton, onde o mundo que ele cria, torna-se muito maior que seus personagens e a história que está contando, como por exemplo: A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005), Alice no País das Maravilhas (2010) e Dumbo (2019).
Isto se apresenta como uma opção narrativa (muito) arriscada, pois geralmente figura uma progressão menor do que para as personagens. Desta maneira, observará um esvaziamento narrativo em uma frequência mais alta do que as possibilidades de evolução para aquilo o que quer transmitir.
Bem morninho!
Outro destaque negativo de Locke & Key da Netflix vem pelo ritmo em baixa que a narrativa entrega ao assinante. São raríssimos os momentos de uma dinâmica que eleva a trama às alturas. Lamentavelmente, pela maior parte desta segunda temporada testemunharemos eventos que progridem, mas dificilmente empolgam quem assiste.
Para se ter uma ideia, só a partir do terceiro episódio intitulado ‘A casa de bonecas’ que sentimos que a narrativa deu partida. E, em nenhum momento pela parte central deste segundo volume percebemos engatar a terceira marcha. Isto só ocorrerá nos momentos derradeiros da série fantasiosa.
Alguns episódios são o exemplo perfeito desta apatia narrativa encontrada em Locke & Key: ‘O passado é um prólogo’; ‘O labirinto’; e ‘O plano perfeito’.
Em ‘O labirinto’, o que poderia figurar momentos de enorme tensão para o espectador, revela-se como uma passagem extremamente burocrática, incapaz de envolver o assinante da Netflix, seja pelo entretenimento, ou mesmo emocionalmente. Muito morno, sem vibração, energia!
Discorrendo os fatos e eventos deste modo, gera mais preguiça do que interesse, infelizmente.
A Família Locke
A cartada final desta indolência analisada pela segunda temporada vem através do elenco principal, no caso, a família Locke constituída de mãe e três filhos.
Não é segredo algum que o coração de Locke & Key está na interação entre os irmãos Tyler, Kinsey e Bode. Só que dos três, apenas um mostra a que veio: o caçulinha interpretado por Jackson Robert Scott.
Como foi dito anteriormente, uma direção frouxa afeta todos os segmentos que envolvem a construção e evolução da narrativa, principalmente as performances dos atores. Os irmãos mais velhos, papéis de Connor Jessup e Emilia Jones, representam muito bem essa sonolência espalhada pelo enredo. Falta autenticidade, inconformismo, fúria, tristeza, e outras coisas mais.
Apenas, o pequeno ator Jackson Robert Scott conseguiu driblar alguns vícios comportamentais, e terminou como um destaque positivo nesta segunda parte. No episódio final da temporada, até foi fácil se comover na cena onde ele leva sua mãe de volta ao passado, enquanto ela assava uns pãezinhos de canela, revelando uma surpresa para o seu marido.
Curiosamente, também tivemos outros dois atores que conseguiram apresentar algo digno, apesar de representarem personagens do tipo unidimensionais: Griffin Gluck e Hallea Jones, intérpretes de Gabe e Eden, respectivamente.
Devemos lembrar que para uma narrativa fluir, é determinante que o coração da história bata sempre forte, no entanto, existe uma falta de ritmo perceptível nos batimentos que bombeiam as tramas desta produção original da Netflix.
Em direção à próxima temporada
Já foi confirmado que teremos uma terceira parte de Locke & Key. Pela cena final desta atual fase, já sabemos quem será o antagonista da vez, que promete virar tudo de cabeça para baixo na residência Keyhouse.
Fica a torcida para que consigam ativar alguns pontos que se encontram dormentes, pois só assim poderemos absorver o que de melhor temos nos quadrinhos de Joe Hill.
Até o momento, Locke & Key da Netflix cumpre com as tarefas básicas, passando bem longe de assustar ou comover através de seu mundo de fantasias.