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Crítica | This Is Us - 2a Temporada

Difícil definir o surgimento de This Is Us no meio televisivo como algo que não seja uma baita surpresa. Criada por Dan Fogelman e transmitida pela NBC, a primeira temporada que consistia numa crônica de diversos indivíduos absolutamente distintos que nasceram no mesmo dia e acompanhava a rotina conflituosa e familiar dessa amálgama de personagens em meio a um sentimento agridoce que permeia temas como família e amor, ambientando suas narrativas em diferentes épocas. Composta por 18 episódios, o primeiro ano de This Is Us também foi um bicho-papão nas premiações, abocanhando prêmios como o Emmy e o Globo de Ouro, e se tornando um arrasa-quarteirão da televisão americana.

Mas a primeira temporada terminou com pontas soltas e perguntas sem respostas, e em seu segundo ano, This Is Us aposta nesse fio condutor para dar início às novas desventuras de seus personagens, fio condutor este que é imediatamente desfeito logo em um dos primeiros episódios, que se refere ao mistério que cercava a morte de Jack (Milo Ventimiglia) ainda na adolescência dos trigêmeos, o que garante uma expansão mais acalorada para esta segunda temporada se sustentar no que a galeria de personagens têm a oferecer.

E por mais que em seu segundo ano This Is Us capriche na evolução natural das premissas iniciais (especialmente em relação aos trigêmeos), é louvável como os roteiristas não se fixam nesses pontos de partida (Randall quer adotar uma criança, Kate corre atrás de seus sonhos no universo musical, e Kevin corre atrás de suas ambições na vida profissional), trabalhando em cima de situações que refletem o frescor e a imprevisibilidade da vida ao acaso, um ponto-chave para uma série que aborda com tanto gosto o cotidiano da vida.

O segundo ano mantém Kate, Kevin e Randall como o principal ponto de segmento do roteiro, e é consistente em conferir uma evolução natural nos conflitos que havíamos acompanhado na primeira temporada. O núcleo de Randall, em especial, ganha contornos válidos quando não apenas a adoção de Deja (Lyric Ross), uma jovem com histórico familiar problemático, se torna seu novo conflito, como também os efeitos dessa atitude se estendem para além do próprio personagem, influenciando na interação com sua esposa Beth (Susan Kelechi Watson) e as duas filhas biológicas, Tess (Eris Baker) e Annie (Faithe Herman), ambas apagadas anteriormente, mas que agora ganham novas complexidades quando o roteiro lhes confere um olhar maduro e sensível seus próprios crescimentos, algo que deverá ser explorado com mais afinco na terceira temporada.

E se os problemas de obesidade eram o que definia Kate na primeira temporada, aqui há um desvio de curso mais do que bem vindo para seu conflito original, com a atenção agora voltada para sua vida profissional, ao mesmo tempo em que precisa lidar com uma gravidez não-planejada, o que irá lhe levar a uma aproximação conturbada com sua mãe, Rebecca (Mandy Moore), numa abordagem de contornos bastante emocionais.

Kevin igualmente surpreende quando sua linha narrativa, que de início abusa de segmentos um tanto banais e fora da realidade proposta como um papel num filme com Sylvester Stallone e a retomada de sua relação com (Alexandra Breckenridge), e quando menos nos damos conta, o personagem já enfrenta problemas com medicamentos e se vê diante da necessidade de uma reabilitação, o que garante um olhar mais pesado sobre a instabilidade de Kevin em sua carreira.

A tríade de personagens chega ao seu ápice nos episódios intitulados “Number One”, “Number Two” e “Number Three”, onde o roteiro os leva a situações limite e explora individualmente cada um para esclarecer de vez a morte de Jack, numa virada tão sagaz quanto inteligente do roteiro em criar sua própria dinâmica na forma como cada um dos irmãos nos guia pela montanha russa emocional da série, dando continuidade a muito do que já fora semeado anteriormente e ligando de forma funcional as pontas soltas que irão esclarecer este mistério e os efeitos de seu esclarecimento.

O encerramento da segunda temporada de This Is Us, por mais que aconteça no clichê da felicidade novelesca de um casamento, deixa resguardado uma série de abordagens que deverão ser levadas adiante no terceiro ano da série, como a depressão de Toby (Chris Sullivan), marido de Kate, o envolvimento de Rebecca com Miguel (Jon Huertas) e uma inesperada linha do tempo no futuro que irá acompanhar a vida da família Pearson em uma nova fase. E o melhor de tudo, tal ambição é justificada dentro de um seriado que soube como evoluir tão naturalmente com seus personagens e conflitos. Um drama completo que ainda promete muito pela frente.

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