Para aqueles que adoravam explorar a sessão extras dos DVDs ou Blu-rays: lembram-se quando tinha a opção ‘Erros de gravação’, e logo clicavam para dar boas risadas com os erros e bobagens que aconteciam na interação entre os atores, onde geralmente observavam membros do elenco caindo na gargalhada, às vezes só de olhar fixamente a expressão séria do(a) companheiro(a) de cena?!
Então, talvez seja esta a melhor maneira de exemplificar Murderville, nova série cômica da Netflix, baseada na série de televisão da BBC Three Murder in Successville.
Murderville consiste em seis episódios que exploram a rotina diária do excêntrico detetive Terry Seattle (Will Arnett) que se junta às celebridades convidadas para investigar uma série de assassinatos nesta comédia de crime improvisada.
Bom policial
Se houver algum segredo para o sucesso desta nova série Netflix, certamente irá depender de apenas uma coisinha: quem será a estrela convidada para participar daquele episódio?
A única certeza que temos em Murderville é o talento cômico do protagonista Will Arnett, que não é das faces mais reconhecidas em Hollywood, em vista que sempre interpretou papéis de menos destaque. Definitivamente sua performance de mais sucesso em toda a carreira não necessitou de seu corpo e expressões, mas apenas de sua voz, uma vez que foi ele quem dublou o Batman na divertidíssima animação Uma Aventura LEGO (2014); o êxito foi tamanho ao ponto de ter ganhado um filme-solo com LEGO Batman: O Filme (2017).
Assistindo cada um dos seis episódios ficou muito claro que Arnett depende muito da abertura e disposição com o improviso para que as piadas ou lances bem humorados realmente funcionem em cena. Nos episódios estrelados pelos convidados Kumail Nanjiani, Annie Murphy e Ken Jeong, notamos como as coisas fluem com mais naturalidade, principalmente porque todos os três tiveram que fazer um pouco de esforço para segurar o riso na presença das asneiras e absurdos – mesmo aqueles mais infantilizados – que saem da boca do investigador de polícia.
Mau policial
Agora, também temos o outro lado da moeda, de modo que tivemos convidados que pouco ou nada pareciam à vontade em cena. O que é uma pena, já que igualmente são tão talentosos quanto o protagonista com quem contracenaram, ou mesmo com todos os outros convidados que fizeram rir pelas situações mais incoerentes que puder imaginar.
Na coluna dos episódios que mais constrangeram do que qualquer outra coisa, temos: o apresentador de talk show Conan O’Brien, o ex-jogador de futebol americano Marshawn Lynch, além da mundialmente famosa atriz americana Sharon Stone.
Sendo que os dois primeiros representam o momento mais baixo nível da produção Netflix; lamentamos ainda mais pelo capítulo estrelado por Conan O’Brien, que é reconhecido (merecidamente) como um dos grandes apresentadores de televisão deste século.
Conclusão
Apesar de Murderville ser baseado no improviso cômico, possui uma estrutura que se manteve igualzinha por todos os episódios. Mesmo as falas de alguns personagens são repetidas, como a chefe de polícia e ex-esposa do protagonista que sempre anuncia com grande urgência no início de cada caso que houve um assassinato.
Antes disso, sempre vemos o personagem de Arnett interrogar o convidado estrelado com perguntas embaraçosas, que no final deve dar sua opinião sobre quem foi o assassino em questão. Nesse momento, testemunhamos que a série cômica da Netflix está tirando um barato com reality shows, como O Aprendiz, programa televisivo que teve o ex-presidente americano Donald Trump como apresentador por quatorze temporadas.
Caso Murderville ganhe uma segunda temporada e mais, decididamente precisa escolher melhor seus convidados especiais, uma vez que são eles quem definem as qualidades e os problemas encontrados na série Netflix. Por enquanto, recebemos uma primeira parte que se mostrou apenas irregular, porém, sabemos que dá para fazer mais com este material.
Basta separar o trigo do joio.