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Crítica | Spider-Man

O Homem-Aranha certamente foi um dos heróis que mais marcou presença nos games. Desde os tempos do primeiro PlayStation e do Nintendo 64, até a geração atual, vimos inúmeros exemplares de jogos do Aracnídeo, mas foi ainda na era do PS2 que fomos presenteados com o último game realmente memorável do personagem. Desde então, muitos tentaram recapturar a glória de Spider-Man 2, baseado no filme de mesmo nome, dirigido por Sam Raimi, mas nenhum acertou em cheio – até Spider-Man, exclusivo do PS4.

Estamos falando de uma época pós-Arkham Asylum, portanto muito caiu nas costas da Insomniac, que, na realidade, não tinha muito para onde correr quando se trata de jogos de super-heróis em mundo aberto. Acima de tudo, videogames são um processo em constante evolução, sempre se utilizando de acertos anteriores (nos melhores casos, é claro) e a obra aqui em questão não é diferente. Mas para um jogo ser realmente um marco, é preciso que ele traga, também, inovação, algo que Spider-Man consegue fazer, ainda que não completamente.

Logo nos minutos iniciais – o jogo não custa muito a nos jogar no mundo aberto de fato – meu grande medo era encontrar uma Nova York praticamente igual àquela que vimos lá 2004, no já citado divisor de águas que foi Spider-Man 2. Por um tempo, foi exatamente isso que vi, com algumas diferenças, claro, afinal, estamos falando de uma diferença de duas gerações de consoles. O grosso era o mesmo: balançar nas teias por Nova York, podendo ir até a missão principal, ou impedir crimes randômicos que pipocam pela cidade – até aí, nada que não foi feito antes.

Felizmente, ao completar poucas missões, o jogo vai abrindo mais e mais possibilidades do que se fazer, tornando essa uma aventura que realmente nos motiva a explorar cada detalhe, transformando drasticamente nossa visão dessa recriação surpreendentemente grande de Manhattan. Não mais somos limitados a crimes aleatórios e missões – ganhamos a oportunidade de coletar colecionáveis (todos trazendo referências à longeva História do personagem nos quadrinhos), tirar fotos de locais de destaque (que vão desde o Empire State, até a Torre dos Vingadores), realizar missões secundárias, que não se limitam às infames “fetch quests” (o típico vá até lá, pegue isso e me traga de volta), e muito mais.

Mas por que isso é tão importante? Evidente que gera mais conteúdo e, consequentemente, mais horas de jogo. Mas desde o início, sentimos como se estivéssemos inseridos em um universo muito maior. Existe um passado e um futuro dessa versão do Homem-Aranha, o que apenas nos deixa mais engajados ao game. Começam a surgir perguntas como: ele conhece os Vingadores, ou o Demolidor, Punho de Ferro? O que imediatamente nos faz querer descobrir mais detalhes – algumas referências estão ali meramente por serem referências, mas outras trazem informações ocultas, pequenos detalhes que deixariam qualquer fã dos quadrinhos com aquele sorriso no rosto.

Não bastasse essa sensação de recompensa ao encontrar tais informações mais “secretas” ao longo do jogo – cada uma dessas atividades secundárias nos traz recursos necessários para a melhoria dos equipamentos, ou para a criação de uniformes (são 27 ao todo). Com isso, Spider-Man acaba nos trazendo uma motivação extra para perseguirmos esses itens, ou pontos de interesse no mapa de Nova York – aliás, a forma como integraram os icônicos locais das HQs à progressão do game é simplesmente genial.

Possibilitando registrar esses momentos, a Insomniac nos brindou com um modo foto repleto de opções, que não apenas permitem o Cabeça de Teia a tirar selfies, com diferentes expressões no rosto (no caso a máscara), como oferecem diversas opções de customização, incluindo filtros, mudança no foco, ângulo, zoom e molduras, que nos permitem criar, ou recriar, capas de quadrinhos. Trata-se de algo completamente opcional, mas que, já nas horas iniciais, demonstra ser extremamente divertido, fazendo com que passemos horas e horas simplesmente preenchendo nosso álbum de fotos virtual.

Nada disso funcionaria plenamente, no entanto, sem boas mecânicas de movimentação e combate.

Em termos de movimentos pela grande Nova York, um jogo do Aranha nunca pareceu tão dinâmico quanto esse – o simples ato de balançar pelas teias na cidade é o suficiente para nos deixar vidrados por incontáveis horas e jamais nos cansamos de passear por aí, sempre em busca de coisas novas. Para ações mais específicas, que requerem um cuidado maior, contudo, o game deixa a desejar, especialmente ao mudar de uma superfície para a outra – mais de uma vez não conseguimos prosseguir uma escalada por causa de um mini obstáculo e a coisa fica ainda mais frustrante quando o herói simplesmente não é capaz de “grudar” em determinada superfície. Em geral são situações facilmente contornáveis, em outras, quebra nossa imersão completamente, como é o caso de muitas superfícies inclinadas.

