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Olhar Geek #8 | Os caminhos sombrios do futuro de Star Wars

Bem-vindos de volta à Olhar Geek. 15 de dezembro de 2017, se você pensar bem, parece bem longe. São 531 dias, 12.744 horas, 764.640 minutos, e por aí vai. É muito tempo. E, ao mesmo tempo, é bem pouco tempo para uma legião de fãs que se viu sem um filme de sua franquia favorita nos cinemas por dez longos anos, sobrevivendo “só” na base de livros, videogames, séries de TV animadas e outra infinidade de produtos contando histórias paralelas, preenchendo lacunas no universo criado por George Lucas em 1977. Pensando assim, parece compreensível a avalanche de rumores em torno de Star Wars: Episódio VII, cujo lançamento acontece exatamente na data que citamos ali em cima.

Nenhuma produção atualmente em curso tem acontecido sob tantos olhos vigilantes, prontos para “vazar” qualquer detalhe ou teorizar qualquer rumor e foto de bastidores. Nenhum filme está sendo mais escrutinizado que a obra de Rian Johnson desenhada para continuar Star Wars: O Despertar da Força. Faz sentido, porque o filme de J.J. Abrams fez mais de US$2 bilhões mundialmente, se tornando a maior bilheteria da saga (de longe) e a terceira maior da história de Hollywood. Faz sentido também, no entanto, porque Star Wars sempre vai ser muito maior que os números que fizer – é uma marca que desperta (e sempre despertou) interesse obsessivo, atenção dobrada em cada rumo de trama e decisão criativa.

Além disso, os rumores vazados sobre Star Wars: Episódio 8 nos dão o espaço para especular a direção para onde a saga está se dirigindo nesse seu renascimento. O Despertar da Força mostrou que a nova trilogia, em muitos aspectos, procura repetir fórmulas e homenagear elementos da original de George Lucas, lançada entre 1977 e 1983. Mostrou familiaridade com personagens antigos e tato para criar personagens novos, conexão com a mensagem política menos cínica e mais simplista dos primeiros filmes de Lucas, que voltou toda adulterada para a trilogia de prelúdio, feita entre 1999 e 2005. Mostrou também consciência de que o espírito e o encanto da série está em seu apelo pulp, seu clima de aventura folhetinesca, à la Flash Gordon e outros clássicos da ficção científica.

De forma muito moderna, O Despertar da Força capturou esse charme para o século XXI, misturando-o com personagens femininas mais fortes e construídas com mais consciência, e um destrinchar psicológico maior das ambiguidades das alianças de cada um de seus personagens. Mas e agora, para onde vamos? Essa é a pergunta que se pendura tentativamente acima de Star Wars: Episódio 8 – e estamos começando a respondê-la.


Luke e Yoda em Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980)
Luke e Yoda em Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980)

O Império Contra-Ataca… de novo?

Algumas declarações-chave de membros do elenco do Episódio VIII deixam transparecer sombras familiares no estilo do filme. De acordo com John Boyega, o filme de Rian Johnson é “maior e mais sombrio” que O Despertar da Força, enquanto Oscar Isaac, o Poe Dameron da série, insiste que o filme contém uma complicada “provação para todos os personagens”. Essas frases específicas despertam uma memória muito familiar que pode indicar que a nova trilogia vai continuar “homenageando”, em muitos sentidos, a estrutura da primeira.

Para refrescar a memória, no Star Wars original de 1977 conhecíamos Luke Skywalker, um órfão em um planeta desértico que descobria ter a Força dentro de si, um antigo e poderoso poder cósmico que estava quase todo perdido no universo, dividido entre partidários do dominante e terrível Império e membros da Aliança Rebelde, que se opunham ao governo de mão-de-ferro do Imperador Palpatine. Em O Império Contra-Ataca (1980), a continuação, Luke aprendia os caminhos da Força com o Mestre Yoda enquanto vários de seus amigos passavam por poucas e boas, inclusive sendo capturados pelo Império no final – levando ao confronto climático entre Luke e Vader.

