Nos últimos 15 anos, a Netflix abriu caminho para uma nova era na televisão, revolucionando a forma como consumimos séries e entregando ao público programas inesquecíveis.
Contudo, apesar de seu alcance global e planos ambiciosos, a plataforma nem sempre conseguiu acompanhar todos os projetos que iniciou, resultando no cancelamento precoce de algumas de suas produções mais promissoras.
Muitas dessas séries precisavam de mais temporadas para explorar todo o seu potencial. O cancelamento abrupto deixou inúmeras histórias inacabadas, frustrando os espectadores que ansiavam por um desfecho. Embora algumas dessas decisões tenham sido influenciadas por fatores externos — como a pandemia de COVID-19 —, outras pareceram injustificáveis, especialmente considerando a recepção crítica excepcional e a base de fãs leal de várias dessas produções.
Em muitos casos, séries canceladas terminaram em suspenses arrebatadores, deixando perguntas sem resposta e personagens sem a resolução que mereciam. Por isso, revisitar esses programas cancelados e dar a eles o encerramento adequado seria uma forma de honrar tanto as histórias quanto os fãs que as acompanharam. Afinal, algumas narrativas merecem uma segunda chance de brilhar.
The OA
Com o suspense do último episódio, The OA permanece como um dos cancelamentos mais dolorosos e injustificados da história da televisão. A série foi uma criação revolucionária, cativando o público do início ao fim com sua narrativa ousada e envolvente. Sua popularidade foi construída sobre histórias ambiciosas que combinaram habilmente ficção científica, fantasia e mistério, usados como ferramentas para explorar questões filosóficas profundas. Não à toa, a revista Empire classificou The OA como a nona melhor série de todos os tempos.
O cancelamento abrupto, após apenas duas temporadas, foi tão apressado quanto imerecido. A complexidade da trama e a profundidade dos temas abordados — como conexões humanas, identidade e espiritualidade — exigiam mais tempo e episódios para atingir seu pleno potencial e entregar ao público o encerramento que ele merecia.
Dada sua proposta visionária, The OA terminou com um suspense tão audacioso quanto desconcertante, que clama por uma nova temporada. O programa continua a ser uma prova de que histórias inovadoras nem sempre recebem a chance de alcançar a conclusão que merecem.
Sense8
Com seu enredo original e um elenco diversificado, Sense8 estreou em 2015 como uma série revolucionária, abordando de forma empática questões inexploradas de identidade, sexualidade e conexão humana. A fantasia foi habilmente usada como uma metáfora para explorar os laços emocionais entre personagens únicos, espalhados pelos mais diversos cantos do mundo. A série se destacou por suas histórias complexas, personagens profundamente cativantes e uma poderosa mensagem política, conquistando uma base de fãs extremamente leal.
No entanto, após o final da segunda temporada, que deixou os espectadores em um suspense arrebatador, a Netflix anunciou o cancelamento da série em 2017. A notícia gerou uma onda de indignação global, levando os fãs a organizarem uma petição online para que Sense8 fosse renovada. A pressão funcionou parcialmente, e um episódio especial de duas horas foi lançado em 2018 para encerrar a trama.
Apesar desse gesto, o especial serviu apenas como um prêmio de consolação amargo para uma série com tanto potencial ainda a ser explorado. Sense8 foi muito mais do que entretenimento; foi uma celebração da diversidade, da aceitação e da conexão entre pessoas. Seu impacto cultural e sua mensagem atemporal continuam a ressoar, e muitos ainda sonham em ver a história continuar.
Mindhunter
Dirigido por David Fincher, Mindhunter é, sem dúvida, uma série que merecia outra temporada. Com elogios da crítica e o crescente interesse do público, a produção se destacou por sua abordagem fascinante sobre a fundação da Unidade de Ciências Comportamentais do FBI e a ciência do perfil criminal, consolidando-se como um digno sucessor de Criminal Minds. A segunda temporada elevou ainda mais o nível da série, recebendo críticas ainda mais positivas que a primeira, o que tornava evidente seu potencial para continuar. Contudo, os fãs não tiveram tanta sorte.
Em 2020, a Netflix anunciou que uma terceira temporada estava sendo considerada, mas foi colocada em espera indefinida devido ao envolvimento de Fincher em outros projetos. Para a tristeza dos fãs, em 2023, o diretor confirmou oficialmente que a série havia chegado ao fim (via Collider).
O episódio final da segunda temporada serviu mais como um prelúdio de uma nova história do que como um encerramento definitivo. Como resultado, a conclusão oficial de Mindhunter deixou um gosto amargo para os espectadores, com um desfecho que careceu do impacto e da resolução que a série e seus personagens mereciam. Apesar de seu fim prematuro, Mindhunter permanece uma obra-prima incompleta, admirada por sua profundidade psicológica e narrativa envolvente.
Kaos
A premissa de Kaos, uma releitura inovadora da mitologia grega, era tão cativante quanto promissora. A escalação de Jeff Goldblum como Zeus só aumentou a expectativa em torno da série. Não surpreende que a primeira temporada tenha recebido críticas geralmente favoráveis e alcançado destaque, permanecendo no Top 10 da Netflix por quatro semanas consecutivas após seu lançamento (via Variety). Apesar disso, a audiência não atingiu a marca exigida pela plataforma, levando ao cancelamento da série em outubro, uma decisão que não foi bem recebida pelos fãs. Muitos manifestaram seu descontentamento e pediram a renovação da produção.
LEIA TAMBÉM
O cancelamento de Kaos representa uma oportunidade perdida significativa. Além de sua popularidade inicial, o vasto potencial criativo da mitologia grega foi subaproveitado. A rica tapeçaria de lendas da Grécia Antiga oferece infinitas possibilidades para contar histórias únicas e fascinantes. As dinâmicas intrigantes e as aventuras absurdas que envolvem os deuses do Olimpo poderiam ter sido exploradas de maneira ainda mais ousada e criativa pelos roteiristas.
