Injustiça

Baseada em história real, minissérie da Netflix vai te deixar emocionado 

O enredo expõe o impacto devastador das falsas condenações na vida de jovens

Caleel Harris em Olhos que Condenam da Netflix
Caleel Harris em Olhos que Condenam da Netflix | Caleel Harris em Olhos que Condenam da Netflix

Dirigida por Ava DuVernay e lançada em 2019 na Netflix, Olhos que Condenam retrata uma das mais graves injustiças na história dos Estados Unidos. A minissérie mergulha na história real de quatro adolescentes negros e um latino que foram injustamente condenados por estupro e agressão em 1989, no Central Park, em Nova York.

A trama revela como a polícia coagiou confissões de Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymon Santana, Antron McCray e Korey Wise. Essas confissões foram usadas como provas, apesar da falta de evidências físicas concretas.

Dividida em quatro episódios de 1h a 1h30, a série expõe o impacto devastador das falsas condenações na vida dos jovens, que passaram entre 5 a 12 anos em instituições para menores. A verdade veio à tona quando Matías Reyes, já cumprindo prisão perpétua por outros crimes, confessou ser o verdadeiro culpado. Testes de DNA confirmaram sua culpa, levando à absolvição dos cinco jovens.

Quase três décadas depois, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, concordou em pagar uma indenização de 40 milhões de dólares aos rapazes. Entretanto, a busca por justiça foi longa, dificultada pela recusa do ex-prefeito Michael Bloomberg em compensá-los, levantando acusações de racismo contra a polícia, promotores e autoridades.

A série também destaca a controvérsia em torno do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, na época, publicou um anúncio pedindo a volta da pena de morte para os jovens. Ava DuVernay enfatiza que, mesmo após a absolvição, a eleição de Trump mostrou que desafios e injustiças ainda persistem no país.

Kylie Bunbury e Asante Blackk em Olhos que Condenam

História real

A vida de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise mudou radicalmente em 19 de abril de 1989. Esses quatro adolescentes afro-americanos e um latino se tornaram o foco de um dos casos mais infames de injustiça nos Estados Unidos.

Naquela tarde, um grupo de cerca de 30 jovens afro-americanos e latinos entrou no Central Park a partir do Harlem, causando tumulto e vandalismo. Ao mesmo tempo, Trisha Meili, uma jovem branca que corria na parte norte do parque, foi brutalmente espancada e violentada. O agressor a deixou desacordada e à beira da morte, e ela foi encontrada horas depois. Devido à perda de sangue e às fraturas no crânio, os médicos não acreditavam que ela sobreviveria. Meili ficou em coma por 12 dias e, quando acordou, não se lembrava do ataque.

A violência sexual sofrida por Meili, uma funcionária de 28 anos de um fundo de investimentos de Wall Street, chocou os nova-iorquinos e se tornou um dos crimes mais notórios do final dos anos 80. 

Sob pressão para encontrar o responsável, a Polícia de Nova York concluiu que os culpados deviam estar entre os detidos pelos distúrbios no parque. Entre eles estavam McCray, Salaam, Wise, Santana e Richardson, que, segundo suas declarações, não se conheciam, exceto dois deles, e estavam presentes por acaso.

Embora inicialmente acusados de causar distúrbios, Linda Fairstein, chefe da unidade de crimes sexuais do Ministério Público de Manhattan, insistiu que eles eram os estupradores de Trisha Meili. Fairstein não tinha provas concretas, mas estava determinada a fechar o caso rapidamente. Assim, construiu-se um caso em torno da culpa dos cinco menores, que tinham entre 14 e 16 anos.

Cena de Olhos que Condenam

O processo judicial foi dividido em dois julgamentos

Os adolescentes foram interrogados por horas a fio até que “confessaram” ter participado do ataque, apesar de suas confissões estarem repletas de inconsistências. Na série, é mostrado como os jovens foram interrogados sem a presença de seus pais ou advogados e como foram maltratados e coagidos a incriminar uns aos outros.

O caso foi quase inteiramente baseado nas confissões, já que o DNA dos chamados “Cinco do Central Park” não correspondia ao encontrado na vítima ou na cena do crime. O processo judicial foi dividido em dois julgamentos. O primeiro foi contra McCray, Salaam e Santana, enquanto o segundo foi contra Richardson e Wise. Wise, por ter 16 anos, foi julgado como adulto.

Durante os julgamentos, eles afirmaram que haviam sido forçados a mentir, mas suas alegações foram ignoradas. Um especialista chegou a declarar que o sêmen encontrado no local não correspondia aos suspeitos. A promotoria ofereceu aos jovens um acordo para uma sentença mais leve se aceitassem a culpa, mas eles recusaram, e os julgamentos prosseguiram.

A vítima, Trisha Meili, participou de ambos os procedimentos judiciais, mas afirmou não se lembrar de nada desde que saiu para correr no parque até acordar no hospital. Na série, Fairstein e os policiais são mostrados manipulando cronogramas para colocar os rapazes na cena do crime e escondendo evidências que poderiam provar sua inocência.

No primeiro julgamento, Yusef, Antron e Raymond foram absolvidos da acusação de tentativa de homicídio, mas considerados culpados de estupro, assalto, roubo e perturbação da ordem pública. Eles foram condenados a penas de cinco a dez anos em instituições correcionais. Kevin foi julgado culpado de tentativa de homicídio, estupro, assalto e roubo no segundo julgamento, recebendo a mesma sentença. Korey foi condenado por abuso sexual, agressão e perturbação, recebendo uma pena de cinco a quinze anos em uma prisão para adultos.

Muito depois do caso ser encerrado, em 2001, a justiça finalmente foi feita. Matias Reyes, um estuprador em série que estava na mesma prisão que Wise cumprindo pena perpétua, confessou ser o agressor de Trisha Meili naquela noite de abril de 1989. Reyes descreveu o ataque em detalhes, e seu DNA coincidiu em mais de 99% com o encontrado em Meili e na cena do crime.

Após a confissão de Reyes, Wise, que era o único dos cinco ainda preso, foi libertado em 2002. Nenhum processo foi movido contra Reyes, mas os cinco jovens foram exonerados. “Os Cinco do Central Park” então iniciaram uma batalha judicial contra a cidade de Nova York e, em 2014, mais de dez anos depois, foram indenizados com 41 milhões de dólares.

Raymond Santana entrou em contato com Ava DuVernay para ver se ela estava interessada em contar a história deles. A cineasta aceitou, trabalhou ao lado de Santana, e assim nasceu a série Olhos que Condenam.

Assista ao trailer de Olhos que Condenam da Netflix:

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