Entregar astros do porte de Orlando Bloom, Aya Cash (You’re the Worst), Malin Akerman, Dave Franco, Elizabeth Reaser e muitos outros nas mãos do cineasta, roteirista e produtor Joe Swanberg é uma jogada de gênio da Netflix. Em Easy, o fundador do movimento “mumblecore” cria uma estranha intimidade com esses atores tão reconhecíveis, e nos permite vê-los interpretando pessoas de verdade, o que é mais raro do que parece.
O “mumblecore” surgiu mais ou menos ao mesmo tempo que o filme de estreia de Swanberg na direção, Kissing on the Mouth, de 2005, e Easy parece uma evolução natural do estilo. No início, o “mumblecore” era fundado não só em diálogos naturalistas e uma preocupação maior com personagem e atmosfera do que trama, mas também na escalação de atores desconhecidos do grande público. Conforme foi absorvido pelo mainstream (especialmente através de séries como Girls e Transparent, entre outros), o mumblecore passou a ser mais “receptivo” a astros de primeira grandeza, e o efeito disso em Easy é fascinante.
A primeira temporada de Easy tem 8 episódios e se estrutura como uma antologia, contando uma história diferente a cada um deles. O tema unificador são os relacionamentos, as diferentes fases, crises e estilos de convivência imbuídos neles. Vemos um futuro pai escondendo um projeto pessoal da esposa grávida, a tensão entre um pai dono-de-casa e uma mãe trabalhadora, a visita de um ex-namorado à casa de um casal, a jornada de duas mulheres que se beijam em um show do “sexo sem compromisso” a um relacionamento sério. E por aí vai.
Sem novidade no front
Desde que deu as caras no cenário narrativo (cinematográfico e televisivo), no entanto, o problema com muitas das obras de Swanberg é o mesmo: em sua busca por intimidade e realismo, ele abdica de uma prerrogativa importante da narrativa, a do significado maior. De fato, a vida real não tem um significado maior na maioria das vezes – mas não é a própria missão da narrativa ficcional escavar e encontrar esse significado? Grandes obras do passado e do presente diriam que sim, reflitam elas um mundo mais realista (como Girls, supracitada) ou não (Game of Thrones e afins).
O resultado da abordagem de Joe Swanberg, que escreveu e dirigiu todos os episódios de Easy, é que a série encontra poesia inconsequente no cotidiano dessas pessoas e nas crises que elas passam, mas não encontra um tema, uma tese ou uma sentença que queira passar. No final das contas, a impressão é que são muitos minutos que passamos conhecendo esses personagens, e poucos que passamos entendendo e vendo suas vidas se desenrolarem. Talvez o problema seja o formato, e talvez seja só o estilo de Swanberg.
As atuações são dignas de pagar para ver, no entanto. Atores anteriormente limitados revelam novas facetas quando relaxam diante da câmera de Swanberg, e intérpretes poderosos encontram uma forma de se expressar de forma mais sutil diante do estilo naturalista do diretor. Easy é uma série charmosa e fugazmente tocante, mas não é um dos grandes momentos da carreira de ninguém envolvido.