Império era um filme bem “maior e mais sombrio” que o Star Wars original, ganhando elogios de sobra dos fãs, inclusive, por isso. Se a ideia da nova trilogia é replicar a dinâmica da original (mesmo que se distancie em trama), é possível que a contratação de Rian Johnson, ele mesmo um diretor com experiência em pastiches de film-noir (A Ponta de Um Crime), ficções científicas urbanas (Looper) e histórias um tanto quanto perturbadoras (o episódio “Ozymandias”, de Breaking Bad), tenha sido um tiro certo. Um episódio VIII possivelmente intitulado Fall of the Resistance, ou Queda da Resistência, com um tom parecido com o de O Império Contra-Ataca não surpreenderia, mas provavelmente agradaria aos fãs.

Os Cavaleiros de Ren
Os Cavaleiros de Ren

Perigo no ar

Enquanto isso, dicas sobre uma cena em particular de Star Wars: Episódio 8, provavelmente a primeira do filme, pipocam à toda pela internet. De acordo com várias descrições vazadas, a cena teria Luke, Rey e o Mestre Yoda conversando sobre a origem da ordem dos Jedi, algo nunca explicado na mitologia oficial de Star Wars. Segundo os dois mestres, uma Árvore da Força existia na frente da casa de uma família, milênios atrás, e dois irmãos viviam perto dela, desenvolvendo estranhos poderes pela proximidade. No entanto, o irmão acabou se voltando contra a irmã e, em uma virada à la Caim e Abel, tentou mata-la – só o que a manteve viva foi o poder da árvore, o que fez a menina em seguida fundar a ordem dos Jedi e prometer retornar um dia em reencarnação.

Presume-se, é claro, que o irmão seduzido pelo Lado Negro da Força tenha fundado a ordem dos Sith, e desde então o conflito entre trevas e luz tenha sido travado, ambos originados de uma mesma fonte. Conforme Luke e Yoda contam para Rey, os Jedi achavam que Anakin era a reencarnação da garota, mas agora Luke tem certeza de que é Rey – ele a diz que agora ela tem uma escolha a fazer, mas antes do pôr-do-Sol os cavaleiros de Ren, na companhia do próprio Kylo, os encontram e começam uma batalha. O vilão interpretado por Adam Driver foge depois de Luke derrotar todos os Cavaleiros, mas não sem antes aparentemente empurrar Rey de um penhasco – é improvável que a moça morra, mas não sabemos o que acontece com ela após isso.

Claro, tudo isso pode não passar de um rumor, mas a ideia de que as Árvores da Força terão um papel importante na trama parece consolidada, especialmente com fotos do set de filmagens na Irlanda que incluem a construção de uma enorme árvore artificial. Os rumores ainda indicam que Luke mostra à Rey seus pais, negando a popular teoria de que Rey é filha do próprio Mestre Skywalker. J.J. Abrams já disse anteriormente que a paternidade de Rey seria importante, mas outros fãs já especulam, graças a uma passagem em um livro da saga em que Luke entrega a muda de uma Árvore da Força para uma mulher plantar, que a importância do passado da moça pode residir no fato de que ela foi criada perto de uma dessas plantas místicas (possivelmente, junto ao ex-Stormtrooper Finn, interpretado por John Boyega).

Os teoristas mais esforçados ainda indicam que Luke pode morrer em Star Wars: Episódio VIII, graças a uma sutil dica deixada para trás pelo diretor Rian Johnson, que postou uma simbólica foto do figurino de Luke abandonado no set de filmagens, de forma parecida com o qual Obi-Wan Kenobi deixou o seu para trás ao morrer na trilogia original. Seria um choque que definitivamente traria o filme “mais sombrio” do qual tanto andam falando, e não é algo pouco improvável de acontecer, se você pensar bem sobre.

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As refilmagens fantasmas

Enquanto a produção do Episódio VII ainda engatinha, a sombra de Rogue One – Uma História Star Wars paira sobre a franquia muito mais perto. Se faltam 531 dias para o próximo capítulo oficial da saga, o primeiro derivado dela chega aos cinemas em apenas 166, e as muitas fotos, detalhes e declarações já dadas sobre o filme dão espaço para uma análise muito mais enfática: Rogue One será, efetivamente, muito mais sombrio, realista e tenso do que estamos acostumados a esperar da franquia.

