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Game of Thrones | Sem precisar seguir os livros, série ficou ainda mais fascinante

Há algumas razões pelas quais nós, como seres humanos e sociedade, somos fascinados pelo ato de contar histórias. Em muitos sentidos, nossa capacidade de tecer ficções é o que nos destaca das outras criações da natureza – nós somos os primatas que contam histórias. E a nossa incessante fascinação por algumas dessas histórias vem tanto da nossa identificação pessoal com os traços que determinados personagens e jornadas apresentam quanto do puro prazer de acompanha-los, de perto e de longe, pelos caminhos que o escritor escolheu desbravar.

Isso é o que há de tão empolgante na atualidade sobre Game of Thrones. O caráter amplo da narrativa sobre Westeros e continentes vizinhos, sua multidão de personagens, motivações, paixões e medos é o que a faz tão magnética. Em uma única narrativa, um leque gigantesco de possibilidades é explorado – mas e se esse leque pudesse ser ainda maior?

Conforme as temporadas foram se passando, a série da HBO, conduzida com mão-de-ferro por David Benioff e D.B. Weiss, foi aos poucos se afastando do material em que foi inspirada, os livros da saga As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin. Sendo publicada desde 1996, a série literária conta com cinco livros até o momento, o último deles publicado em 2011, e deve se estender por mais dois tomos de lançamento incerto. O ritmo lento de Martin não só preocupa os fãs (afinal, o autor está com 67 anos) como também causou problemas para a HBO, cuja produção começou a se aproximar do final dos livros antes do lançamento do próximo.

George R. R. Martin
George R. R. Martin

A solução encontrada, portanto, foi desvincular um do outro. Tanto os roteiristas quando Martin já deram entrevistas afirmando que não há mais nenhuma obrigação da parte da série de seguir de perto a trama dos livros. Benioff e Weiss, como showrunners, agora tem toda a liberdade de tomar decisões diferentes das que Martin tomou em sua saga. E isso é absolutamente empolgante, se você pensar bem.

O que não significa que já não tenha acontecido antes, claro. (P.S.: Atenção para alguns spoilers nesses próximos dois parágrafos). A morte de Jojen Reed, interpretado por Thomas Brodie-Sangster, durante a chegada dele, da irmã Meera, de Bran Stark e de Hodor no ninho do corvo de três olhos, é um caso bastante discutido por fãs. Nos livros, Jojen está muito vivo, obrigado, e na época em que essa decisão foi tomada pela série muitos fãs reclamaram que, se Martin deixou os roteiristas matarem Jojen na série, isso provavelmente significava que sua futura história nos livros não seria de muita consequência para a trama maior – o que tornava um pouco sem graça continuar acompanhando-o.

O mesmo vale, é claro, para a ausência de Lady Stoneheart, a forma ressuscitada de Catelyn Stark que busca vingança pela forma como sua família foi tratada em Westeros. Martin chegou a mencionar em palestra a uma universidade que gostaria de ver Stoneheart na série, porque tinha planos importantes para ela nos livros. E isso era um problema – até as duas narrativas se separarem definitivamente. A morte de Jon Snow (definitiva ou não) desvia dos livros, assim como uma série de outros acontecimentos da quinta temporada.

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Não é só por razões práticas, no entanto, que a nova liberdade concedida à Game of Thrones é interessante. Para o espectador que é também fã dos livros, praticar um pouco de desapego é uma boa ideia, especialmente porque assim ele vai ser capaz de curtir a série de uma forma parecida com a qual os outros espectadores (leigos) curtem: como uma montanha-russa cheia de choques e surpresas.

Mais até do que isso, para o espectador que conhece o caminho trilhado por Martin e o destino desses personagens nas mãos do escritor, observar o que outros autores fazem com o mesmo universo e com as mesmas criações tem o potencial de ser absolutamente fascinante. Mantenha-se em mente que o time de escritores de Game of Thrones não é qualquer um: indicados a 4 Emmys e vencedores de 1, Benioff e Weiss são escritores mais do que competentes para conduzir esses personagens, com ou sem polêmicas.

É preciso se desprender da noção de que o destino e as ações desses personagens estão marcados à fogo em suas peles, e se abrir para a possibilidade de ter duas direções criativas diferentes para a mesma história, e para a instigante noção de ver seus personagens preferidos seguindo dois caminhos diferentes. Qual “faz mais sentido” depende inteiramente da decisão do espectador/leitor, mas a separação entre a série e os livros de Game of Thrones não fez nada senão dobrar o tamanho de Westeros e as possibilidades dramáticas contidas nele, e qual fã não quer ver o seu universo se expandindo?

Game of Thrones retorna neste domingo, 24 de abril, às 22h na HBO com a estreia da sexta temporada. O primeiro episódio é intitulado “The Red Woman” (“A Dama Vermelha”, em tradução livre).

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