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Crítica | True Detective - 2ª temporada

A segunda temporada de True Detective possuía uma ingrata missão desde o momento em que foi confirmada: alcançar, ou até mesmo superar, a excelente trama de seu ano de estreia. O grande frisson causado sobre a obra de Nic Pizzolatto atraiu espectadores e gerou enorme expectativa para os oito episódios que contariam a empreitada de três policiais e um mafioso em busca de respostas para um estranho assassinato na cidade de Vinci, tão corrupta quanto fictícia.

Apesar de inevitável, a comparação entre as duas temporadas da série é complicada. Tirando o estilo visual da abertura, as frases de efeito e a fotografia noir, a única conexão entre elas é o fato de retratarem uma investigação policial. Isso, no entanto, não significa que a trama encerrada no domingo (9/8) não ficou devendo. Arrastada em sua primeira metade, a história ganhou dinâmica nos quatro episódios finais e teve um desfecho satisfatório. Mas não foi o suficiente.

“Omega Station”, o episódio derradeiro, é bom, mas tem falhas. As respostas para dúvidas pertinentes durante toda a temporada são encontradas e explicadas de maneira fácil e direta. Até então, o espectador que deixasse de prestar atenção em apenas uma cena corria o risco de ficar perdido na trama – já não bastasse o grande número de coadjuvantes (e seus nomes difíceis de decorar), um dos principais erros dessa temporada.

Com inúmeras subtramas e diálogos muitas vezes desnecessários, foi difícil para True Detective embalar. Além disso, a série demorou muito para começar a realmente revirar os dramas pessoais dos quatro personagens. Se priorizasse a construção psicológica de seus protagonistas, essa temporada teria sido menos cansativa até seu ponto de virada, o impressionante tiroteio na cena final do quarto episódio, “Down Will Come”.

Sem muitas cenas realmente marcantes, foi impossível para o quarteto de atores repetir a brilhante atuação de Matthew McConaughey na primeira temporada. Mesmo assim, a interpretação da maioria merece elogios. Acostumada com papéis delicados, Rachel McAdams surpreendeu como a durona e conturbada Ani Bezzerides. Outro que fugiu da zona de conforto e foi bem é Vince Vaughn, que nem parecia comediante quando sutilmente expressava medo e estresse na feição do mafioso Frank Semyon. Na pele do traumatizado Ray Velcoro, Colin Farrell foi grande destaque da temporada. Já Taylor Kitsch foi quem destoou no quarteto, talvez prejudicado pela inexpressividade do patrulheiro Paul Woodrugh.

Mesmo com esses problemas, a season finale e o desfecho do segundo ano de True Detective são bons e convincentes. A atmosfera desolada e dramática que permeou toda a temporada chegou ao ápice em um final realista e sangrento. Como adiantou o episódio anterior, “Black Maps and Motel Rooms”, nenhuma boa ação foi recompensada e ninguém teve o benefício da sorte. Até mesmo para Bezzerides e Jordan Semyon, as únicas do grupo que se salvam, o futuro é incerto e perigoso.

Velcoro e Frank também tiveram a chance de fugir, mas sucumbiram aos seus pontos fracos: Ray sofre uma emboscada quando visita o filho, Frank é esfaqueado na tentativa de manter o terno em que tinha escondido todo o dinheiro que lhe restava. Woodrugh, que não foi capaz de suportar a possibilidade de sua homossexualidade vir à tona, foi outra vítima dele mesmo.

Este é o grande mérito de True Detective. Mesmo sem repetir a trama perfeita e a narrativa interessante da primeira temporada, o segundo ano da série ainda foge dos clichês e do estilo do restante dos enredos policiais. Normalmente este tipo de história se preocupa apenas em explicar quem é o assassino, sua motivação e o que ele fez. Para Nic Pizzolatto, o mais importante é relatar como tudo aconteceu. No fim desta temporada, por exemplo, o algoz de Ben Caspere é um dos fatos menos relevantes. E é por isso que o criador de True Detective insiste em uma progressão lenta, interpretações dramáticas e uma trama bastante complexa – exigindo muita paciência e atenção dos espectadores. Numa época em que muito se investe em plot twists que destroem boas histórias, Pizzolatto consegue valorizar sua obra sem abrir mão da surpresa, mesmo que dê dicas do desfecho durante toda a trama. E este, sim, é o diferencial que ele deve se preocupar em manter na grande série que criou.

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