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Por que a temporada final de Game of Thrones foi a pior

Em uma segunda-feira com cara de ressaca, os fãs de Game of Thrones estão extremamente decepcionados com o desfecho da série. Após oito temporadas e nove anos acompanhando a produção da HBO, a impressão que fica quando olhamos as reações é a de que D.B. Weiss e David Benioff estragaram a criação de George R.R. Martin – que é produtor da série -, com apenas algumas exceções entre reações positivas.

Era óbvio que o final de Game of Thrones não poderia agradar a todos, e o próprio George R.R. Martin havia adiantado há alguns anos que a conclusão seria agridoce. Ele mesmo já estava prevendo e contando que o desfecho da história iria provocar reações diversas e extremas. Mas ainda que eu seja um dos poucos que tenha ficado satisfeito com o final adotado pela série, também não sou ingênuo e reconheço que a oitava temporada foi, sem sombra de dúvida, a pior de toda a série. 

Batendo novamente nesta tecla, o grande inimigo da oitava temporada de Game of Thrones foi o tempo. Neste ano tivemos apenas 6 episódios, e mesmo que a maioria deles tenha uma duração mais longa do que os habituais 50 minutos, ainda era muito pouco para o que David Benioff e D.B. Weiss queriam contar e explorar tão tarde no jogo.

O próprio episódio final, que por mais que tenha sido competente em sua execução e direção, mais pareceu como um apanhado para amarrar pontas. Gastou um pouco de tempo a mais em cenas mais imediatas, e ofereceu um salto temporal estranho que ocultou diversos momentos que teriam sido importantes de terem sido vistos: especialmente a formação do encontro entre todos os lordes, que acabam apontando um novo Rei para Westeros.

O problema com Daenerys

Dentre todas as correrias na temporada final de Game of Thrones, a grande reclamação fica com o arco de Daenerys Targaryen. De quebradora de correntes e grande ícone dos fãs nas primeiras temporadas de Game of Thrones, a personagem de Emilia Clarke foi bruscamente transformada em uma figura vilanesca e insana – queimando Porto Real e diversas pessoas inocentes em seu ataque. Muitos fãs criticaram essa decisão, acusando David Benioff e D.B. Weiss de descaracterizarem completamente a personagem, mas o problema não é bem esse.

Como narrativa, faz sentido. O problema, infelizmente, é o tempo apressado demais. O início da paranoia e mudança de ar da personagem aconteceu praticamente de um episódio para outro, suportado pela revelação de que seu “amado Jon” (me perdoem os Jonerys, mas esse romance besta nunca colou), e as mortes recentes pelas mãos dos mortos e Cersei. Foram diversas perdas e ataques psicológicos a Daenerys em pouco tempo. Por mais que faça sim sentido narrativamente, foi uma mudança muito brusca e sem o desenvolvimento necessário para que trouxesse o impacto necessário.

Há quem diga que toda essa pressa narrativa, – que sejamos sinceros, começou já na temporada passada com os saltos geográficos e encontros repentinos – seja consequência da ausência dos livros de suporte. Como bem sabemos, a série cobriu apenas os primeiros 5 livros de As Crônicas de Gelo e Fogo, com os dois últimos volumes ainda em longo desenvolvimento por George R.R. Martin.

Claro, não é como se Benioff e Weiss simplesmente inventassem o que acontece na série após os eventos dos primeiros livros; Martin é produtor executivo de Game of Thrones e obviamente enviou todo o material sobre o desfecho de cada personagem para a HBO. Não é nada absurdo, porque a maioria das decisões (mesmo as mais absurdas) parecem corretas, mas não ganharam o suporte necessário: vide a loucura de Daenerys, a morte súbita do Rei da Noite, e a virada apressada de Jaime Lannister.

Talvez nos futuros (hipotéticos?) livros, Os Ventos do Inverno e Um Sonho de Primavera, todas essas decisões façam sentido. Mas até mesmo o próprio Martin afirmou que achava que Game of Thrones precisaria de mais tempo para dar conta de todas as narrativas, e isso realmente é verdade quando assistimos aos novos episódios.

Além das controversas decisões para seus personagens, é necessário fazer uma observação polêmica sobre a temporada final de Game of Thrones: espetáculo. Fomos prometidos as maiores batalhas e cenas de ação da história da televisão, e tudo foi por água abaixo quando o grande episódio da guerra contra os Caminhantes Brancos foi indesculpavelmente mal fotografado. Claro, o padrão de direção da série ainda garante grandes cenas, de nível cinematográfico (basta olhar para a execução primorosa na sequência em que Daenerys invade Porto Real), mas quem esperava por outra Batalha dos Bastardos ou Invasão de Água Negra, certamente ficou decepcionado.

Por mais que o final tenha sido razoável e satisfatório – e que hajam bons momentos aqui e ali – não há como negar que a temporada final de Game of Thrones seja a pior da série

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