ATENÇÃO PARA SPOILERS DA SÉRIE!
The Crown, série em 10 episódios que chega à Netflix, não é exatamente o tipo de história de monarquia que estamos acostumados a ver nos cinemas ou na TV. Ela definitivamente não é Game of Thrones, com seus golpes violentos e propensão a cenas quentes, e não é nem mesmo uma daquelas narrativas sobre períodos turbulentos da monarquia britânica, como o reinado de Henrique VIII e seus casos com as duas irmãs Bolena.
Ao invés disso, a série escrita por Peter Morgan, que já lidou com a monarquia moderna em A Rainha, filme que rendeu o Oscar à Helen Mirren, prefere tomar seu tempo para analisar outros aspectos dessa instituição antiquada que está no centro de The Crown e como ela funcionava nos anos 50, uma década pós-Segunda Guerra e pré-revolução hippie.
A série demora um episódio e meio para mostrar a morte do pai de Elizabeth, o rei George VI (Jared Harris), aproveitando o tempo para comunicar a vida relativamente despreocupada que a futura monarca, interpretada pela excepcional Claire Foy, leva com seu marido, o Príncipe Philip (Matt Smith). Quando a notícia da morte de seu pai chega para a protagonista de The Crown, já temos uma visão sólida de quem ela é até aquele momento de sua vida.
Outros tempos
A série da Netflix é reportadamente a mais cara da história da TV, com orçamento bem acima de US$100 milhões de acordo com vários veículos de mídia. O gasto é bem aplicado na produção, que tem visual cinematográfico e escala impressionante, e não poupa despesas em atores experientes que elevam o material de The Crown, como John Lithgow, que faz um Churchill velho, cansado e ainda excepcional.
O maior acerto de Morgan, no entanto, é a forma como ele se alinha com a época que retrata. É curioso ver como, ainda na era moderna, uma notícia de peso como a morte de um rei viajava devagar nos anos 50 – quanto George falece, Elizabeth e Philip estão em viagem, e notificá-la de que agora ela é a rainha é um suplício. Enquanto isso, a irresponsável irmã da monarca, Margaret (Vanessa Kirby) tem um caso com um homem casado – tudo sem a cobertura incessante dos tabloides.
Há disputas de poder e estratagemas políticos em The Crown, mas eles são coadjuvantes para um drama inteligente e humano que deriva prazer do espectador pela qualidade das performances da produção – ou seja, de forma marcadamente britânica, como os fãs de Downton Abbey bem sabem.
Se não é a experiência de fim de semana mais empolgante que a Netflix já proporcionou, ao menos The Crown coloca as montanhas de dinheiro do serviço de streaming para bom uso – e deve render alguns bons Emmys também.