ATENÇÃO PARA SPOILERS A SEGUIR!!!
Já se passou um ano desde o especial de Natal de Sherlock, e nada menos do que três anos desde o final da terceira temporada. Mas há quem diga que algumas coisas valem a espera. No caso de Sherlock, essa expressão popular não poderia ser mais verdadeira: a BBC fez valer todo o tempo do hiato, e o resultado da quarta temporada é incrível.
Meses antes da estreia da aguardada quarta temporada, os próprios protagonistas haviam comentado que o enredo seria mais sombrio sob diversos aspectos, e é exatamente isso que percebemos logo de cara.
Há, logo no primeiro capítulo, uma tensão crescente, já antecipada no final da terceira temporada, que extrapola todos os limites: à sombra de Moriarty, somos obrigados a lidar com a morte precoce de Mary e o rompimento aparentemente decisivo de Sherlock e Watson. Parece que tudo o que não deve acontecer, acaba se passando da forma mais cruel.
A forma com que a influência de Moriarty é colocada na série é genial. Fora dos holofotes desde os acontecimentos da segunda temporada, ele é introduzido em segundo plano, refletindo-se nos diversos casos do detetive, como uma teia de aranha com diversas ramificações. O que vemos é um Sherlock levado ao extremo limite, que já não sabe se está lutando contra si mesmo ou contra uma ameaça externa real.
De fato, Sherlock protagoniza uma das mudanças mais perceptíveis no enredo da quarta temporada, nos mostrando finalmente a faceta mais humana do detetive. Tal lado emocional já foi explorado na segunda metade da terceira temporada, onde ele se vê obrigado a discursar no casamento de Mary e Watson. Agora, precisamos lidar com um detetive não mais racional e centrado, mas que deixa a barba crescer e entra em depressão, que frequenta analistas e que precisa encarar o peso da própria culpa.
Não há mais espaço para tantas risadas. Acompanhando os casos explorados ao longo das temporadas, percebemos uma tendência mais generalizadora. O que era quase uma diversão em Um Estudo em Rosa (adaptação magistral de Um Estudo em Vermelho), agora dá espaço a casos de grandes proporções, que se entrelaçam de maneira ameaçadora. Até mesmo a presença da filha de Watson e Mary, Rosemund Mary, traz um tom mais sóbrio aos capítulos. Há, agora, muito mais em jogo – um ser humano indefeso.
No mais, a quarta temporada consegue aprimorar uma série que já era exemplar, e acerta ao adotar um tom mais adulto, explorando com sobriedade e sem adornos a fraqueza do homem e a necessidade de se cultivar amizades até nas horas mais sombrias. Afinal de contas, somos só humanos, até mesmo Sherlock Holmes.
Quem leu o conto O Problema Final, de Sir. Arthur Conan Doyle, sabe muito bem o tom nostálgico que a história implica. E o último capítulo nos traz exatamente essa sensação. Depois de tantas reviravoltas, somos levados a pensar “então tudo acaba assim?”.
A verdade é que tanto no livro quanto na série, a resposta é aquela que menos nos agrada: “não sabemos”. De fato, podemos esperar tudo de Sherlock Holmes. Sempre deve haver uma pontinha de esperança no peito do espectador – ou do leitor – de se surpreender com mais um plot twist desse detetive cheio de surpresas. E é essa pontinha de esperança que devemos manter até que uma possível quinta temporada seja finalmente confirmada, ainda que se passem mais longos anos – ao final das contas, se tratando de Sherlock, a espera vale a pena.