Embora o último episódio tenha oferecido algum nível de encerramento, Kaos deixou várias questões em aberto, preparando o terreno para outra temporada. Infelizmente, essas possibilidades permanecerão apenas como o que poderiam ter sido — uma releitura épica que não teve a chance de alcançar todo o seu potencial.
1899
1899 estreou em 2022 como uma série alemã de ficção científica cheia de mistério, centrada em um grupo de emigrantes europeus que viajam em um navio a vapor do Reino Unido para Nova York. A série recebeu críticas positivas e rapidamente conquistou popularidade. Pouco após seu lançamento, alcançou o segundo lugar entre os 10 melhores títulos de TV em inglês da Netflix (via Variety). No entanto, em janeiro de 2023, a decisão de cancelá-la sem explicações claras pegou os fãs de surpresa.
Com seu cenário histórico intrigante e uma narrativa envolvente, 1899 tinha todos os elementos para se tornar uma obra marcante no gênero de ficção científica. A série apresentou um enredo ambicioso, mas claramente precisava de mais tempo para expandir suas ideias e explorar todo o seu potencial. Seu cancelamento prematuro foi especialmente lamentável, considerando sua popularidade entre o público.
O impacto da série foi tão grande que os fãs iniciaram uma petição online pedindo sua renovação, evidenciando o entusiasmo e o compromisso com a história. Dada a complexidade de sua trama e o envolvimento emocional que ela despertou, 1899 merecia, no mínimo, mais uma temporada para responder às perguntas deixadas em aberto e levar sua narrativa a um desfecho satisfatório.
Lockwood & Co.
Quando a Netflix anunciou que Lockwood & Co. foi o quarto programa mais assistido do Reino Unido na plataforma durante a primeira parte de 2023, os fãs provavelmente respiraram aliviados: seu novo thriller de mistério sobrenatural parecia estar seguro. Infelizmente, esse alívio foi breve. Apesar da recepção crítica positiva e de uma base de fãs dedicada, a série foi cancelada após apenas oito episódios.
Baseada na série de cinco livros de Jonathan Stroud, Lockwood & Co. tinha uma riqueza de material para adaptar e um enorme potencial para explorar ideias novas e fascinantes. Os showrunners demonstraram interesse em continuar a história, e o desfecho da primeira temporada claramente deixa espaço para futuras temporadas. Contudo, as perguntas não respondidas e os mistérios não resolvidos que o final apresenta agora permanecerão em aberto, deixando os fãs sem um encerramento – mais uma vítima das complexidades e prioridades da indústria do entretenimento.
O Cristal Encantado: A Era da Resistência
Com seus deslumbrantes visuais e narrativa cativante, O Cristal Encantado: A Era da Resistência estreou em 2019 conquistando aclamação da crítica e o coração do público, demonstrando todo o potencial de se tornar um clássico moderno. Infelizmente, foi mais uma produção promissora que sofreu com o temido cancelamento da Netflix, deixando os fãs desolados após apenas uma temporada.
Servindo como uma prequela épica do filme original de 1982, a série revisitou o mundo mágico de Thra, explorando com inteligência e profundidade emocional temas atemporais como a luta entre o bem e o mal. A atenção aos detalhes, combinada com a estética impecável e a abordagem inovadora da narrativa, conferiu à produção um charme único no gênero de fantasia.
Os showrunners Jeffrey Addiss e Will Matthews confirmaram, logo após a estreia da primeira temporada, que tinham planos sólidos para continuar a história (via IndieWire). Isso ficou evidente no desfecho da série, que, embora satisfatório, deixou muitas questões em aberto e espaço para explorar novas tramas. O cancelamento, portanto, não apenas surpreendeu, mas também frustrou os fãs que ansiavam por respostas.
Apesar disso, ainda há uma fagulha de esperança. A Jim Henson Company já afirmou que não desistiu de reviver a história e está comprometida em encontrar uma maneira de dar continuidade à saga (via MovieWeb). Enquanto isso, O Cristal Encantado: A Era da Resistência permanece como uma das obras de fantasia mais marcantes da última década, provando que até mesmo um breve brilho pode deixar um impacto duradouro.
Glow
Um dos cancelamentos mais inesperados e dolorosos da televisão recente foi o de Glow. Quando estreou na Netflix, essa série sobre lutadoras ambientada na vibrante década de 1980 foi recebida com aclamação universal. Críticos elogiaram seu roteiro afiado, performances brilhantes e estética nostálgica, enquanto o público se apaixonava por sua mistura de humor, drama e empoderamento feminino. A produção também colecionou indicações e prêmios, incluindo vitórias no Emmy, consolidando seu lugar como um dos grandes sucessos da plataforma.
Após três temporadas de sucesso, os fãs aguardavam ansiosamente a quarta e última temporada, que prometia encerrar a história de forma épica. No entanto, Glow foi uma das vítimas das circunstâncias atípicas de 2020. Com o surto de COVID-19, a produção foi interrompida por questões de segurança, e as filmagens nunca foram retomadas. Como resultado, a série terminou abruptamente em um momento de suspense, deixando arcos narrativos inacabados e personagens sem um desfecho adequado.
O cancelamento foi um golpe duro para os fãs, que viam Glow como uma obra única e cativante. Os personagens e o público mereciam um encerramento digno, e a série permanece como um dos exemplos mais frustrantes de histórias promissoras interrompidas precocemente. Entre todos os programas cancelados pela Netflix, Glow é, sem dúvida, um dos que mais mereciam uma temporada final.
