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Na Comic-Con mais fraca em anos, só a DC conseguiu empolgar

A Comic-Con do ano passado, 2016, foi a minha primeira como repórter de entretenimento. Não foi a primeira que acompanhei avidamente, no entanto, colado na tela do computador para ficar de olho nos lançamentos de trailers e novidades das grandes sagas e marcas do universo nerd. Praticamente desde que o Homem de Ferro voou pela primeira vez no palco da convenção, anunciando o filme que abriria os trabalhos da Marvel Studios lá em 2008, o evento se tornou parada anual obrigatória para qualquer amante de cinema que se preze.

Talvez por ter vivido essa era de ouro da Comic-Con, a edição 2017 tenha sido um pouco (ou muito) decepcionante. Eu poderia listar aqui os motivos pelos quais essa desaceleração do frenesi em torno de franquias de super-heróis, ficção científica e fantasia faz sentido: desgaste do público, momento de reinvenção das grandes marcas como Marvel e DC após passada sua primeira década no topo do mundo do entretenimento, e por aí vai. Nenhuma dessas justificativas apagaria o fato de que a Comic-Con 2017, para o que aprendemos a esperar dela, foi a mais fraca em anos.

Há de se perguntar, no entanto: em era de disseminação de informação on-line, rumores inescapáveis e ciclo de notícias 24h, quão obsoleta é a Comic-Con, de um ponto de vista jornalístico? O senso de comunidade experimentado pelos fãs por lá é inegável, e como convenção de fanáticos por entretenimento nerd, seu valor não pode e não deve ser diminuído pelo passar dos anos. Como centro de novidades e mina de ouro de divulgação para marcas como DC e Marvel, no entanto, seu valor diminui a cada ano. Especialmente se você não entende e se adapta à era em que está inserido.

Pôster de Vingadores: Guerra Infinita
Pôster de Vingadores: Guerra Infinita

Polêmica do ano

O costume da Marvel de manter exclusivos às convenções (seja a Comic-Con ou a D23, que aconteceu uma semana antes) vários dos materiais mostrados para os fãs durante os painéis pega mais mal a cada ano. Se em 2016 a prévia de Homem-Aranha: De Volta ao Lar ficou sem lançamento na internet, em 2017 a revolta foi exponencialmente maior por conta do trailer de Vingadores: Guerra Infinita, que já havia sido exibido na D23. Com filmagens finalizadas e a ansiedade atiçada pelas próprias estratégias de divulgação da Marvel, o público queria ver o que os fãs sortudos do Hall H viram – até agora, nada.

Artes conceituais de Capitã Marvel mostradas no painel também não foram liberadas on-line, assim como o vídeo em que Paul Rudd e Michael Peña recapitulam o universo Marvel e introduzem várias novidades de Homem-Formiga e a Vespa. O instinto é compreensível: encarando uma multidão de fãs que pagou caro para estar lá, a Marvel quer oferecer material exclusivo. Além de compreensível, no entanto, o instinto é também equivocado, porque parte do princípio que a exclusividade da informação é o que leva os fãs a saírem de casa. Falta humildade dos estúdios para reconhecer que a Comic-Con não é sobre eles.

A fim de manter o equilíbrio dessa análise, vale reconhecer: a DC também não colocou on-line a cena de Aquaman que estreou durante o seu painel na Comic-Con. Junto com a Marvel, colaborou para uma convenção pobre de novidades verdadeiramente engajantes, e não reportadas de segunda mão, para quem não estava de fato lá. O reconhecimento da Comic-Con de San Diego como um evento de porte e repercussão internacional é o que falta para ela empolgar da forma como empolgava anteriormente, quando lidar com essas barreiras e fronteiras entre nós e as novidades dos filmes que amamos era mais aceitável, porque o mundo não era tão conectado quanto é hoje.

Steven Spielberg no painel da Warner
Steven Spielberg no painel da Warner

Amém, Spielberg

Dito tudo isso, é fácil reconhecer que, informação reportada por informação reportada, as novidades da DC e do painel da Warner como um todo empolgaram mais – mesmo porque a competição não se esforçou tanto.

