Séries

Demorou, mas com Mr. Robot e Silicon Valley, a TV finalmente abraça a tecnologia

Hollywood tem o hábito de chegar atrasada para as mudanças da sociedade. O progresso lento que estamos vendo com representatividade LGBT e desconstrução de racismo é um exemplo claro disso, e a forma como filmes e séries de TV lidam com a tecnologia é outro. Enquanto o mundo está vivendo 24 horas por dia conectado, Hollywood ainda tenta aprender como introduzir isso em suas histórias de um jeito que não arruíne suas produções.

Mr. Robot e Silicon Valley conseguiram. O drama do canal americano USA e a comédia da HBO são duas das séries mais conscientes tecnologicamente hoje em dia, mesmo que a comunidade que representam (hackers e investidores de empresas tecnológicas, respectivamente) ainda tenha alguns detalhes para corrigir. Em uma cena de Silicon, por exemplo, os fãs reclamaram que o personagem Elrich Bachman errou uma complicada operação matemática – tudo no contexto de uma piada no meio do episódio.

Já os hackers que assistem Mr. Robot costumam dizer que as operações de invasão e sabotagem feitas pelos personagens são “rápidas demais”, não mostrando a dificuldade e os passos lentos do processo de hackear algum site ou sistema. Kor Adana, principal consultor tecnológico da série, se defende das acusações: “Nós tentamos ser o mais realistas possível, mas não vamos mostrar um personagem sentado na frente do computador por 30 minutos”, comentou em entrevista à Variety.

Silicon Valley
Silicon Valley

Os limites do realismo

A declaração de Adana levanta uma questão no mínimo interessante: quais são os limites do realismo na forma como a ficção mostra a era marcada pela tecnologia em que vivemos? John Reed, diretor de uma empresa que contrata talentos para várias companhias tecnológicas, comenta: “Nem todos os hackers são caras atormentados que usam capuzes, e nem todas as empresas de tecnologia do Vale do Silício estão cheias de caras engraçados e coloridos. O mundo da tecnologia pode ser tedioso sob um ponto de vista, e tanto Mr. Robot quanto Silicon Valley ‘consertam’ isso, porque são ficção”.

Manter uma impressão de realismo, no entanto, é uma preocupação constante tanto narrativa quanto comercialmente, visto que a relação dessas séries com o seu público melhora se seus roteiros não forem cheios de furos tecnológicos. Silicon Valley emprega quase 200 pessoas em seu time de consultores de roteiro, enquanto o chefe do grupo empregado em Mr. Robot, Kor Adana, já brigou com os produtores por detalhes pequenos como as telas erroneamente desligadas de computadores no fundo de uma cena.

Chris Cantwell e Christopher C. Rogers, showrunners de outra série focada no mundo tecnológico, Halt and Catch Fire, da AMC, contam que nenhum esforço parece ser o bastante: “Não importa quão extensa é a nossa pesquisa, sempre vamos ter um errinho ou outro, e sempre vamos ser criticados na internet por isso”, disseram à Variety. “No final das contas, confiamos mais nos nossos consultores e nos elogios que recebemos de gente que viveu o calor dessa época que retratamos [o boom das empresas tecnológicas nos anos 1980]”.

StartUp
StartUp

O novato

A próxima grande produção da TV americana dedicada ao universo tecnológico é provavelmente StartUp, que estreia no Crackle no próximo mês de setembro. Conduzido pelo showrunner Ben Ketai, que se descreve como “o cara menos ligado em tecnologia que você vai conhecer”, a premissa da série se baseia em uma invenção que ainda não foi feita no mundo real, mas pode muito bem acontecer: uma “moeda virtual” que supere as notáveis deficiências do tão criticado BitCoin.

“Está 100% no campo da possibilidade real, mas ainda não aconteceu. E se eu pudesse inventar algo desse tipo, não estaria aqui fazendo uma série de TV sobre isso”, riu Ketai em entrevista. A série aposta mais em sua fidelidade aos personagens e ambiente que retrata – a criadora da moeda virtual da série é uma filha de cubanos imigrantes que mora em Miami – do que na exatidão técnica.

São duas abordagens bem diferentes e saudáveis para uma Hollywood que precisa urgentemente começar a refletir o mundo em que vivemos, com todos os “dispositivos” atrelados a ele.

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