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13 Reasons Why | Crítica - 2ª Temporada

Há bênçãos e maldições quando se trata de 13 Reasons Why. Adaptada por Brian Yorkey à partir do livro de Jay Asher e entregue ao mundo pelas lentes da gigante do streaming Netflix, a primeira temporada se tornou um fenômeno entre o público, especialmente entre o que era seu alvo (o adolescente) e foi a série mais discutida no Twitter em 2017, o que alavancou quase de imediato o show produzido pela cantora Selena Gomez em meio a boa aceitação do público. Entretanto, profissionais da área de saúde e psicologia, assim como alguns críticos mundo afora, criticaram abertamente a exposição gráfica que a série promoveu sobre temas como suicídio e estupro, o que levou a diversas iniciativas de boicote para o seriado (sem sucesso, é claro). Com tamanho boca-a-boca, não demorou para que a renovação de 13 Reasons Why para um segundo ano tardasse a chegar.

A grande questão era: após ter adaptado todo o livro de Jay Asher e tendo deixado claro os motivos (treze, para ser exato) que levaram a jovem Hannah (Katherine Langford) a cometer suicídio, o que mais haveria para contar dentro dessa história, mesmo que pequenas pontas em aberto tivessem sido deixadas? O ciclo já havia se fechado, ao menos aparentemente, e com o afastamento do autor Jay Asher da consultoria após denúncias de assédio sexual, o único sentimento para as justificativas de um segundo ano para o seriado era o de desconfiança.

Para chegar a tal resposta, é preciso primeiramente pensar na vastidão das temáticas que os 13 episódios da primeira temporada abordaram. Vidas haviam sido marcadas, destruídas e mudadas para sempre, e após os esclarecimentos terem sido entregues, o que resta para 13 Reasons Why é explorar tanto a continuidade dos efeitos dos acontecimentos e o que pode ou não ocorrer aos personagens alguns meses após o suicídio de Hannah. O principal pontapé para isto está no processo aberto pela mãe de Hannah, Liv Baker (Kate Walsh, ainda com a melhor personagem e a presença mais interessante entre o elenco), contra a escola onde sua filha estudava e que não tomou nenhuma atitude mesmo diante dos ataques de bullyng e assédios sexuais que Hannah sofria.

Particularmente, estou entre os que consideram a primeira temporada de uma irresponsabilidade gigantesca para com o tema e seu público. Claro, é e sempre será válido tocar em tais temas como forma de conscientização, mas não era esse pensamento que parecia ponderar a iniciativa dos responsáveis em contar esta história, que resumiram o delicado plot a uma banalização ofensiva do suicídio, transformando Hannah numa espécie de aprendiz de Jigsaw com seus jogos promovidos com as fitas, ao mesmo tempo em que transformava o ato do suicídio numa espécie de vingança para afetar e machucar emocionalmente os culpados. E mesmo deixando o julgamento moral de lado, a série carecia de cuidado quando se tratava de explanar cada um dos “13 porquês”, arrastando os episódios sem grandes justificativas para tal, e travando a narrativa quando, sem motivo aparente, nosso protagonista Clay (Dylan Minett) decide ouvir as fitas numa velocidade que parece levar semanas quando todos os outros mencionados nas fitas já as teriam ouvido em uma única noite.

Abandonando este tipo de narrativa para tentar inovar no novo direcionamento dos plots de cada personagem, esta segunda temporada finalmente apresenta alguma chance para que os episódios possam respirar e apostar num real dinamismo. Há um enfoque mais latente em cada um dos que foram afetados/responsabilizados pela morte de Hannah, e assumindo de vez a postura de thriller juvenil que era apenas mal ensaiada na primeira temporada, os episódios irão se dividir entre o depoimento de cada um dos “porquês” das fitas de Hannah no tribunal, enquanto novos segredos e ameaças vão surgindo enquanto acontecimentos do passado são vistos sob novas perspectivas… E com isto, há um bem-vindo crescimento exponencial sobre personagens que também foram vítimas anteriormente, como Jess (Alisha Boe, muito competente), que tenta seguir a rotina no colégio mesmo tendo sido vítima de estupro por um de seus colegas, Bryce (Justin Prentice), que também foi responsável pelo estupro de Hannah. Tendo o posicionamento dessa personagem no roteiro como base, há novos contornos, e felizmente mais conscientes, para a questão do assédio e abuso sexual e em como a rotina sexualizada de um ambiente escolar atinge meninas e meninos em níveis absurdamente diferentes.

Fora isto, os roteiristas se atrapalham quando chega o momento de explorar os outros personagens, e se Kate Walsh ainda detêm as melhores cenas (os momentos em que a mãe percebe que poderia ter feito mais pela filha são comoventes) e os melhores diálogos, o elenco juvenil sofre com um desenvolvimento mal balanceado entre um e outro, como a tentativa de suicídio de Alex (Miles Heizer) na season anterior ou o processo de aceitação de Courtney (Michele Selene Ang) por ser lésbica. Tyler (Devin Druid) se torna o único diferencial ao abrir o leque de discussão para o controle de armas nos EUA, por mais que tal plot surja de maneira abrupta na narrativa.

Clay, infelizmente, segue sendo o detentor do que há de mais risível na série ao lado do tratamento banal que Hannah recebe desta vez. Quase como uma extensão do episódio da primeira temporada onde o jovem começa a ter diversos devaneios com a garota morta, o roteiro tenta intensificar o estado mental de Clay ao trazer Hannah como uma espécie de consciência morta que dialoga com o personagem nos momentos mais inoportunos. São cenas ruins e mal dialogadas, que quebram gravemente a barreira pé-no-chão que a segunda temporada finalmente começara a ter (pois convenhamos, a primeira temporada mais parece um conto de fantasia diante de tantas supressões da descrença que aquele roteiro nos obrigava a aceitar), e que banalizam ainda mais uma temática tão séria como o enfrentamento do luto, além de apenas servir como mera desculpa para que Katherine Langford siga tendo mais cenas.

E ainda se entregando demais ao floreio de cenas que tentam desesperadamente se assemelhar com produções indies adolescentes como As Vantagens de Ser Invisível, A Mentira ou Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (sequências em câmera lenta acompanhadas por uma trilha sonora alternativa e uma ou outra referência jogada pelos cantos) apenas para se comunicar com seu público alvo, a segunda temporada de 13 Reasons Why nos apresenta uma melhora relativa em relação ao seu segundo ano, por mais que toda a força de seu discurso de conscientização seja diluído por recursos de direção ingênuos, roteiro mal equilibrado, cenas de apelo duvidoso e pouco material que sustente tantos episódios de 50 minutos. Há algumas boas críticas ao que há de errado no tratamento que a sociedade confere aos jovens, e isso é o que mais conta, apesar de não ser a salvação definitiva da série.

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