É preciso salientar, também, que para pegar o jeito dessa movimentação, há uma pequena curva de aprendizado, mas nada que custe muitos minutos de jogo. Basta passar um tempinho explorando Nova York, para nos sentirmos à vontade com as mecânicas de movimento do game.

Já o combate é surpreendentemente mais complexo do que imaginei. Não estou falando de dificuldade – pois qualquer um habituado com games de ação facilmente entenderá o básico – e sim das inúmeras possibilidades dentro de cada conflito, seja em locais abertos ou fechados. Além dos inúmeros equipamentos, já mencionados anteriormente, que oferecem variadas e criativas formas de lidar com os inimigos, o Aranha já começa com habilidades que permitem encadear diversos e divertidos combos. Com o tempo, oponentes mais variados começam a aparecer – uns portando armas, outros escudos e etc – pedindo abordagens diferenciadas. O sentido aranha também está lá e funciona de forma similar à mecânica equivalente da série Arkham, sendo necessário, portanto, estar atento para todo o cenário em meio às lutas.

Assim sendo, uma abordagem mais furtiva pode facilitar determinados encontros consideravelmente, permitindo que neutralizemos alguns inimigos antes dos outros serem alertados. É bem difícil lidar com todos antes que qualquer um saiba que estamos ali, mas é uma boa alternativa para simplesmente cair de cabeça no combate. Dito isso, as mecânicas de furtividade são bastante simples e não há muito o que fazer a não ser passear por superfícies mais elevadas a fim de pegar os bandidos um por um. A Insomniac claramente poderia ter dedicado mais tempo a esse elemento do game, mas não é nada que comprometa nossa experiência consideravelmente – apenas uma oportunidade perdida.

Quando, enfim, sentimos que precisamos tirar um tempo de toda essa exploração e de bancar o Amigão da Vizinhança, nos resta pular para a história principal do game. Não a deixo por último por não ser envolvente e sim porque realmente há muito a se fazer no game, a tal ponto que ela soa como um elemento a mais, mas não necessariamente o grande foco – este eu colocaria no mundo aberto como um todo.

A trama de Spider-Man não foge muito do comum – bandidos atacam e o Aracnídeo está lá para salvar o dia. O que realmente importa são os detalhes, a construção de personagens como Peter, claro, Mary Jane, Tia May, dentre outros (evitarei os spoilers por aqui). Essas diversas relações do protagonista com os coadjuvantes realmente soa como algo natural, que se aproveita do conhecimento básico que qualquer tem sobre o personagem. Estamos falando de um Homem-Aranha já há anos “em serviço”, portanto algumas velhas mesmices são deixadas de lado, a favor de uma abordagem mais original (não totalmente, claro, estamos falando de anos de HQs) que acaba sendo mais envolvente.

Infelizmente, o mesmo cuidado em trabalhar os relacionamentos de Peter com Mary Jane, por exemplo, não foi demonstrado na maneira como lidaram com os vilões do game. A aposta da Insomniac claramente foi a quantidade de inimigos icônicos, o que não permite que mergulhemos na história de cada um deles – existem notáveis exceções, mas, como dito antes, não entregarei importantes detalhes da história. Por isso, em certos momentos, sentimos como se progredir com a história fosse mais uma necessidade do que, de fato, algo que queremos fazer. Felizmente, algumas boas surpresas sempre recapturam nosso engajamento com a trama como um todo.

Outro ponto que deixa a desejar são as batalhas contra chefes, que basicamente se resumem a repetir a mesma estratégia em específico repetidas vezes, com leve crescimento na dificuldade, a cada “fase” da luta. Somos brindados com algumas belas cutscenes e set pieces, mas nada que nos afaste da percepção de que tais lutas poderiam aproveitar mais das ótimas mecânicas de combate, sobre as quais falei anteriormente. Em razão disso, alguns confrontos podem terminar de forma realmente anticlimática, não correspondendo às expectativas de enfrentar determinado vilão clássico do Aranha.

São deslizes como esse, contudo, que acabam se perdendo dentro da amplitude desse game, que nos oferece incontáveis atividades secundárias, todas que, em conjunto com boas mecânicas, nos entregam uma experiência realmente formidável.

Spider-Man pode não ser o jogo perfeito, tampouco o melhor exemplar de game dessa geração, mas definitivamente configura-se como o melhor jogo do Homem-Aranha, sendo capaz de nos divertir por horas e mais horas – seja explorando Nova York, lutando contra bandidos, ou simplesmente tirando fotos por aí. Temos aqui um game que realmente nos faz sentir como se fôssemos o Amigão da Vizinhança – não podemos pedir muito mais que isso.

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