ATENÇÃO PARA SPOILERS DA SÉRIE A SEGUIR!
Black Mirror tem sido um fenômeno de qualidade desde sua estreia, cinco anos atrás, na TV britânica. A série de Charlie Brooker é uma esperta reflexão de nossos medos, inseguranças e fantasias sobre a tecnologia e as mudanças que ela traz. Apesar de ter só 1 hora por episódio, a antologia é capaz de estabelecer um mundo a cada capítulo, o que é de fato um fenômeno.
A verdade é que Brooker não é tão obcecado por tecnologia quanto ele é obcecado pelos cantos escuros da natureza humana. Black Mirror é mais sobre como usamos a tecnologia do que é sobre ela mesma – como toda ótima ficção científica, os humanos são os mesmos, mas circunstâncias mudam, e com elas novas partes dessa nossa natureza aparecem.
A nova temporada (a terceira), que pulou do Channel 4 britânico para a Netflix, não é muito diferente. Black Mirror ainda é falha, maravilhosa, pessimista, impressionante e fascinante, tudo ao mesmo tempo. Falha porque muitos dos episódios não parecem merecer os finais chocantes que encontram, apesar dos segundos atos geralmente angustiantes que mostram as consequências das ações dos personagens.
Mudanças
O grande contraste com os novos episódios da Netflix de Black Mirror é que, com um número maior do que nunca, Brooker pode apresentar um panorama geral além de um monte de histórias isoladas. “Hated in the Nation” é uma história de detetive com clichês de filme B; “Shut Up and Dance” é um thriller de ação; “San Junipero” é um romance; e por aí vai. Black Mirror parece estar buscando uma visão mais completa dos gêneros e visões do futuro do que antes, e isso é muito bom.
O episódio destaque é provavelmente “Nosedive”, estrelado por Bryce Dallas Howard e dirigido por Joe Wright (Orgulho e Preconceito). Contando a história de uma jovem insegura em um mundo onde um aplicativo reúne as “notas” que as pessoas te dão em todas as suas atividades, o episódio é Black Mirror em seu melhor, exagerando e refletindo uma característica muito real da nossa relação com a mídia social hoje em dia (no caso, a obsessão pelo número de “likes”).
Às vezes, o discurso de Black Mirror pode parecer um pouco arrogante, como se quisesse nos dar lições sem ter exatamente uma superioridade moral para isso. Em “Hated in the Nation”, o discurso social de ativistas on-line e a vigilância governamental se interligam de maneira impressionante, a série escolhe certo ao examinar a forma como a polícia, por exemplo, está despreparada para lidar com ameaças on-line.
O discurso muda, surpreendentemente em “San Junipero”, onde uma dupla de turistas em uma cidade estranha encontra um lado positivo da tecnologia. Sim, isso mesmo que você leu. Um lado positivo da tecnologia, em Black Mirror! Embora não tenha exatamente um final feliz, o episódio é um bom lembrete para quem o assiste, afinal, em uma plataforma de streaming como a Netflix.