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Luke Cage | Crítica - 2° Temporada

Diferente do que têm acontecido na tela grande, as produções de Marvel fora do cinema visivelmente se esforçam para que suas produções funcionem de forma isolada, pessoal, destacando o individualismo de cada protagonista em sua respectiva série, por mais que os crossovers sejam inevitáveis, como Os Defensores nos comprovou. De qualquer forma, por mais que haja interligações para o público mais fiel, Jessica Jones soube como caminhar com as próprias pernas, tal qual o Demolidor, o (massacrado) Punho de Ferro e nosso herói em questão, o honrado Luke Cage, cujos novos episódios chegam ao streaming da Netflix no próximo dia 22.

Em sua segunda temporada, Luke Cage se assume como uma extensão de grande parte dos conflitos que marcaram a primeira leva de episódios sobre o personagem que, de volta ao Harlem após os eventos de Os Defensores, segue com a mídia em sua cola enquanto a máfia da cidade cresce e se torna mais poderosa, o que colocará novamente o mais indestrutível do grupo em dilemas morais, sacrifícios e o repensar sobre o que é realmente ser um herói. Algo de diferente até aí?

O charme do retrato de heróis como Luke Cage, assim como todos Os Defensores, está na identidade de justiceiro urbano intensamente conectado ao caos cotidiano de sua cidade, o que lhe confere uma humanização imediata, assim como um forte toque de vulnerabilidade emocional. Luke Cage é tão humano quanto nós. A primeira temporada era eficiente na lapidação metódica desse personagem, e os novos capítulos que dão seguimento a essa desconstrução mantém toda a desconstrução do herói enquanto mito e símbolo. E símbolo de uma periferia.

Da mesma forma, e infelizmente, os problemas de Luke Cage seguem os mesmos. Há uma perda de ritmo notável em meio aos 13 episódios que compõem a temporada, algo já esperado, convenhamos, quando não há tanto assim para se contar em cerca de 50 minutos por capítulo. As influências dos acontecimentos anteriores são notadas, é claro, e é com felicidade que o roteiro honra esse processo de continuidade, mas há um claro desperdício de tempo em cima de tramas e outros personagens desnecessários, o que só comprova o quanto a partida do antagonista anterior Cottonmouth (um fantástico Mahershala Ali), por exemplo, fora prematura.

Dedicando-se a ter mais ação que sua primeira temporada (o piloto, inclusive, é dirigido pela nossa querida pantera Lucy Liu), Luke Cage se sai muito bem quando beneficia a ação física, de punhos e socos que apesar de um trabalho sonoro pouco impactante, são bem filmados e coreografados por uma equipe que, visivelmente, têm muito a oferecer em movimentação. Claro, o excesso de diálogos para surtir efeito em meio a pancadaria ainda incomoda e tornam alguns momentos anti-climáticos, mas a ação escapa um pouco da burocracia de movimentos que marcou a primeira temporada.

No limiar entre uma figura carismática mas mal trabalhada, Mike Colter segue fazendo o que pode mesmo com suas limitações enquanto intérprete, tentando suprir sua total ausência de desenvoltura dramática (alguém lembra do dramalhão risível após a morte de Pop na primeira temporada) com uma imponência física que impressiona. O incompreensível é o desleixo com que o roteiro ignora plots que só fariam enriquecer ainda mais o simbolismo do personagem, como os novos armamentos que seriam capazes de matá-lo, ou sua posição conflituosa perante a mídia, que rende bem menos do que poderia. E se, novamente, a série sofre com a ausência de um vilão mais marcante, a rede de traições e reconciliações que o roteiro oferece é bem escrita o suficiente para que o andar da carruagem não caia no risível e prenda a atenção.

Dividindo-se entre não ser melhor e nem pior que sua primeira temporada, Luke Cage ainda entrega tudo o que promete para quem já foi fisgado pelo universo elaborado pela Marvel ao lado da Netflix, por mais que, para isso, alguns equívocos e sub-aproveitamentos sejam inevitáveis. De qualquer forma, Luke Cage ainda é enérgica e violenta, como deve ser.

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