Quando o cineasta Paul Verhoeven anunciou a produção do drama Benedetta, encontrou grande resistência por parte de religiosos. O filme que conta a história de uma freira lésbica foi aplaudido de pé no Festival de Cannes, mas acabou se tornando alvo de protestos de uma organização conservadora dos Estados Unidos. Chamado de “blasfêmia”, o longa tem tudo para ser um dos mais controversos do ano.
A raiz do ódio religioso direcionado ao filme pode ser encontrada em seu próprio roteiro. Benedetta é baseado no livro “Atos Imodestos: A Vida de uma Freira Lésbica na Itália da Renascença”, escrito por Judith C. Brown em 1986.
O filme conta a história do proibido e tocante relacionamento amoroso e sexual entre duas freiras, em um convento italiano do século XVII.
Com 84% de aprovação no Rotten Tomatoes, Benedetta parece ter desagradado apenas os religiosos conservadores. Seu elenco é formado por Virginie Efira, Lambert Wilson, Daphne Patakia, Charlotte Rampling e Olivier Rabourdini.
Freiras lésbicas e a polêmica religiosa de Benedetta
Diversas organizações conservadores, como a Sociedade Americana Para a Defesa da Tradição, Família e Propriedade – que também luta contra os direitos da população LGBTQIA+ – protestaram o lançamento de Benedetta nos Estados Unidos.
A organização chegou ao ponto de fazer manifestações presenciais e piquetes contra o filme. Os atos contaram pouquíssimas pessoas, além de cartazes com os dizeres “blasfêmia” e “pornografia”.
Consultada pelo site Insider, a Irmã Helena Burns, que é integrante da ordem religiosa Filhas de São Paulo, também criticou o filme de Paul Verhoeven, mas com um argumento diferente e menos carregado.
“Eu posso dizer que Benedetta é um filme ruim, já que como vários outros longas sobre freiras, deseja unir dois pólos opostos. No cinema, todo mundo acha que as freiras só pensam em sexo. Mas não é assim. Nós não somos obcecadas por sexo. Na verdade, são vocês que têm essa obsessão”, comentou a religiosa.
Burns afirma também que protestos contra Benedetta não são uma boa ideia, particularmente pelo fato de Paul Verhoeven ser conhecido por seus filmes controversos.
Considerado um dos diretores mais provocativos da Europa, Verhoeven é famoso por clássicos cult como RoboCop, Total Recall e Instinto Fatal.
A Irmã Burns acrescenta também que a caracterização negativa de freiras no cinema é um reflexo do fato de as religiões não serem mais levadas tão a sério na sociedade – devido aos escândalos das próprias organizações religiosas.
“Olhe para os escândalos. Olhe para os escândalos sexuais. Veja o que está acontecendo na França, tudo que está sendo descoberto. Nós estamos sendo vigiados”, afirmou a freira.
Em outubro deste ano, a agência de notícias France-Presse reportou os resultados de uma investigação sobre o abuso sexual de crianças na Igreja Católica do país.
O estudo concluiu que mais de 3 mil pedófilos operam dentro da instituição como padres, bispos e outras figuras religiosas, desde os anos 50.
Logo após a divulgação dos resultados, a Igreja Católica da França anunciou planos de vender propriedades e imóveis para pagar indenizações às vítimas de abuso sexual pelas mãos dos clérigos.
No Brasil, Benedetta tem previsão de estreia para 13 de janeiro de 2022; veja abaixo o trailer legendado do longa.