A Fox, com sua famosa cautela exagerada em relação à Comic-Con, não trouxe nenhuma novidade de seus filmes da franquia X-Men – sobrou para Noah Hawley, criador de Legion, série baseada no universo, soltar a informação de que um filme do vilão Doutor Destino, conhecido por enfrentar o Quarteto Fantástico, está a caminho. Essa notícia e o trailer de The Gifted, vindoura série conectada aos X-Men, não foram o bastante para empolgar.

A Marvel, por sua vez, anunciou que dois grandes nomes se juntaram a Homem-Formiga e a Vespa, uma de suas aventuras que devem estrear em 2018: Michelle Pfeiffer será Janet Van Dyne, mãe até então desaparecida da protagonista Hope Van Dyne, e dona do traje original da Vespa; e Laurence Fishburne será Dr. Bill Foster, o Golias, clássico personagem das HQs capaz de se tornar gigantesco. Revelou também que o filme da Capitã Marvel se passará nos anos 1990, antes até dos eventos de Homem de Ferro (2008), e que os vilões da vez serão os Skrulls, aliens metamorfos fundamentais na mitologia dos quadrinhos.

Deixou exclusivo para os fãs presentes na Comic-Con 2017 mais uma cena do empolgante Pantera Negra, que também está marcado para 2018, e deu um agrado a nós, pobres mortais, com o ridiculamente empolgante trailer de Thor: Ragnarok, que você pode ver mais abaixo. O filme de Taika Watiti sobre o deus do trovão promete virar a fórmula da Marvel de cabeça para baixo, o que é sempre bem-vindo.

https://www.youtube.com/watch?v=reptIoI1gCQ

Gostou desse resumão da apresentação da Marvel? Vamos então à DC: Em um alucinante vídeo de introdução, a editora anunciou todos os seus próximos projetos ao lado do estúdio Warner, que farão parte do universo compartilhado da editora. O filme solo do The Flash, que passou por trocas de diretores, foi rebatizado de Flashpoint e deve recontar a clássica história das HQs em que o velocista acorda em uma realidade alternativa – história já explorada na 3ª temporada da série de TV do herói.

A DC oficializou a produção de Mulher-Maravilha 2 após o sucesso estonteante da primeira aventura da amazona, assim como Esquadrão Suicida 2. Reconfirmou sua intenção de fazer Shazam, filme do Capitão Marvel (que, estranhamente, pertence à DC), e anunciou o diretor David Sandberg (Annabelle 2) no comando. Sereias de Gotham, Tropa dos Lanternas Verdes, Batgirl, Asa Noturna e The Batman também estão a caminho, embora não tenham recebido novidades.

A joia da coroa foi o novo trailer de Liga da Justiça, recheado de imagens estonteantes conjuradas pelo diretor Zack Snyder e seu fotógrafo Fabian Wagner (Game of Thrones). Confira a prévia mais abaixo, que tem um equilíbrio perfeito de revelações sobre a trama e climatização, habituando o espectador ao ritmo alucinante impresso por Snyder ao filme do supergrupo. É difícil sair do trailer sem um sorriso no rosto.

Em muitos sentidos, Marvel e DC foram equivalentes na Comic-Con 2017. Novidades abstratas de filmes que estão por vir para os próximos anos, materiais empolgantes reservados exclusivamente para os presentes na convenção, e um aceno aos fãs com um trailer espetacular para o filme que deve movimentar seus respectivos universos no final de 2017. A DC empolgou mais pela qualidade do material que apresentou, e porque teve a sabedoria de se aliar ao momento mais verdadeiramente exitante da Comic-Con: a apresentação de Jogador Nº 1.

Se fosse para decretar o real vencedor da Comic-Con 2017, seria Steven Spielberg e seu novo épico de ficção científica. Com uma trilha-sonora ridiculamente bela de Alan Silvestri, o trailer que estreou durante a convenção está cheio de referências divertidas à cultura pop, e casa o senso de nostalgia da época em que Spielberg era rei do blockbuster americano com a inegável visão de futuro do cineasta, que provou ainda ser um mestre.

Saindo da Comic-Con 2017, a data mais aguardada por este que vos fala é 5 de abril de 2018, quando Jogador Nº 1 chega aos cinemas brasileiros. No evento mais fraco em anos, ver Spielberg de volta ao cinemão é como receber um velho conhecido em casa, aquele amigo capaz de animar qualquer festa “caidona”. Que bom que você veio, meu velho.

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