Críticas

Crítica 2 | Missão: Impossível – Nação Secreta

O ano de 2015 no cinema pode ser resumido até agora em duas grandes categorias: a das sequências de franquias de grande sucesso tais como Os Vingadores, Mad Max (cujo novo filme, Mad Max: Estrada da Fúria é para mim, até o momento, o filme do ano) e Star Wars (seu novo episódio, Star Wars: O Despertar da Força é, disparado, a produção mais aguardada da temporada e a única, a meu ver, que pode superar o filme de George Miller); e o de filmes de espionagem como Kingsman: Serviço Secreto (um sucesso-surpresa) e o novo filme da franquia James Bond, 007 contra Spectre (que também gera grandes expectativas). Missão: Impossível – Nação Secreta é um filme que encaixa-se nestas duas categorias e, de forma despretensiosa, já é um dos grandes sucessos desta temporada tão competitiva.

O agente Ethan Hunt (Tom Cruise, de Top Gun), da IMF (sigla de Impossible Missions Force, que, em inglês, significa Força de Missões Impossíveis), órgão do serviço secreto dos EUA, investiga há mais de um ano uma organização de assassinos chamada de o Sindicato, cujos membros têm o mesmo treinamento de Hunt e seus colegas, o que faz dessa organização uma verdadeira agência anti-IMF. Após a morte de uma agente em Londres provocada pelo próprio chefe do Sindicato, Solomon Lane (o inglês Sean Harris, de Prometheus), Hunt é capturado, mas consegue escapar com a ajuda de Ilsa Faust (a sueca Rebecca Ferguson, de Hercules), uma agente renegada do MI6, o serviço secreto britânico e que faz jogo duplo.

Porém, o governo estadunidense não acredita na história de Hunt, principalmente devido às atitudes questionáveis da IMF em missões anteriores, de modo que, a pedido do chefe da CIA (Alec Baldwin, de O Sombra), a agência é extinta apesar dos apelos do chefe desta, William Brandt (Jeremy Renner, da franquia Os Vingadores). Sem nenhum apoio de seu próprio país, Ethan age por sua conta e pede ajuda a seus amigos Benji (o também inglês Simon Pegg, da franquia Star Trek) e Luther Stickell (Ving Rames, de Pulp Fiction).

O diretor Christopher McQuarrie, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro em 2006 por Os Suspeitos, está em seu terceiro filme como diretor (os anteriores foram A Sangue Frio e Jack Reacher) e mostra pleno domínio da câmera, seja na direção de atores ou em cenas de ação – auxiliado pelos efeitos especiais muito bons. Destas destacam-se as cenas embaixo d’água e a perseguição de motos. Também é dele o roteiro – junto com Drew Pearce – que, diga-se de passagem, é de grande qualidade e faz lembrar muito a série original de TV.

O filme tem locações em Rabat (Marrocos), Viena e Londres. Aliás, a produção fez bem em filmar na capital inglesa, pois, desde o lançamento, no século XIX, dos romances de Sherlock Holmes e, posteriormente, no século XX, de James Bond, que esta grande metrópole é conhecida como a cidade do mistério e da espionagem, o que ajuda, e muito, no clima de suspense. A trilha sonora de Joe Kraemer, inspirada pelo tema clássico composto pelo argentino Lalo Schifrin, é boa e encaixa-se bem em todas as cenas.

Tom Cruise usa todo o seu carisma e está ótimo repetindo o papel de um dos mais famosos agentes secretos do cinema. Ele continua dispensando a ação de dublês em várias cenas de ação e está em muito boa forma aos 53 anos. Embora a franquia seja para seu estrelato, Cruise dá uma “colher de chá” para seus companheiros de filmagem brilharem. O bom Jeremy Renner – um astro em ascensão – convence muito bem como o chefe da IMF. É só uma questão de tempo para ser o astro de sua própria franquia. E o experiente Alec Baldwin também não desaponta como o chefão da CIA.

Dois atores ingleses se destacam nesta produção. O primeiro é Sean Harris. Se Renner convence em seu papel de um dos heróis, Harris convence muito mais como o sinistro vilão Solomon Lane. É impressionante como com um simples olhar, ele consegue mostrar sua natureza fria e calculista e, mais adiante, sua raiva interior. O outro é o ótimo Simon Pegg. Visto inicialmente apenas como o contraponto cômico ao heroísmo de Cruise, Pegg consegue mostrar que, quando necessário, consegue encarar de igual para igual o principal agente da IMF e, por várias vezes, rouba as cenas nas quais ele e Cruise estão juntos. A importância de seu personagem, Benji, na franquia cresceu tanto que deixou para trás o personagem de Ving Rames, Luther, que está na série desde o início.

Gostaria também de destacar dois outros atores ingleses. Tratam-se de Tom Hollander (da franquia Piratas do Caribe), que faz o papel do Primeiro-Ministro britânico; e de Simon McBurney (de Magia ao Luar), que interpreta Attlee, o traiçoeiro chefe do MI6. Embora tenham participações curtas, são importantes na trama. No Brasil, pouca gente sabe, mas ambos são protagonistas do seriado de televisão Rev., no qual interpretam dois religiosos antagônicos e transportam sua química de atuação em dupla da série de TV para a série do cinema.

Afinal, mas não por último, vem Rebecca Ferguson. Quem a via apenas como o interesse romântico de Ethan Hunt, estava redondamente enganado. Sua personagem, Ilsa Faust, é, ao mesmo tempo, a bela e a fera, que não tem medo de Hunt, Lane e nem dos agentes da IMF ou dos capangas do Sindicato. Como agente, ela se iguala a Hunt e, por vezes, o supera. E isso também vale para a atuação de Rebecca em relação a Cruise. Ela consegue manter o público com a respiração suspensa, em expectativa e em dúvida: ela é do bem ou do mal? Sua personagem chega a lembrar a Viúva Negra, d’ Os Vingadores. Se, um dia e por algum motivo, Scarlett Johansson não for interpretar a agente Natasha Romanoff, a Marvel já sabe a quem chamar…

Missão: Impossível – Nação Secreta chegou às salas de exibições como que não querendo nada, meio “na moita”, e, “sem querer querendo”, teve uma ótima estreia nas bilheterias e superou seu próprio recorde (veja aqui). Embora seja uma franquia conhecida, essa excelente recepção pegou muita gente de surpresa e superou favoritos como Quarteto Fantástico (veja aqui) e Pixels. Tamanho sucesso já fez os estúdios Paramount confirmar oficialmente o próximo filme da série (veja aqui).

Talvez o único defeito seja algumas piadinhas fora de hora, mas não é nada que prejudique um filme tão emocionante e divertido. Sua missão, cinéfilo, caso decida aceitar, será ir até o cinema mais próximo de sua casa e conferir a nova missão de Ethan Hunt e sua equipe. Esta mensagem se autodestruirá em cinco segundos…

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