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O Bosque | Crítica - 1° Temporada

Reciclagens de fórmulas, narrativas ou identidades visuais nunca representaram exatamente um problema para o bom aproveitamento de uma série ou filme, e o ponto de Aquiles sempre esteve por detrás da mente criativa que estaria usando todos estes clichês ao seu favor. Uma ideia já repetida exaustivamente ainda pode render ótimos frutos quando cai nas mãos certas e que consigam ser compreensivas com o material a ser desenvolvido, e tantos anos de indústria vital certamente nos comprovaram isso.

O Bosque, série de horror e suspense francesa que acaba de chegar ao catálogo da Netflix como mais uma de suas produções originais, se encaixa perfeitamente nessa linha de pensamento. Ambientada numa cidade pequena e isolada com uma floresta densa e cheia de histórias macabras a lhe cercar, a criação da showrunner Delinda Jacobs se desenrola como uma típica produção de teias investigativas com diversos segredos a serem desmascarados entre diversos rostos improváveis, reunindo personagens que atendem aos mais diversos estereótipos de qualquer cidade pequena no objetivo de confundir o espectador até o improvável culpado pelos acontecimentos ser desmascarado. Nada fora do lugar, mas O Bosque funciona justamente por saber pensar seus clichês em prol de uma narrativa que instiga através de recursos básicos, mas que fazem toda a diferença em meio a ambientação claustrofóbica do pequeno vilarejo.

No caso de O Bosque, a premissa parte de uma premissa tão banal quanto o desaparecimento misterioso de uma garota que irá desencadear diversos outros acontecimentos em meio a uma rede de mentiras e segredos, e qualquer comparação com Stranger Things, Dark ou The Rain não será mera coincidência. A série de Delinda Jacobs é bem mais linear e simplista que todos os outros títulos citados, e parte de seu mérito está justamente na consciência de que essa falta de grandiosidade e complexidade pode ser benéfica aos meros seis episódios que compõem esta temporada.

E se não há grandes personagens em O Bosque (grande parte deles é excessivamente unidimensional, é verdade), o que dificulta a aproximação do público com os conflitos mais intimistas dos laços existentes (o fator família é indispensável ao roteiro), é na construção de seu clima de mistério, paranóia e tensão crescente que tornam O Bosque um entretenimento acima da média. E se o episódio piloto se demora em demasia na elaboração do cenário para que os mistérios, de fato, possam começar a surgir, o restante dos capítulos se revelam um ótimo exercício de linguagem técnica e desenvoltura de detalhes, beneficiados por um trabalho de fotografia que mergulha as locações numa iluminação cinzenta, opressiva e sem cor, ressaltando o quanto aquela cidade tem a esconder em meio a sua história. O bosque do título, em especial, é mantido como uma espécie de pano de fundo para o que será trago à tona com o desaparecimento da garota, num enfoque inteligente e honesto na psique dos personagens, por mais que falte ao elenco algum intérprete que desperte alguma empatia junto ao público. Mas como dito, o que realmente importa em O Bosque é seu clima.

A inovação, é claro, jamais surge. E não que O Bosque corra atrás de se reinventar em alguma coisa, lhe exigir isso seria pedir mais do que a série realmente se dispõe a oferecer. Mas em dado momento incomoda o quanto o roteiro abusa de conveniências para que as respostas surjam para o público e personagens, uma jogada típico de produções dessa linha, que se atrapalham nas próprias pernas para que possam seguir em frente. A reunião descarada de estereótipos também dificulta a aceitação dramática da série, e poucos ali denotam alguma personalidade para que possam despertar qualquer empatia. Se O Bosque sabe como aproveitar os mais básicos dos elementos técnicos ao seu favor, lhe falta escopo para ser mais do que essa mera reciclagem de rostos e figuras que, inevitavelmente, caem na previsibilidade de suas ações. De qualquer forma, a ambientação é forte e faz valer sua bela distribuição de intensidade entre os 50 minutos de cada capítulo, que oferecem uma experiência visual e sensorial estimulante, mas banal no resto que a cerca.

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