Nova era

O impacto do TikTok no futuro dos animes

Mudanças no consumo de vídeos incentivam a produção de animes com episódios mais curtos.

Animes
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O TikTok tem mudado a forma como o público consome conteúdo e, com seu sucesso, vem pressionando até a indústria de animes a repensar os formatos de suas produções. O que começou como uma tendência de vídeos curtos, está forçando diversas indústrias a adaptarem seu conteúdo para caber no modelo “bite-sized” (fragmentado).

A Crunchyroll, uma das maiores plataformas de distribuição de anime fora do Japão, está atenta a essa mudança no cenário de entretenimento. Em entrevista recente à Nikkei Xtrend, executivos da empresa, incluindo a COO Gita Rebbapragada e o presidente Rahul Purini, discutiram a necessidade de adaptações. Eles explicaram que, apesar do crescimento do interesse global pelo anime – com previsões apontando para cerca de um bilhão de fãs ao redor do mundo –, a indústria precisará se adaptar para acompanhar essas novas dinâmicas de consumo.

Com um alcance massivo e cada vez mais global, o TikTok altera os hábitos de consumo, oferecendo aos usuários controle sobre o tipo de conteúdo e o tempo que querem dedicar a ele. Nesse contexto, o formato de 21 a 24 minutos por episódio, padrão no universo dos animes, começa a parecer excessivo para as gerações mais jovens.

“A maioria dos animes dura entre 21 e 24 minutos. Enquanto isso, as gerações mais jovens estão acostumadas a assistir vídeos de 2 a 4 minutos, um após o outro (no TikTok, por exemplo). Precisamos pensar em como contar histórias de anime de forma diferente do que fazemos tradicionalmente. O ecossistema de anime precisa continuar a evoluir”. Essa ideia, porém, gera debate entre os fãs, já que muitos não veem com bons olhos a possibilidade de episódios mais curtos.

O futuro dos animes

Quando questionados sobre as mudanças de consumo que observaram e como isso impacta o futuro dos animes, os executivos notaram que será necessário um novo olhar sobre o formato dos episódios. Eles destacaram que a nova geração está cada vez mais focada em criar seu próprio conteúdo para as redes sociais. “A geração mais jovem passa muito tempo criando seu próprio conteúdo, e as plataformas estão fornecendo ferramentas para isso”, comentaram. Embora não seja uma mudança imediata, os executivos enfatizaram que precisarão encontrar formas de engajar esse público criativo.

A proposta, porém, é controversa entre os fãs, que temem que o formato curto possa comprometer a profundidade e a construção de personagens — elementos essenciais nos animes tradicionais. A questão sobre como equilibrar as narrativas longas e emocionantes com a necessidade de curtas-metragens está gerando um debate no setor. Muitos defendem que a essência do anime está no desenvolvimento detalhado das histórias, algo que pode se perder com uma redução drástica na duração dos episódios.

Os fãs de anime talvez já tenham notado algumas adaptações no catálogo da Crunchyroll, com conteúdos mais curtos, como videoclipes e animes de comédia rápida, como Bananya. A adaptação ao novo formato de consumo não significa, necessariamente, abandonar o que já funciona. Purini afirmou que, apesar das adaptações, a essência do anime continua centralizada na visão dos criadores japoneses: “Acredito que o anime deve ser intrinsecamente ‘japonês’ e contado a partir da perspectiva de criadores japoneses. Queremos mais anime, mais diversidade de histórias, e é importante que os criadores japoneses continuem envolvidos”.

Purini também reconheceu que adaptações de histórias podem vir de outras origens, como os webtoons coreanos ou jogos. “Estamos sempre atentos a novas tendências e potenciais sucessos. Por exemplo, podemos sugerir uma propriedade intelectual indiana a criadores japoneses para que desenvolvam uma história que pode ressoar com o público na região”, explicou.

A Crunchyroll está atenta ao impacto das redes sociais, como o TikTok, mas está claro que a empresa pretende equilibrar as inovações com os elementos que já atraem os fãs, sem romper com os formatos que funcionam. O objetivo é adaptar o anime ao novo cenário, sem comprometer suas características essenciais.

À medida que a cultura do conteúdo de curta duração cresce, o futuro do anime se apresenta como uma mistura de inovações e preservação da tradição. Essa abordagem busca atrair tanto os fãs tradicionais quanto a nova geração, que consome e compartilha suas experiências de maneira diferente. Essa movimentação da Crunchyroll para acompanhar as novas tendências, ao mesmo tempo que preserva o caráter japonês dos animes, mostra que o futuro dessa arte pode estar em constante evolução — mas sem perder o respeito às suas origens.

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