O streaming garante maior liberdade às séries quando o assunto é a duração de cada episódio. Enquanto na TV tradicional tudo precisa se encaixar dentro da programação do canal, incluindo o devido espaço para intervalos comerciais, nas plataformas como Disney+, Netflix e afins, a flexibilidade é maior. Isso se aplica às séries da Marvel, incluindo Gavião Arqueiro, que teve seu primeiro episódio curto.
Com pouco mais de meia hora de duração, esse terceiro capítulo da série, intitulado Ecos, não acrescenta muito à trama como um todo. Dito isso, ele, sim, movimenta a narrativa com alguns poucos pontos importantes, especialmente no que diz respeito à construção de uma nova figura do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) e o relacionamento de Kate Bishop e Clint Barton.
Os primeiros minutos do episódio são dedicados à história de origem de Eco. Trata-se de uma versão bem resumida, que deve ser melhor explorada na vindoura série solo da personagem, já confirmada para o Disney+. Curiosamente, mais tempo é dedicado à infância da “vilã” (esse status não deve durar muito) do que à de Kate Bishop, que ganhou uma sequência animada que resume o treinamento dela.
É compreensível, no entanto, essa atenção que a personagem recebeu. Primeiro porque é preciso explicar o vínculo dela com o Ronin, a tal ponto que precisamos entender a motivação dela em ir atrás da ex-persona de Clint Barton. Segundo porque o público precisa gostar o suficiente de Eco para sentir vontade de mergulhar em uma obra focada nela futuramente.
O que vemos a partir daí é o esperado: uma longa sequência que mostra a óbvia fuga do Gavião Arqueiro e de Kate Bishop do esconderijo da gangue do agasalho. Novamente a série do Disney+ apresenta uma de suas maiores fraquezas: as cenas de ação, que, ao menos, apresentaram leves melhorias nesse terceiro capítulo.
O grande problema de Gavião Arqueiro
Nos momentos menos agitados, como tomadas em câmera lenta, ou com dos protagonistas preparando uma flechada, a ação funciona em Ecos. São momentos que divertem, com muitos dos alvos sendo acertados de forma criativa, o que imediatamente deixa clara a habilidade dos dois com o arco. Isso dialoga com o roteiro, ao passo que o reconhecimento de Barton em relação a Kate é ponto importante para o desenvolvimento do relacionamento dos dois.
Já as sequências que envolvem, de fato, mais movimento, não funcionam tão bem. Isso fica bem claro quando Clint pula de estante em estante no esconderijo da gangue (e magicamente ninguém atira nele) e durante a perseguição de carros, que definitivamente não parecem estar em alta velocidade. Esse último problema, por sinal, é bastante comum em produções hollywoodianas – são pouquíssimas as produções que conseguem passar a ilusão de velocidade nessas perseguições, o que pode ser feito por meio da direção, montagem, ou, de forma mais arriscada, com filmagens a alta velocidade de fato.
Assim sendo, a ação irregular muitas vezes imprime artificialidade em tais sequências, o que quebra a imersão do espectador. Em uma série de super-heróis, a última coisa que esperaríamos é torcer para o fim dessas cenas, mas esse é o caso de Gavião Arqueiro, que brilha de verdade nos momentos de interação entre Kate Bishop e Clint Barton.
Por sinal, ainda que esses momentos sejam mais pontuais nesse terceiro capítulo, Hailee Steinfeld continua ótima no papel, contrapondo a personalidade mais empolgada da personagem dela perfeitamente ao lado ranzinza do personagem titular de Jeremy Renner. O astro também está consideravelmente melhor que no capítulo inaugural do seriado, o que já vimos no segundo episódio.
Grande parte do humor parte justamente da relação entre os dois e a forma como a série faz uso do problema de audição de Barton é criativa, mostrando como os dois pensam de maneira similar, sem necessitar de muitos diálogos. De fato, o episódio praticamente traz diversos monólogos, já que em boa parte dele os dois não se entendem plenamente.
Além disso, pela primeira vez efetivamente sentimos o peso da necessidade de Barton retornar para os filhos no Natal, o que é crucial para o funcionamento do lado dele da história. Digno de nota é como o roteiro de Katrina Mathewson e Tanner Bean constrói isso ao mesmo tempo que faz Bishop e Barton se aproximarem, aproveitando cada minuto da projeção para desenvolver os personagens. Cada vez mais enxergamos como eles trabalham bem juntos, o que vale tanto dentro das sequências de ação, quanto fora delas.
Assim sendo, Ecos é um bom episódio como um todo. Ele desenvolve o relacionamento dos protagonistas, enquanto introduz uma nova importante personagem. A trama geral poderia ter avançado mais e as sequências de ação deixam a desejar, mas a interação entre Clint e Kate mais uma vez prende a atenção do espectador, trazendo humor mas não à custo do peso da narrativa. O que falta apenas é uma urgência maior a fim de manter o interesse semanal do público – esperamos que isso apareça logo.
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