O Exorcista, versão televisiva bancada pela Fox mais de 40 anos depois do filme original que abalou o mundo e segue como um dos poucos filmes de terror premiados com Oscar, não quer reinventar a roda. É uma aposta segura e sólida da emissora, que vai entreter fãs do gênero ao mesmo tempo em que não traz nenhuma novidade a ele.
A trama do primeiro episódio é bem parecida com o filme original: conhecemos um jovem padre, Thomas, que dá sermões sobre a importância da dúvida como uma forma de aproximar de Deus e, secretamente, duvida de sua própria fé; Angela (Geena Davis) é a matriarca de uma família despedaçada que pede ajuda ao sacerdote porque acredita estar ouvindo barulhos estranhos dentro de casa.
O marido de Angela, interpretado por Alan Ruck (o Cameron de Curtindo a Vida Adoidado, acreditem ou não), está praticamente catatônico após um acidente, o mesmo que deixou a filha mais velha do casal em profunda depressão. Apenas a mais nova, Casey, se apresenta como um raio de Sol na vida da mãe. Para ajudar Angela (e seguir a trama do O Exorcistaoriginal), o Padre Thomas pede ajuda a outro sacerdote mais experiente e amargo, o Padre Marcus (Ben Daniels).
Assombrações modernas
De forma bem contrária ao O Exorcista dirigido por William Friedkin em 1973, no entanto, a nova série se apóia bastante em sustos simples (conhecidos por jump-scares), mas também capricha na atmosfera. O Exorcista, nas mãos diretor Rupert Wyatt (Planeta dos Macacos: A Origem) é tenso e solene, se leva mortalmente a sério, e é eficiente em provocar desconforto no espectador.
A série pondera seriamente a existência de Deus, a forma como traumas podem despedaçar famílias sem aviso, e questiona a sanidade de Angela tanto quanto ela própria, o que a sempre espetacular Geena Davis representa com garra. Em atuações menores, Ben Daniels e Alfonso Herrera (Padre Thomas) se perdem em dramatizações exageradas e deixam toda a tensão de O Exorcista um pouco demais para suportar.
Do jeito como é escrita Jeremy Slater (Quarteto Fantástico, o reboot de 2015), a série erra um pouco no tom – sufocada por sua própria vontade de ser atmosférica, O Exorcista não encontra espaço para respirar e nos envolver com seus personagens, ou mesmo mostrar qual é o ponto conceitual que está tentando fazer.
A promessa de uma grande série baseada em um grande filme (e, aliás, um grande livro) está aqui, e talvez valha a pena acompanhar para ver se ela eventualmente floresce, mas por enquanto O Exorcista não traz nada de novo para o gênero explorado à exaustão por Hollywood.