A contratação de Gareth Edwards, o homem responsável por Monstros (2010) e Godzilla (2014), ambos elogiados por trazerem uma visão humana e “pé no chão” de histórias maiores que a vida, já indicava algo nesse sentido, e o clima sóbrio do primeiro trailer da produção, combinado com fotos que trazem uma invasão a uma praia comandada por stormtroopers, alguns deles um “novo tipo” de soldado que se veste completamente de preto, só confirmou as suspeitas. Com a sensibilidade de Edwards, e as declarações de fontes da Entertainment Weekly ligadas ao filme de que esse é um “épico de guerra”, Rogue One pode trazer um sabor novo à saga para habituar fãs caminhando em direção ao Episódio VIII.

A história da tripulação de rebeldes que é mandada para roubar os planos da primeira Estrela da Morte deve passar por temas familiares aos fãs de Star Wars, como problemas paternais (Mads Mikkelsen interpretará o pai afastado da protagonista feita por Felicity Jones), mas com uma luz mais realista. Não será uma aventura de folhetim, nem ficção científica pulp – será o teste para saber se, levada a sério como foi nos filmes dirigidos por Lucas entre 1999 e 2005, a galáxia concebida em Star Wars pode sustentar uma história com temas profundos e personagens complexos.

Se pode, Gareth Edwards e o formidável e diverso elenco formado por Forrest Whitaker, Riz Ahmed, Diego Luna e Alan Tudyk parecem ser as pessoas certas para o trabalho.

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Dicas paralelas

Nem só de Episódio VII e Rogue One vive o fã de Star Wars, no entanto. Se a franquia parece estar se dirigindo para um local mais sombrio, o filme derivado mostrando a juventude de Han Solo, saudado recentemente por um artista conceitual como “o melhor roteiro da saga”, deve resgatar um pouco do senso de diversão da saga, antes da estreia do derradeiro (por enquanto) Episódio IX. Com planos tão longos que alcançam até 2019, hoje em dia algo normal para grandes estúdios e marcas, Star Wars pode estar jogando uma complicada brincadeira de “mudança de tom” com o público.

O filme do Han Solo será dirigido pela dupla Phil Lord e Christopher Miller. Os ocupados cineastas e roteiristas americanos, que ascenderam à fama com a franquia Anjos da Lei e a animação Uma Aventura LEGO, são obviamente especializados em entretenimento mais leve, e com o derivado do Han Solo marcado para chegar aos cinemas dia 25 de maio de 2018, um ano antes do Episodio IX e poucos meses depois do Episódio VIII, a aventura do jovem vigarista feito por Harrison Ford na trilogia original pode ser o ponto de virada pelo qual a Lucasfilm está procurando para trazer um episódio de conclusão mais otimista (não diferente de O Retorno de Jedi) para a nova trilogia.

O plano parece repercutir também no recrutamento de Colin Trevorrow, de Jurassic World, para dirigir o capítulo final da nova saga. Trevorrow se mostrou um especialista em espetáculos empolgantes, mas que de certa forma jogam limpo com as regras do blockbuster americano – até seu independente filme de estreia, Sem Segurança Nenhuma (2012) se mostra um feel-good movie no final. Se o plano é seguir um espelho da linha narrativa emocional contida na trilogia original, tratam-se de boas escolhas para completá-lo.

E aí, será que desvendamos os planos da Lucasfilm? Só o tempo dirá – e, no caso, muito tempo, como dissemos lá no começo do nosso artigo. Afinal faltam nada menos do que 1056 dias para o lançamento do Episódio IX, que concluirá essa impressionante série de novos filmes que revitalizaram a franquia. São 25.344 horas, ou 1.520.540 minutos, ou… bom, você já entendeu. É melhor esperar sentado.

A Olhar Geek volta na semana que vem em seu dia normal, terça-feira (05).

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