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Good Girls | Crítica - 1ª temporada

Por Lucas Felipe

Em sua ânsia de expandir seu catálogo, a Netflix tem investido cada vez mais em produtos originais e na compra dos direitos de diversas obras, e muitas surpresas agradáveis veem surgindo dessa nova leva de lançamentos – a nova delas, Good Girls, chega em ótima hora.

Com cada vez mais discussões acerca do movimento feminista adentrando o cotidiano popular mundial, obras como esta tomam um lugar de maior importância entre os diversos filmes e séries que surgem toda semana, seja na Netflix, ou em outros tipos de mídia. Com mulheres trabalhando em diversas áreas da série, da direção ao roteiro, a série das boas garotas (não tão boas assim) conquista, principalmente, pela qualidade de seu texto e das performances de seu elenco.

Criada pela norte-americana Jenna Bans para o canal norte-americano NBC, a série conta a história de três amigas frustradas e em atribulações financeiras que se unem para planejar e executar um roubo a um supermercado, que deveria render dez mil dólares para cada uma. Elas só não contavam com uma gangue envolvida com o supermercado, o gerente assediador que sabe da verdade, e com os 500 mil dólares que o assalto rende, ao invés da quantia prevista.

Com um universo consistente, personagens carismáticos e uma boa crítica em relação ao lugar da mulher na sociedade, os dez episódios do primeiro ano de Good Girls trazem piadas hilárias (algumas nem tanto), uma boa qualidade técnica, e o principal, a humanidade das três protagonistas.

Christina Hendricks interpreta Beth, mãe de quatro filhos que decide se separar após descobrir a infidelidade do marido, o revendedor de carros Dean (Matthew Lillard, o eterno Salsicha dos live-actions de Scooby-Doo). Ela só não contava com o detalhe das hipotecas não pagas de sua casa, e as contas raspadas até quase o fim.

Mae Whitman dá vida a Annie, irmã mais nova de Beth. Caixa de supermercado recebendo 9 dólares por hora, é mãe de uma menina de onze anos que não se encaixa em seu gênero e sofre bullying na escola. As condições problemáticas de Annie são um alerta para seu ex-marido, Gregg, entrar na justiça contra ela pela custódia total da pequena Sadie.

Retta, aqui num trabalho mais dramático do que o comum em sua carreira, interpreta a garçonete Ruby, mãe de duas crianças que luta com seu emprego para pagar o tratamento da doença renal de sua filha, orçado em dez mil dólares mensais.

Somos introduzidos no primeiro episódio, de modo não-linear, ao roubo e tudo que levou até ele. Já conhecemos os dramas do trio protagonista, e alguns coadjuvantes. O roteiro ágil do piloto, escrito pela própria criadora da série, já mostra o conforto em criar empatia com o público, que logo passa a se divertir com as situações absurdas do roteiro.

Em diversos momentos também encontramos críticas ácidas através da comédia, como na cena em que o trio visita a avó de Boomer, o gerente babaca do supermercado, e Ruby faz todo o serviço, enquanto as brancas comem biscoitos e observam, também na cena em que os garotos brancos tentam humilhá-la no restaurante e não conseguem, ou nas diversas cantadas e investidas machistas de Boomer. As mulheres aqui apresentadas fazem inúmeras coisas, lidando com seus trabalhos, problemas pessoas e suas crises internas, enquanto cuidam dos filhos, demonstrando por várias vezes a versatilidade e força feminina para resolver seus problemas. A inteligência das três protagonistas somada aos bons twists guardados pelo roteiro consegue prender o espectador, de modo que uma maratona da série cai muito bem caso quem vá assistir opte por ela.

Além de tudo isso, ainda temos as divertidas referências à cultura pop, que vão desde Bonnie & Clyde até Onze Homens e Um Segredo. A comédia de erros que é Good Girls se destaca entre as outras por valorizar os dramas pessoais de suas protagonistas, trazendo momentos verdadeiramente emocionantes, como as sequências em que Annie consola Sadie após as sucessivas investidas de valentões contra ela.

Os destaques negativos ficam por conta dos personagens secundários unidimensionais que raramente tem a oportunidade de se sobressair ou adicionar camadas às suas próprias interpretações, a exemplo do agente Turner (James Lesure), que, em participação recorrente na maior parte da atração, só surge quando se faz necessário e para repetir as mesmas situações ao longo dos dez episódios. A série acaba também por gastar muito tempo desenvolvendo situações paralelas, assumindo um formato desgastante que pode tornar os episódios longos além do necessário para parte do público. Funcionaria melhor com uma duração de trinta minutos.

Os últimos episódios recuperam sua agilidade e potencial dramático, encerrando de forma divertida este primeiro arco, e deixando um grande gancho para o próximo ano, já confirmado pelo canal da Universal Television. O finale, intitulado ˜Remix˜, guarda surpresas intensas nos momentos finais e certamente vai fazer você se perguntar durante todo o período de espera da próxima temporada: “Ela realmente vai fazer isso?!”

Good Girls lida com drama e comédia de forma poucas vezes vista no mainstream, e, com uma leve perda de ritmo ao longo dos episódios, consegue se recuperar como uma das melhores surpresas deste ano. Que venha a próxima temporada!

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