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Crítica | Troia: A Queda de uma Cidade - 1ª temporada

Por mais que não estejam entre o maior número de produções no ambiente televisivo, os seriados medievais sempre ocuparam um espaço devidamente representativo no que se refere a retratar fatos históricos de grande influência e importante repercussão em meio aos objetos de estudo, ou simplesmente retratando novas histórias em meio à ambientação medieval. Game of Thrones, é claro, populariza hoje este gênero, que antes da popular série da HBO, já marcava sua presença em meio as grandes produções com títulos reconhecidos entre o público massificado como The Tudors, Spartacus, Roma e Vikings.

Também marcando seu território em meio a este nicho ambicioso, Troia: A Queda de Uma Cidade chegou hoje ao catálogo da Netflix como uma co-produção da gigante do streaming com o canal britânico BBC, e que decide recontar aos seus moldes um dos fatos mais importantes da antiguidade, a ascensão e queda da cidade Troia, tendo como base a perspectiva da família real até o ponto em que a cidade é cercada e atacada como consequência do envolvimento entre o príncipe Páris e Helena, que já era casa com Menelaus, rei de Esparta, e que antes daria à Paris a mão de sua filha em casamento.

É notório, claro, como o showrunner David Farr (do interessante suspense No Andar de Baixo) molda os oito episódios que compõem a primeira temporada através de um olhar técnico que pouco deve às produções de maior orçamento do gênero, o que lhe permite não economizar no explorar da direção de arte suntuosa e de cenários amplos e grandiosos, nos figurinos que denotam a preocupação desse departamento em recriar com fidelidade os aspectos das vestimentas daquela época, ou mesmo na fotografia dessaturada que auxilia na formação do quadro de urgência, violência e traições que imperavam naquela terra de reis. Farr também é inteligente ao manter grande parte dos mitos lendários cujos nomes reverberam até hoje na história moderna, como a presença do guerreiro Aquiles, aqui longe dos cabelos loiros e da pele branca que marcaram, por exemplo, presença de Brad Pitt no malfadado Troia. Como era esperado, a escalação de um ator negro, David Gyasi, causou polêmica mesmo antes da estreia do seriado.

A preocupação na retratação dos fatos históricos, é claro, agradará grande parte dos consumistas e estudiosos sobre este período, por mais que algumas novelizações e romantizações se façam inevitáveis. O que parece faltar a Troia: A Queda de uma Cidade é, de fato, um trabalho mais cuidadoso e preocupado com o estabelecimento de seus personagens para além de suas representações histórias, mas como figuras que façam com que o espectador nutra alguma empatia e interesse por suas jornadas, e por mais que seus ares trágicos façam jus ao famoso poema A Íliada, por exemplo, falta aos oito episódios algo que impulsione o roteiro para algo fora de sua zona de conforto em apenas retratar aquele período com muita violência, sangue e a defesa da honra.

Sem essa complexidade que se faz necessária para que a primeira temporada ultrapasse a barreira do “feijão-com-arroz” das recriações em tela, algo surpreendente para os episódios de 50 minutos em que o show se divide, fica a impressão de uma visão empobrecida e pouco autoral sobre uma história que têm passado de geração em geração como uma das mais influentes sobre as motivações do homem para a guerra, a traição, a paixão e a defesa da honra. E por mais que o elenco faça seu trabalho correto (Jonas Armstrong, em especial, exibe um preparo físico impressionante para Menelaus, algo essencial para a presença imponente de seu personagem), há pouco em Troia: A Queda de uma Cidade que justifique uma aproximação maior com o que é apresentado.

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