Guerra e Revolta retrata um período histórico conturbado da Coreia. Vamos conhecer a história real por trás da produção da Netflix.
Os aclamados cineastas sul-coreanos convidam o público a viajar de volta à era Joseon, o último período imperial da história coreana. O filme examina como o caos da guerra afeta o relacionamento pessoal entre dois amigos de infância que se tornam inimigos.
A obra retrata diversas histórias humanas ambientadas no devastador cenário pós-guerra, disse o diretor Kim Sang-man (via The Korea Times).
“Este filme não trata simplesmente de uma guerra, mas sim de uma história que atravessa o tempo”, explicou o diretor durante uma coletiva de imprensa em Seul.
Ele revelou que o filme é ambientado na sociedade baseada em classes da Dinastia Joseon (1392-1910), dizendo: “Eu queria mostrar perspectivas de várias classes sociais e seus pontos de vista únicos.”
A história real por trás de Guerra e Revolta
Embora a Guerra Imjin seja amplamente conhecida pelos coreanos, ela não faz parte dos currículos ocidentais. Segundo o professor Nam-lin Hur, a guerra ainda afeta a forma como os coreanos veem a si mesmos e o Japão. O conflito começou quando o regime de Hideyoshi, do Japão, invadiu a Coreia, talvez como parte de um plano maior para conquistar a China. Embora a guerra também tenha envolvido a dinastia Ming, da China, que ajudou a Coreia, o filme se concentra principalmente na devastação sofrida pelo povo coreano.
A sociedade de Joseon, durante a guerra, era rigidamente dividida em castas. Jong-ryeo, por ser de uma família yangban, pertencia à nobreza, que representava apenas de 5 a 10% da população, enquanto os nobi, como Cheon-yeong, constituíam cerca de 30 a 40%. Apesar de a classe yangban ter responsabilidades militares, raramente eram forçados a servir, o que preservava suas posições privilegiadas, uma divisão que o rei Seonjo via como essencial para a manutenção de seu poder.
Apesar de sua rica história, Guerra e Revolta evita ser didático, utilizando o pano de fundo histórico para impulsionar o drama central entre Cheon-yeong e Jong-ryeo. O ator Park Jeong-min observa que, além de aprender sobre os fatos históricos, o filme explora as emoções que estão por trás deles, revelando os sentimentos profundos que os livros de história não abordam.
Ao final da guerra, em 1598, estima-se que até 500.000 combatentes do Japão, China e Coreia estavam mortos, e a população civil de Joseon sofreu imensamente. Embora a Coreia tenha saído vitoriosa, o país foi devastado, com milhões de mortos e até 100.000 coreanos levados como prisioneiros para o Japão. A guerra enfraqueceu temporariamente o sistema de castas, mas ele logo seria restabelecido após o conflito.
O cerne temático de Guerra e Revolta está na agitação social que se intensifica durante o conflito. Cheon-yeong, um escravo que esconde sua origem e usa suas habilidades de combate para lutar pela liberdade, vê suas esperanças frustradas quando o sistema de castas retorna após a guerra. Ele então decide romper com o sistema, ilustrando o dilema entre revolta e submissão.
O filme também pinta o rei Seonjo e o sistema de castas como os verdadeiros antagonistas, mais até do que os invasores japoneses. O rei, segundo o professor Hur, estava mais preocupado em salvar seu próprio poder do que em proteger seu povo, o que resultou em inúmeras mortes desnecessárias durante o conflito.
Para o diretor Kim, Guerra e Revolta se diferencia de outros filmes de guerra ao focar no conflito interno da sociedade coreana. O colapso temporário do sistema de classes, causado pela invasão externa, é o que realmente movimenta a história, trazendo à tona temas de luta social que ainda ressoam nos dias de hoje.
Por fim, Kim e os atores esperam que o tema da consciência de classe e os horrores da guerra conectem o público internacional com a história. Como observa Park, quase todos os países já passaram por guerras, e, em qualquer época, “as guerras sempre trazem perdas, e ninguém realmente vence em uma guerra.”
Guerra e Revolta está disponível na Netflix.