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Disney não comprou a Fox pelos X-Men, mas sim por causa da Netflix; entenda

A compra da Fox feita pela Disney nessa quinta-feira (14), é talvez uma das negociações mais caras e absurdas da história do cinema mundial. 52 bilhões de dólares foi o valor que Casa do Mickey desembolsou para ter os direitos dos filmes e produções televisivas da Fox. Essa negociata mudará a história de como o corporativismo de entretenimento e cultura pop seguirá adiante.

Essa notícia, claro, foi assimilada imediatamente pelos fãs da Marvel, pois assim poderão ver o universo cinematográfico da editora sendo completado com X-Men, Deadpool e Quarteto Fantástico. No entanto, será que foi esse mesmo o real motivo para a negociação ter sido iniciada há 18 meses e ter sido concluída? O foco total para essa aquisição foi realmente o universo da Marvel nos cinemas? Bem, avaliando em uma conjuntura mais ampla, macroeconomicamente, a compra que a Disney efetuou para com os estúdios Fox reserva na verdade um planejamento do conglomerado para com sua forma de distribuição e criação de conteúdo original.

Atualmente, qual empresa que possui conteúdo próprio e o disponibiliza integralmente em sua plataforma de streaming? Isso aí que você pensou. A negociata ocorreu e foi fechada com o intuito de que a Disney pudesse em médio e longo prazo, ser um concorrente extremamente forte à Netflix. O serviço próprio de streaming da Disney é um assunto que ficou famoso recentemente, alimentando pelas notícias das negociações e inflamado de vez após a confirmação do negócio fechado. Outra informação importante que tornou esse planejamento cada vez mais sólido é que a Netflix irá retirar todo o conteúdo da Disney de seu catálogo em 2019.

Eis a explicação definitiva. É foi, apesar de todo o assombro de ver a Disney se tornando um monopólio cada vez maior, acertada seguindo essa lógica. O conteúdo e a forma como disponibilizar ele ao público, principalmente de uma maneira cada vez mais direta e acessível, é o que moveu essa questão cada vez mais adiante, tomando uma força e proporção cada vez maior. Disney afora possui diversas franquias, marcas e fontes de conteúdo sobre seus direitos: Marvel, Star Wars, Pixar, talvez agora os X-Men, além do veículo de comunicação ESPN, que também produz conteúdo próprio. Esse domínio, essa ampla e vasta composição de conteúdo torna a Disney um monstro para a Netflix. Uma concorrência até mesmo desleal em alguns momentos, se for feita uma análise mais radical sobre esse passo enorme que foi dado.

Fox também vendeu à Disney uma das possíveis fontes de lucro – e um lucro absurdo – a franquia de filmes Avatar, planejada por James Cameron. Avatar, seu primeiro longa-metragem de 2009, ainda é o filme mais lucrativo da história do cinema, com mais de 2 bilhões de dólares em bilheteria. James Cameron agora possui ainda mais liberdade, e pressão, para conseguir trazer retorno financeiro a seus novos patrões. E quando perceber que seus filmes montarão a fortuna ainda maior da empresa, tudo poderá ser diferente.

De qualquer forma, essa fusão, compra, aquisição – chame do que quiser – mudará muitas coisas na continuidade da indústria cinematográfica e televisiva. Mas a base de toda essa movimentação foi em cima dos ideais de criação e divulgação dos produtos originais, de fazer um streaming de seu conteúdo próprio. É uma tendência agora, é talvez a evolução de consumo de conteúdo mais notória dos últimos tempos.

O acesso rápido, a instantânea imersão do público no conteúdo criado, seja ele original ou não. Hulu ainda é, por enquanto, a aposta da Disney para disponibilização de seus produtos e marcas, sendo eles atuais ou os que virão em sequência. O logo da Disney, o rosto do Mickey e suas orelhinhas estamparão quase que todo tipo de produto de agora em diante. E isso assusta, de certa maneira. Principalmente a concorrência, como a Netflix, que se vê percebendo uma mudança de tom nesse cenário que ela mesma acabou criando. A concorrência é iminente, aparece em algum momento. Desleal ou não, ela forçará reavaliações e reformas nas maneiras de criar um conteúdo e compartilhá-lo.

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